Dorval, o melhor ponta-direita da história do Santos

Por Guilherme Guarche/Santos F.C. em 28/02/2022 às 08:24

Nascido no bairro do Partenon, em Porto Alegre, em 26 de fevereiro de 1935, uma terça feira, apenas um dia depois de Pepe, Dorval Rodrigues se consagraria anos depois como o melhor ponta-direita que vestiu a camisa sete do Santos.

Seus primeiros contatos com a bola tiveram início no infantil do Internacional de Porto Alegre, mas não conseguiu se firmar no time colorado e depois passou a jogar no juvenil do maior rival do Inter, o Grêmio.

Também no Tricolor não obteve sucesso, pois era escalado em várias posições e como se sentia rejeitado por ser um jogador de cor, passou a jogar no hoje extinto Força e Luz time da cidade de Porto Alegre.

Sua primeira partida com a camisa santista aconteceu na partida amistosa em São José do Rio Preto, na vitória pelo placar de 3 a 1, com gols de Pagão, Alfredinho e Tite.  O Alvinegro escalado por Luiz Alonso Perez, o Lula formou com: Manga (Osvaldo), Hélvio (Sarno) e Ivan; Ramiro, Formiga (Feijó) e Zito; Alfredinho (Dorval), Jair Rosa Pinto (Pepe), Pagão (Del Vecchio), Vasconcelos e Tite.

Seu início no Alvinegro foi assim por ele relatado: “Quando cheguei o ataque era formado por Alfredinho, Álvaro, Del Vecchio, Vasconcelos e Tite. Assinei contrato em outubro de 1956. No começo de 57 o Mauro quebrou a perna do Vasconcelos e o Pelé estreou. Depois saiu o Alfredinho e eu entrei na ponta-direita”.

Amargou a reserva no começo da carreira ficando na suplência de Alfredinho e para ganhar mais desenvoltura foi emprestado para o Juventus até o final do ano de 1956 retornando ao Santos em seguida.

Jogador veloz, a rapidez com que tocava a bola na corrida, o forte chute de pé direito e a disposição para também ajudar na marcação acabaram conquistando a confiança do técnico Lula, que lhe entregou a camisa sete do Peixe.

Suas qualidades foram imprescindíveis para muitas vitórias memoráveis. Ele classifica como as melhores a goleada de 5 a 2 sobre o Benfica, em Lisboa, na decisão do Mundial de Clubes de 1962; os 4 a 2 no Milan, no Maracanã, na segunda partida da decisão do Mundial de 63; os 3 a 0 no Peñarol na finalíssima da Taça Libertadores de 1962, em Buenos Aires, e os 6 a 4 sobre a Seleção da Tchecoslováquia, no Torneio Hexagonal do Chile de 1965.

Hóspedes da pensão da dona Jorgina

Dorval e Pelé chegaram praticamente na mesma época em Santos, dividiram o quarto na concentração do estádio Urbano Caldeira e na sequência foram morar na pensão da dona Jorgina, onde também moravam outros jogadores do Alvinegro.

Apesar de ser cinco anos mais velho que Pelé, a convivência na pensão não era das melhores segundo ele comentou: “Numa época ele comprou uma bateria e ficava tocando no quarto. Era aquele barulhão. Ele tinha um temperamento muito danado.

Dorval reagia a todas as críticas, mas respeitava Zito acima de todos. “O Pelé era famoso, mas o líder era o Zito. Ele sabia falar normalmente, sem gritar. Mesmo na hora que tinha de dar um esporro, ele dava sem ofender. Até o Pelé levava dura dele”, lembra. Briga com Pelé causou sua saída do Santos.

“Uma vez nós brigamos e ficamos um ano sem nos falar. O motivo foi uma discussão depois de um jogo com a Portuguesa que a gente estava ganhando por 2 a 0 e perdemos por 3 a 2. Ele errou e achou que os outros tinham de pedir desculpas só porque ele era o Pelé”.

Dorval acabou negociado com o Racing de Buenos Aires, em 1964. Em seu lugar, na ponta-direita, o Santos trouxe da Ferroviária, o jovem Peixinho: “Meu passe foi comprado pelo Racing, enquanto o Batista e o Luis Cláudio foram para lá por empréstimo. Mas o Racing não tinha dinheiro para me pagar e o Santos me pediu de volta. O Batista e o Luis Cláudio ficaram em definitivo”.

Ficou na Vila por mais dois anos, depois foi para o Palmeiras em 1967, onde permaneceu nove meses. No ano seguinte foi para o Atlético Paranaense. Lá, ao lado de outros veteranos de prestígio, como Bellini e Djalma Santos, foi vice-campeão estadual e encerrou a carreira.

Seus títulos principais, todos pelo Santos, foram o Bicampeonato Mundial Interclubes e da Taça Libertadores da América em 1962/63, Pentacampeonato Brasileiro em 1961/62/63/64/65, Campeonato Paulista em 1958/90/61/62/65, Torneio Rio-São Paulo em 1969/63/64/66, além de inúmeros torneios internacionais, como Hexagonal do Chile, Torneio de Paris.

Dorval que era chamado pelos colegas de equipe pelo apelido de Macalé, jogou entre os anos de 1956 e 1967 exatas 610 partidas e marcou 194 gols. É o 5º atleta que mais vezes vestiu a camisa do Peixe em sua história e é o 6º maior artilheiro santista.

Na Seleção Canarinho

A primeira partida de Dorval com a camisa da Seleção Brasileira ocorreu em 10 de março de 1959, contra o Peru, na estreia da Seleção no Sul-Americano disputado em Buenos Aires.

Foi a primeira exibição do Brasil depois de conquistar o título mundial na Suécia. O jogo, realizado no Estádio Monumental de Nuñes, terminou empatado em 2 a 2. Didi e Pelé marcaram para a Seleção Brasileira, que formou com Castilho, Paulinho, Bellini, Orlando Peçanha e Nilton Santos (depois Coronel); Zito e Didi; Dorval, Henrique (Almir Albuquerque), Pelé e Zagalo.

O único gol marcado por Dorval em 14 jogos que fez pela Seleção ocorreu em 17 de setembro de 1959, na goleada sobre o Chile por 7 a 0, no Maracanã, pela Taça Bernardo O’Higgins – os outros gols foram feitos por Pelé (3), Quarentinha (2) e Dino Sani.

Dorval Rodrigues passou seus últimos anos de vida morando em Santos e fazendo parte do seleto grupo de jogadores do Santos componentes dos “Ídolos Eternos” do Peixe.

Morreu num domingo, dia 26 de dezembro de 2021, aos 86 anos, na Santa Casa de Santos, onde estava internado. Seu velório foi realizado no Salão de Mármore do Santos tendo a presença de vários craques do passado e de muitos torcedores do Alvinegro.

Guilherme Guarche

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