20/02/2021

Caso Lorena evidencia falta de estrutura dos serviços de cardiologia infantil

Por Noelle Neves/#Santaportal em 20/02/2021 às 07:41

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

SAÚDE – O caso de Lorena Vieira, bebê de 8 meses que morreu na fila de espera de UTI pediátrica pelo sistema Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde – CROSS, evidenciou um problema grave na região: a necessidade de serviços especializados em cardiologia infantil.

De acordo com o médico cardiologista Fabio de Freitas Guimarães Guerra, em relação à hospital de referência, se tratando de adultos, há excelentes profissionais e bons serviços hospitalares, tanto na rede privada/convênios como nos serviços de SUS. Já em relação ao atendimento cardiológico infantil, por conta da pouca demanda, o investimento é baixo e o setor, carente.

“Sem dúvida acredito que seria ideal termos um serviço de referência. Só que são altos os custos de manutenção, tanto do ponto de vista estrutural, como na contratação de equipes, visto termos pouquíssimos especialistas com habilitação em cardiologia pediátrica. Ao meu entender, cria essa dificuldade que temos há anos na região”, disse.

Guerra destacou que por conta do cenário, a melhor saída é levar o paciente para São Paulo. E esse foi o caso de Lorena.

A bebê nasceu com cardiopatia congênita. Com apenas quatro meses, fez uma cirurgia de peito aberto. Pouco tempo depois, sofreu três paradas cardiorrespiratórias e precisou passar por uma cirurgia de emergência. Durante quase dois meses, lutou pela vida como a guerreira que se mostrou ser desde que respirou pela primeira vez.

De novembro até o início de fevereiro, ficou bem, mas na primeira quinta-feira de fevereiro, precisou ser internada com desconforto respiratório e cianose (coloração azul violácea da pele e das mucosas devido à oxigenação insuficiente no sangue), no Hospital São José. De acordo com a mãe Raiza Vieira, pela falta de estrutura, foi encaminhada ao Hospital Municipal de São Vicente (antigo CREI).

“Ela tinha plano de saúde. Mas negaram a internação para não quebrar a carência. Meu marido foi atrás para ver a possibilidade de pagar a multa. Mas não teve conversa. Nós falamos que ela estava com situação de saúde frágil, mas responderam que se ela caísse e batesse a cabeça, poderia internar. Se ela tivesse qualquer problema que não envolvesse a patologia, poderia internar, fora isso, sem chances”, contou a mãe ao #Santaportal , na ocasião.

De acordo com a Raiza, o antigo CREI não tinha estrutura e a vaga do CROSS não saía. As coisas só começaram a mudar, quando expôs o caso nas redes sociais, no sábado, três dias depois da internação. A publicação chegou ao vereador Tiago Peretto, que entrou em contato com prefeito, secretaria de saúde, conselho tutelar e direção do hospital.

No início da madrugada de domingo, surgiu a possibilidade de uma vaga no Dante Pazzanese, em São Paulo, e a transferência estava prevista para o período da manhã, mas infelizmente não resistiu. Parte disso, conforme declaração do vereador, estava ligada ao sistema de saúde falho de São Vicente.

“Há falta de equipamento médico e de profissionais, precisaram fazer uma ‘gambiarra’ para que a bebê respirasse, quando, na verdade, precisava de um respirador. A intubação foi realizada tarde demais. Tentaram reanimar, mas não deu. É culpa de um sistema falido. Nossa cidade depende quase que 80% do SUS e não temos atendimento de qualidade”, declarou.

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Foto: Arquivo Pessoal


Possível solução

Segundo Guerra, é uma questão de organização: aumentar o número de leitos para atendimento e fazer com que esses pacientes cheguem em tempo hábil para atendimento nos hospitais. “Na maioria das vezes, ficam dias esperando internação, muitas vezes por falta de uma política mais ágil para que essa transferência ocorra. Imagino que uma solução de curto prazo seria que as autoridades tivessem uma postura mais contundente frente ao Estado”, disse.

Além disso, Guerra enfatiza que o Governo de São Paulo também poderia criar serviços de referência espalhados em macrorregiões, como fizeram com os hospitais regionais, por exemplo. Isso faria com que casos de crianças com cardiopatia fossem direcionados mais facilmente e sem demora.

Peretto se comprometeu, em entrevista ao #Santaportal , a dedicar o mandato para proposituras na área da saúde, principalmente por conta da experiência de acompanhar o sofrimento de uma mãe.

E no dia 12, levou os pais da pequena Lorena à Câmara dos Vereadores e ressaltou a necessidade urgente de uma UTI pediátrica na região. No fim, todos fizeram um minuto de silêncio e ouviram os pais quanto ao que ocorreu entre o dia 4 e 7 de fevereiro.

O vereador reafirmou a lutar por uma UTI Pediátrica na região e está avaliando a possibilidade de ir a Brasília solicitar recursos. 

Lei Lorena Vieira

Na última semana, o vereador Tiago Peretto propôs a Lei Lorena Vieira, que tem como objetivo a comunicação entre as unidades hospitalares e o Conselho Tutelar, de forma que a criança que está à espera de vaga para UTI. “Não queremos que fique desamparada e sofra com a espera, situação degradante e que se repete com frequência. Com essa iniciativa, queremos manter as autoridades cientes das crianças e adolescentes que aguardam na fila do CROSS por vagas de UTI”. 

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