Cuca superou uma série de adversidades para cumprir "profecia" e levar Santos até a final

Por Rodrigo Martins em 29/01/2021 às 06:44

SANTOS FC – Cuca foi anunciado para a sua terceira passagem pelo Santos no dia 7 de agosto de 2020. Naquela ocasião, o técnico assumia o comando do Peixe após a eliminação no Campeonato Paulista para a Ponte Preta, em casa, que culminou com a demissão do português Jesualdo Ferreira. Apesar disso, o treinador não teve dúvidas em fazer uma “profecia” e traçar uma meta ousada para a equipe, em seu primeiro contato com os jogadores: chegar à final da Copa Libertadores da América.

Cuca disse para o seu irmão, o auxiliar-técnico Cuquinha, que confiava no potencial do elenco, mesmo com todos os problemas: o Santos estava punido pela Fifa, sem poder contratar novos jogadores, o elenco estava com salários atrasados e o clube vivia uma crise política, que no mês seguinte culminou com o afastamento do ex-presidente José Carlos Peres – que mais tarde sofreu o impeachment.

“Conheço o clube, trabalhei com a maioria dos jogadores. Conheço bem a cidade, gosto daqui. Sabia que ia dar certo”, disse Cuca, em entrevista coletiva recente.

Na visão do técnico, os acontecimentos fora de campo serviram, de certa forma, para o grupo se unir, com todos focados no objetivo de chegar à decisão. “O objetivo sempre foi chegar à final. Era estar a uma partida do Mundial”, afirmou.

Caminho até a decisão
Quando Cuca chegou, o Peixe havia vencido os dois primeiros jogos da fase de grupos (2 a 1 contra o Defensa y Justicia, por 2 a 1, na Argentina, e 1 a 0 contra o Delfin, do Equador, na Vila). O Santos manteve a boa campanha até o fim da primeira fase, inclusive com uma vitória em partida emocionante contra o Olimpia, por 3 a 2, no Paraguai. A equipe começava a adquirir “casca” para a fase mais difícil da competição: o mata-mata.

Dono da segunda melhor campanha na fase de grupos, o Alvinegro Praiano tinha que dividir as suas atenções com uma maratona de jogos no Campeonato Brasileiro e ainda sofreu com um surto de Covid-19 em seu elenco, perto do primeiro confronto com a LDU pelas oitavas de final. Nessa altura, Cuca já não podia contar com o experiente Carlos Sánchez, que sofreu ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo contra o Olimpia. O uruguaio passou por uma cirurgia, que lhe custou o restante da temporada.

Cuca, aliás, não pôde comandar a equipe contra a LDU. Ele contraiu o novo coronavírus e precisou ser internado em um hospital de São Paulo. O treinador chegou a ficar na UTI. O sogro de Cuca também teve Covid-19 e morreu após sofrer complicações de saúde causadas pela doença.

Enquanto o comandante se recuperava, o time não decepcionou em campo. Com uma grande atuação, o Santos dirigido interinamente neste duelo por Marcelo Fernandes não se intimidou com os problemas, tampouco com a altitude de 2.850 metros de Quito, e bateu a LDU por 2 a 1: gols de Soteldo e Marinho (pênalti).

Na volta, Cuca já estava curado da Covid-19, mas não pôde sentar no banco de reservas porque o teste exigido pela Conmebol antes da partida deu positivo para a doença. O Peixe teve boas chances para marcar no primeiro tempo, porém não balançou as redes. Os equatorianos marcaram no segundo tempo e venceram por 1 a 0, mas os santistas avançaram por terem feito mais gols fora de casa.

Nas quartas de final, o adversário seria outro clube brasileiro: o Grêmio. O Santos foi apontado pela maior parte da imprensa esportiva como “azarão” na disputa. Cuca soube trabalhar esse aspecto motivacional, principalmente as declarações do técnico gremista, Renato Gaúcho, que declarou antes dos confrontos que a sua equipe “jogava o melhor futebol do Brasil”.

Na Arena do Grêmio, o time alvinegro fez uma ótima exibição e saiu na frente no primeiro tempo, com gol de Kaio Jorge. O Santos poderia ter selado a vitória em contra-ataques no segundo tempo. Na base da pressão, o Tricolo Gaúcho chegou ao empate em pênalti polêmico assinalado pela arbitragem, com ajuda do VAR. Diego Souza decretou o empate, em 1 a 1, nos acréscimos do segundo tempo.

Na Vila Belmiro, entretanto, o Peixe não deu chances para o Grêmio. O Santos teve um início avassalador, com Kaio Jorge abrindo o placar aos 12 segundos, aproveitando uma saída de bola errada dos gaúchos. Antes dos 20 minutos, Marinho ampliou.

Com uma boa vantagem, a equipe praiana ainda marcou com Kaio Jorge e Laércio, enquanto Thaciano descontou para os gremistas: 4 a 1 e vaga garantida nas semifinais.

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Foto: Ivan Storti/Divulgação Santos FC

Nas semifinais, o tradicional e poderoso Boca Juniors. Na Argentina, empate em 0 a 0, em jogo no qual o Peixe poderia ter vencido. A arbitragem não anotou pênalti claro em Marinho, no segundo tempo.

No confronto de volta, o Santos mostrou a sua força na Vila. Diego Pituca colocou os donos da casa em vantagem no primeiro tempo. No começo da etapa complementar, Soteldo, com um golaço, e Lucas Braga – uma das apostas de Cuca durante a campanha – selaram a vitória santista, classificado para a grande decisão.

Preparação para a final
Após a classificação para a semifinal, o Peixe começou a dosar suas energias para a final contra o Palmeiras. Isso levou a equipe a perder três jogos no Brasileirão: Fortaleza (fora), Goiás (casa) e Atlético-MG (fora).

Mas para Cuca, o mais importante é que o time esteja física e mentalmente pronto para jogar a final. “Estamos 100%. Um jogador para desempenhar precisar estar psicologicamente bem. E nós estamos bem. A julgar daí, estamos 100%. Vamos fazer tudo e mais um pouco para tentarmos sair campeões. Só o tempo até sábado, pelas 19h, talvez mais tarde, vai dizer que tudo que colocaremos em prática será suficiente para sermos campeões”, declarou.

Supersticioso, Cuca adotou uma camisa com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, dada pela sua esposa, como um de seus amuletos. No vestiário, ele costuma colocar fotos dos jogadores com as suas respectivas famílias como forma de motivá-los ainda mais para os confrontos decisivos.

“Sempre vamos buscar coisas positivas guardadas dentro de nós, experiências. Eu guardo e certamente vou usar”, disse Cuca, que voltou ao gramado do Mineirão para se ajoelhar e rezar após a derrota pelo Galo, pelo Brasileiro, na noite da última terça-feira (26). Nesse mesmo estádio e na frente do mesmo banco de reservas onde se ajoelhou, ele foi campeão da Libertadores em 2013 pelo Atlético-MG.

No entanto, Cuca sabe que apenas superstição não é o suficiente para sair de campo no sábado com o título. É preciso muito trabalho e uma grande atuação durante os 90 minutos da final contra o Palmeiras. “Precisaremos ter um dia perfeito para termos uma chance de sermos campeões. É isso que a gente vai tentar fazer no sábado”, concluiu.

No sábado (30), a partir das 17h, no Maracanã, o capítulo final dessa saga vai determinar se o Santos será o primeiro brasileiro a ter quatro títulos da Copa Libertadores na história.

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Foto: Ivan Storti/Divulgação Santos FC

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