'Era a única escolha', diz artista afegã que veio ao Brasil para fugir do Talibã

Por Patrícia Nunes e Marcela Morone em 03/07/2023 às 06:00

Santa Cecília TV
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Um regime extremista e direitos básicos negados. Essa é a realidade da qual a artista Frozan Sediqi, de 28 anos, teve que escapar em seu país natal, Afeganistão. Desde que o Talibã assumiu o poder no país em agosto de 2021, a população afegã vem vivendo dias de terror — Frozan, por ser fortemente ligada a movimentos dos direitos das mulheres, virou alvo do regime e teve que fugir pois viu sua vida em perigo.

Frozan chegou em terras brasileiras há apenas vinte dias, pelo Aeroporto de Guarulhos, onde estava acampada antes de se realocar para a colônia de férias do Sindicato dos Químicos na última sexta-feira (30). No aeroporto, ainda viveu dias difíceis antes da ajuda chegar.

“Nos primeiros dias todas as famílias [que estavam acampadas] enfrentaram muitos problemas ao ficar no aeroporto por tanto tempo. Alguns enfrentaram problemas de pele e saúde porque [a temperatura] do ar condicionado estava muito fria. A comida era algo que não podíamos comer facilmente”, conta.

Frozan veio ao Brasil com seu marido e um de seus três irmãos. Seus pai, que tem problemas de fala e audição, sua mãe e seus outros dois irmãos ficaram no Afeganistão. A família da refugiada teve a chance de conseguir o visto humanitário, mas não foi possível porque não possuíam passaportes. Agora, o que a artista mais almeja é trazer seus parentes para o Brasil em segurança.

“Não era meu desejo deixar meu país e vir para o Brasil, mas era a única escolha”, diz.

O sonho de uma galeria

A artista, que trabalha com gravuras em madeira, diz que a escolha do Brasil se deu por conta de um conselho que recebeu na embaixada brasileira.

“Durante uma entrevista na embaixada, eles disseram que gostaram da minha arte e dos meus produtos e que eu teria um futuro brilhante no Brasil se eu abrisse uma galeria aqui”, relembra. A artista conta que aceitou o conselho e, agora, sonha em expor sua arte em terras brasileiras.

No entanto, a incerteza do futuro ainda é um empecilho. “Eu acho que o nosso maior problema é que nossas famílias não sabem sobre seus futuros, tanto aqui quanto no Afeganistão, porque nossa situação aqui na colônia é apenas por 30 dias e depois nós não sabemos o que vai acontecer com a gente”, conta.

Frozan, apesar do medo do futuro, elogiou a hospitalidade dos brasileiros e disse que acredita que as autoridades vão ajudá-la a realizar seu sonho.

“Eu só quero ter minha família aqui comigo no Brasil, abrir minha galeria e fazer arte para os brasileiros, mostrar nossa honestidade. Não somos pessoas ruins”, desabafa.

Novos começos

A diretora do escritório em São Paulo da Organização Internacional para as Migrações (OIM), da ONU, Carla Lorenzo, explica que mais de seis mil afegãos já chegaram ao Brasil desde que a portaria do visto humanitário foi publicada pelo Governo Federal, em setembro de 2021.

“A OIM tem apoiado os afegãos que estão chegando de forma espontânea no Brasil de diferentes formas. Aqui no contexto desse espaço de acolhimento, a gente apoiou tanto logisticamente na articulação com o espaço, quanto no apoio técnico da gestão do abrigo, registro e cadastro das pessoas que estão ficando aqui no espaço”, diz.

Carla conta que muitos desses refugiados gastam todo o dinheiro guardado para chegar ao Brasil e, quando chegam, não possuem mais recursos financeiros para arcar com um local para se hospedar. Por isso, acabam ficando acampados no Aeroporto de Guarulhos.

O Coordenador Geral de Política Migratória do Ministério da Justiça, Paulo Illes, conta que o governo já está trabalhando para que a situação dos 128 refugiados alojados em Praia Grande seja regularizada.

“Nós estamos partindo para um segundo momento, que é uma avaliação da situação documental para que eles possam ter seus documentos regularizados, para que possam ter um CPF, uma conta bancária e para serem cadastrados no CadÚnico. Nós vamos contar com uma força tarefa para que isso seja agilizado”, explica.

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