Atleta conta em livro os desafios de pessoas com deficiência
Por Lucas Rodrigues em 27/11/2020 às 11:01
SANTOS – A vida de Jenifer Pavani Ribeiro mudou quando ela foi diagnosticada com diabetes aos 9 anos. Depois de um longo período de aceitação, tanto de sua condição, quanto dos procedimentos que o tratamento previa, a psicopedagoga tenta aos 35 anos lançar um livro com foco na valorização da pessoa com deficiência.
?Na adolescência eu era rebelde. Eu tinha vergonha de assumir a diabetes. Foi na mesma época em que o Cazuza morreu. Isso, somado ao fato do tratamento não ser tão avançado quanto atualmente, me fez não combater o aumento da glicemia?, explica. Aos 21 anos, Jenifer enfrentou a primeira complicação da doença ao ser internada em Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
?Com o tempo desenvolvi retinopatia, que prejudicou a minha visão a ponto de ter forte sensibilidade a claridade?. Para evitar a cegueira, Jenifer passou uma cirurgia de descolamento de pele na vista. Mesmo com o procedimento, a vista esquerda desenvolveu um glaucoma, enquanto o olho direito passou a ter visão parcial. ?Inicialmente fiquei com 3% da visão direita, porém eu não desisti e procurei ajuda de um médico de São Paulo. Hoje estou com 8%?, descreve.
Além das complicações na vista, a psicopedagoga também recebeu o diagnóstico de insuficiência renal, tromboflebite nas veias dos braços e uma pneumonia que, evoluída para tuberculose, comprometeu o funcionamento dos pulmões. Tais condições pareceram suficientes para que médicos sugerissem a aposentadoria por invalidez, porém ela foi no caminho contrário e se inscreveu para um concurso público.
Esporte
?Atualmente estou na secretaria de esportes, onde eu conheci atletas incríveis que me motivaram a entrar para a equipe PCD de atletismo?. Jenifer competiu por três anos na modalidade, mas sentiu dificuldade em razão das doenças que teve. ?A cegueira me fez perder um pouco do equilíbrio. E por causa da função pulmonar, correr era um desafio?. Foi neste momento que a psicopedagoga optou pelos esportes aquáticos, a começar pela natação.
Após oito meses nadando nas piscinas, em meio a fisioterapias e sessões de acupuntura, Jenifer foi convidada no início do ano a fazer aulas na Escola de Surfe Adaptado de Santos. ?Pensei: por que não? Até o momento fiz seis aulas. Na última, eu consegui subir na prancha e pegar onda. Foi uma felicidade tremenda?, conta.
Créditos: Arquivo Pessoal
Livro
Jenifer explica que a ideia de escrever o livro ?Vida que Segue? veio juntamente com as primeiras complicações na visão. Entretanto, as demais doenças adquiridas, somadas as experiências com esportes adaptados, amadureceram a ideia até os dias de hoje. ?Comecei pesquisando sobre tratamentos preventivos em comunidades do Orkut. As pessoas conversavam muito sobre e isso contribuiu demais para a minha melhora. Foi aí que eu entrei para o universo inclusivo?, descreve.
?Na teoria, a inclusão é muito bonita, mas na prática é difícil. Meu objetivo é que as pessoas tenham um pouco mais de consciência, não só sobre a seriedade da doença, mas para a pessoa com deficiência no geral?, explica. O livro ainda não foi lançado. Atualmente, o ?Vida que Segue? é o foco de uma campanha de arrecadação online com meta de R$ 25 mil contribuições. No momento, o projeto de Jennifer conta com R$ 4.335 doados.
?Estive em dois mundos. Hoje a minha visão abrangeu. O ?Vida que Segue? é mais que um livro, é um projeto de inclusão?, descreve. A psicopedagoga conta que esta é uma forma encontrada por ela para valorizar as pessoas com deficiência, sejam físicas ou mentais, e mostrar como a evolução da medicina tem contribuído para a melhora dos pacientes.
?Quando recebi o diagnóstico de diabetes, escutei que eu teria uma doença para o resto da minha vida. Isso me assustou. Três décadas depois, se eu recebesse o diagnóstico hoje, eu não me assustaria tanto?. O Livro ?Vida que Segue? está disponível para receber doações por meio do link: http://vaka.me/1422478 .
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