01/02/2022

'Continuaram batendo mesmo depois da morte', diz tio de congolês morto no Rio'

Por Folha Press em 01/02/2022 às 21:10

Uma pessoa doce, inteligente e que respeitava a todos. Assim Mamanu Idumba Edou, 49, descreve o sobrinho Moise Mugenyi , encontrado sem vida na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, na segunda-feira passada (24).

Família e amigos denunciam que o jovem congolês foi espancado até a morte por cinco homens depois de cobrar salários atrasados. Segundo os relatos, o valor era referente a três dias de trabalho.

À Folha Edou diz que, quando Mugenyi foi cobrar o valor, o gerente do estabelecimento pegou um pedaço de madeira para atacá-lo. “Ele chamou mais quatro pessoas que pularam em cima do Moise, pegou ele pelas costas, sufocou e pegou um pedaço de pau. Começaram então a bater na cabeça dele”, diz Edou, relatando as cenas que a família viu em imagens das câmaras de segurança do local.

“Mesmo depois de morto, os caras continuaram batendo nele. Largaram o corpo perto do quiosque mesmo, amarraram as mãos dele, coloram elas para trás. Moise morreu, mas continuaram torturando ele.”

Segundo Edou , os agressores ameaçaram um colega de Moise que estava no local, dizendo que ele morreria caso falasse alguma coisa. Depois de fugir, o homem chegou em casa e avisou que Moise estava morto na praia. “Nós estamos apavorados sobre o que aconteceu. É muito triste. É muita covardia. A gente sabe que nós não teremos o Moise de volta, mas a gente só quer justiça. “

A Polícia Civil afirma que analisou câmeras de segurança para apurar o crime e identificar os responsáveis. Segundo a corporação, ao menos oito pessoas já foram ouvidas na investigação. O gerente do quiosque onde Moise trabalhava deve ser ouvido ainda nesta terça-feira (01).

Parentes e amigos fizeram protesto no último sábado (29) pedindo Justiça para Moise Mugenyi Kabagambe, morto no dia 24 ( Foto: reprodução ) Homens seguram cartazes pedindo justiça ** O tio do jovem diz que Moise chegou ao Brasil com 11 anos na condição de refugiado político e que morava atualmente em Madureira, na zona norte do Rio.

Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, de 2011 a 2020, 53.835 pessoas foram reconhecidas como refugiadas no Brasil, das quais 1.050 delas eram congolesas, ou seja, 2% do total.

São pessoas que buscaram abrigo no país fugindo de conflitos armados no Congo e de violações dos direitos humanos. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), entre 2017 e 2019, esses conflitos obrigaram cerca de cinco milhões de congoleses a saírem de suas casas.

A comunidade congolesa no Brasil divulgou uma carta de repúdio contra a morte de Moise. “Esse ato brutal não somente manifesta o racismo estrutural da sociedade brasileira, mas claramente demonstra a xenofobia dentro das suas formas contra os estrangeiros”, diz a nota de repúdio, lembrando que o Brasil é signatário de convenções que garantem a proteção dos direitos humanos.

“Por isso exigimos a justiça para Moise e que os autores do crime junto ao dono do estabelecimento respondam pelo crime! Combater com firmeza e vencer o racismo, a xenofobia, é uma condição para que o Brasil se torne uma nação justa e democrática”, afirma o comunicado.

Nas redes sociais, a morte do jovem gerou repercussão. Com a hashtag #JusticaPorMoise, que esteve entre os assuntos mais comentados do Twitter, perfis de usuários e de organizações sociais demonstraram revolta e cobraram punições à tragédia, que tem sido considerada mais uma demonstração do racismo e da xenofobia presentes no Brasil.

A Anistia Internacional afirma que o sonho de Moise e de sua família de viver uma vida digna no Brasil foi “covardemente interrompido” e que “seu assassinato não pode ficar impune!”.

Já a ex-deputada Manuela d’Ávila (PCdoB) escreveu que o racismo está destruindo vidas no Brasil. “Absurdo, revoltante e inaceitável o caso do imigrante congolês Moise, que estava apenas cobrando o pagamento de seu salário num quiosque na Barra da Tijuca e foi assassinado a pauladas. O racismo segue destruindo vidas em nosso país! Queremos justiça!”

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