Augusto Melo é destituído da presidência do Corinthians
Por Luciano Trindade/Folhapress em 09/08/2025 às 20:40
Augusto Melo, 61, tornou-se neste sábado (9) o terceiro presidente da história do Corinthians a ser destituído.
Em assembleia geral dos sócios do clube, conforme previsão estatuária, realizada no Parque São Jorge, 1.413 associados foram a favor de seu impeachment e 620 votaram para sua recondução ao cargo. Houve ainda dois votos nulos e dois brancos. Em maio, o Conselho Deliberativo já havia se manifestado a favor do impedimento, com 176 votos a 57.
Eleito em novembro de 2023, o empresário perdeu seu capital político logo no primeiro ano de sua gestão como consequência de investigações da Polícia Civil e do Conselho do clube sobre o pagamento de R$ 25 milhões à rede Social Media Design como comissão de intermediação pelo contrato de patrocínio com a casa de apostas online VaideBet.
O patrocínio, anunciado em janeiro de 2024 com valor estimado em R$ 370 milhões para três temporadas -o maior da história do clube-, foi rescindido cinco meses depois com o acionamento da cláusula anticorrupção, o que desencadeou investigações sobre empresas “laranjas” envolvidas na operação.
Augusto nega as irregularidades que foram apontadas para justificar seu afastamento da presidência e que fizeram dele e de outros dirigentes de sua gestão réus, denunciados sob suspeita de associação criminosa, lavagem de dinheiro e furto.
O cartola afirma que todas as acusações são falsas e que o processo “é ilegal e repleto de nulidades e abusos”. Ele cita ilegalidade na produção de relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) supostamente sem autorização judicial e questiona a investigação conduzida pela Polícia Civil, em assuntos que, segundo sua defesa, seriam de competência da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.
O Ministério Público de São Paulo pediu que todos os denunciados paguem R$ 40 milhões de indenização à agremiação do Parque São Jorge. O órgão também solicitou à Justiça o bloqueio de bens de pessoas físicas e jurídicas citadas na investigação.
O curso do processo terá agora audiências, depoimentos e produção de provas para, posteriormente, uma decisão do juiz.
No Corinthians, não há mais caminhos que possam salvar Augusto Melo. Antes dele, a história corintiana havia registrado dois episódios de presidentes depostos: em 1972, Miguel Martinez foi destituído do cargo, e o Conselho Deliberativo aclamou Vicente Matheus para o seu lugar.
Em cenário semelhante ao atual, a missão de Matheus era sanear as dívidas e recuperar a credibilidade da agremiação. Martinez comandou o time paulista por 15 meses, seis meses a menos do que o total de seu mandato.
Na década de 1940, associa-se a queda do então presidente do Corinthians, o espanhol Manuel Correcher, à pressão do governo de Getúlio Vargas, em uma época marcada por perseguições a diretores e sócios estrangeiros dos clubes paulistas na 2ª Guerra Mundial.
Em 2007, Alberto Dualib também correu risco de perder seu cargo, mas renunciou à presidência em meio a um processo de impeachment, sob denúncias de má gestão, enriquecimento ilícito e sonegação fiscal.
Na ocasião, o Conselho Deliberativo se reuniu para eleger um novo dirigente para um mandato tampão, até janeiro de 2009. O escolhido foi Andrés Sanchez, que deu início à dinastia que manteve seu grupo político no poder por 16 anos, até a derrota de André Negão para Augusto Melo em 2023.
Desde 2009, o estatuto do clube exige que o sócio tenha no mínimo cinco anos de associação para votar em eleições presidenciais e proíbe reeleição condições que moldaram muitas das disputas recentes.
Melo, que chegou a fazer parte do grupo encabeçado por Andrés, havia aproveitado justamente a imagem desgastada da chapa para se eleger. Agora, foi sua própria imagem que ruiu diante dos sócios.
O estatuto da agremiação alvinegra prevê que, havendo vacância dos cargos de presidente e vice-presidente, o Conselho Deliberativo tem cinco dias úteis para eleger uma nova diretoria para um mandato tampão no caso, até o fim de 2026, quando terminaria o mandato de Melo.
Desde o afastamento determinado pelo Conselho Deliberativo, Osmar Stabile deixou de ser uma figura decorativa como vice-presidente e se tornou presidente interino. Sua gestão tem despertado apoio de uma corrente interna que defende sua candidatura para evitar um terceiro nome à frente do clube em curto período.
Há outros interessados na cadeira. Alguns velhos conhecidos, como Antônio Roque Citadini, dirigente do futebol entre 2001 e 2004, e Armando Mendonça, que era segundo vice de Augusto Melo e passou a primeiro vice com seu afastamento.
Não se duvida, no entanto, da influência de Andrés Sanchez no Parque São Jorge apesar do desgaste de seu grupo perante a torcida. Como a votação dos conselheiros será restrita ao Conselho, um candidato apoiado por ele tem reais chances. Sérgio Alvarenga, ex-diretor jurídico da gestão Sanchez, desponta como opção em discussões internas.