Cliente acusado de ter feito ofensas racistas em restaurante registra BO e diz ter sido agredido
Por #Santaportal em 01/02/2020 às 09:04
SANTOS – O homem acusado por funcionários de um restaurante de Santos de ter proferido injúrias raciais procurou a polícia para dar a sua versão dos fatos. O despachante aduaneiro, de 62 anos, disse ter sido agredido após brigar com outro cliente do local.
No Boletim de Ocorrência registrado pelo homem, que não mencionou as ofensas que teria direcionado aos atendentes do estabelecimento, afirmou que foi retirado do restaurante. Ele disse que, instantes após a confusão, ligou para reclamar do episódio e teria sido ofendido pelo proprietário do local.
Ainda de acordo com o cliente, que registrou BO por injúria e calúnia, ele teria ido ao restaurante para almoçar com a sua namorada e o neto. Pelo fato de ter um problema de incontinência urinária, ele precisou ir ao banheiro do estabelecimento e, para outro homem que esperava na fila, teria pedido licença, relatando o seu problema e afirmando que por causa disso precisava ter preferência para utilizar o sanitário.
De acordo com o despachante, ao se dirigir para pagar a conta ele foi agradecer ao rapaz que cedeu a sua vez no banheiro, mas teria sido ofendido por ele. Irritado, o cliente disse que respondeu ao rapaz, mas não lembra quais palavras teria usado na ocasião.
O despachante contou ainda aos policiais que, após a discussão com o outro cliente, funcionários do comércio o colocaram para fora com um empurrão, que quase teria lhe levado ao chão.
Entenda o caso
O caso ganhou grande repercussão após o dono do estabelecimento ter publicado um vídeo nas redes sociais relatando o episódio. Três funcionários do Restaurante Madê Cozinha Autoral, no Boqueirão, em Santos, foram ofendidos e vítimas de injúria racial na noite de terça-feira (28). Um Boletim de Ocorrência foi registrado, bem como mecanismos legais e judiciais estão sendo tomados nos âmbitos cível e criminal por parte do estabelecimento contra o cliente que praticou esses atos – e que, pelo proprietário, não pisa mais no local.
“A equipe se sentiu extremamente ofendida, mas acabou se unindo ao ver que a gente não compactua com nada do gênero. Alguns donos de restaurante teriam feito qualquer coisa para abafar o caso, por se tratar de um cliente e que paga. Mas isso não foi o que aconteceu”, afirmou o chef Dario Costa, proprietário do Madê. “Meus advogados e do restaurante abraçaram o caso. Eles estão representando os três colaboradores envolvidos, sem cobrar absolutamente nada”, emendou.
O caso aconteceu por volta das 19h30 de terça-feira. Um homem entrou com mulher e neto no restaurante e começou, segundo Dario, a dizer que não gostaria de ser atendido por uma mulher. Na sequência, o homem teria chamado os integrantes da equipe de “pretinho”, “preto sujo”, “negrinho”, enquanto comia e bebia. Outros clientes começaram a se incomodar. Um deles quase partiu para a agressão. Em meio a isso, o neto d homem chorava.
O homem, então, deixou o restaurante gritando, depois de permanecer em torno de meia hora no local e pela intervenção de Dario Costa. Já na rua, dizia que todo mundo era preto, alegando que era cliente e que tinha razão. Não satisfeito, ele ligou para o estabelecimento durante uma hora, prendendo até a linha telefônica, com o único intuito de xingar a todos, incluindo o proprietário, chamado de idiota porque só teria negros na equipe.
“O foco da ação civil não seria apenas a indenização pela ofensa, mas sim de uma forma pedagógica, como algum tipo de prestação de serviços à sociedade carente ou algo do gênero”, disse Tarcísio Miranda Bresciani, advogado e sócio fundador do escritório Bresciani e Almeida Sociedade de Advogados, responsável pela ação cível.