Bolsonaro disse que 'acabou', afirma Fachin após encontro com presidente no STF

Por José Marques, Renato Machado e Julia Chaib/Folhapress em 02/11/2022 às 08:00

Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), disse que o presidente Jair Bolsonaro (PL) usou a expressão “acabou” em encontro com ministros do tribunal. Fachin respondeu ao ser questionado se, na reunião, Bolsonaro havia reconhecido a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“[Ele] utilizou o verbo ‘acabar’ no passado. Ele disse ‘acabou’. Portanto, olhar para frente.”

O encontro de Bolsonaro com ministros do STF ocorreu na tarde desta terça (1º), após o mandatário fazer seu primeiro pronunciamento após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições. O atual presidente guardou um silêncio de cerca de 45 horas desde a noite de domingo (30), quando o resultado foi confirmado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Na declaração lida por Bolsonaro, o mandatário fez apenas um reconhecimento implícito da derrota ao agradecer os 58 milhões de votos recebidos por ele.

No STF, o presidente não falou com os jornalistas na entrada ou na saída da reunião, que aconteceu no gabinete da presidente do tribunal, ministra Rosa Weber.

Antes de Bolsonaro chegar, se encontraram com a presidente da corte os ministros Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux, Cármen Lúcia, André Mendonça e Kassio Nunes Marques.

Cármen e Barroso, porém, não esperaram a chegada de Bolsonaro e deixaram o Supremo antes de o presidente chegar. Em relatos reservados, os ministros destacaram que nunca tiveram uma reunião tão tranquila com Bolsonaro.

Segundo eles, o presidente foi amistoso e gentil e repetiu que não pretende descumprir a Constituição.

Ainda de acordo com relatos, Bolsonaro não tratou no encontro das investigações que ele enfrenta no Supremo, que estão sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes.

Pessoas presentes disseram à reportagem que Bolsonaro fez uma defesa do governo aos magistrados. Disse que fez o máximo que pode e citou dificuldades na economia.

Os ministros, por sua vez, disseram que nunca foram adversários da administração do presidente e citaram ainda que o TSE, comandado por Alexandre de Moraes, agiu em casos em que Bolsonaro foi alvo de desinformação –mencionaram como exemplo a decisão que impediu o PT de continuar veiculando peça que associava o mandatário a pedofilia.

O segundo ministro indicado por ele à corte, André Mendonça, serviu como um mediador entre Bolsonaro e os magistrados, para deixar o diálogo fluir.

A demora na reunião, segundo os relatos, aconteceu principalmente por causa do ministro Paulo Guedes (Economia), que também estava no encontro. Guedes expôs aos ministros do Supremo um relato sobre o que foi feito nos quatro anos do governo Bolsonaro.

Uma ala dos ministros que não é próxima a Bolsonaro achou a reunião positiva.

Pouco antes de Bolsonaro chegar, o Supremo disse, em nota oficial, que o presidente da República reconheceu o resultado final das eleições “ao determinar o início da transição”.

Na nota, o Supremo afirmou que “consigna a importância do pronunciamento do presidente da República” por esse motivo e também “em garantir o direito de ir e vir em relação aos bloqueios”.

No fim da reunião, a presidente do Supremo, Rosa Weber, divulgou uma nota reiterando o primeiro comunicado e afirmando que “tratou-se de uma visita institucional, em ambiente cordial e respeitoso, em que foi destacada por todos a importância da paz e da harmonia para o bem do Brasil”.

Antes de entrar no encontro, Paulo Guedes disse que Bolsonaro “sempre jogou nas quatro linhas da Constituição”. Ao sair, o ministro da Economia afirmou que foi “uma visita de cortesia” e que ela foi “tranquila”.

O encontro com as autoridades do Judiciário aconteceu menos de uma hora depois de Bolsonaro ter afirmado em seu pronunciamento que enfrentou “todo o sistema” e que os movimentos de bloqueio nas estradas são fruto de como se deu o processo eleitoral.

“Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral. As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir”, disse o presidente.

O reconhecimento da derrota nas eleições presidenciais não se deu de forma explícita. Ele apenas agradeceu os 58 milhões de votos que recebeu no segundo turno das eleições. Em nenhum momento parabenizou Lula, agora presidente eleito.

O mandatário também disse que vai continuar “cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição”
Mais cedo, Bolsonaro havia convidado os ministros do STF para uma reunião no Alvorada. Os magistrados, no entanto, não aceitaram e fizeram chegar ao presidente a mensagem de que só se encontrariam com ele após o reconhecimento da derrota no pleito.

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