20/06/2015

A vaquinha dos ovos de ouro

Por Repórter Universitário em 20/06/2015 às 11:20

Financiamento online é a alternativa para quem quer tirar boas ideias do papel sem correr grandes riscos.

Felipe Cincinato

Para Albert Einstein, a criatividade é o resultado da inteligência se divertindo e é baseando-se nesta premissa que Ana Luiza Medeiros , de Natal (RN), se aproveitou das situações cotidianas e das aulas do cursinho – que não eram muito interessantes – para dar vida aos seus personagens. Em meados de 2006, surgiu o Zé, seu primeiro personagem da história em quadrinhos Carvalhos.

Mesmo quando o tempo ficou mais escasso, na época em que cursava a faculdade de Arquitetura e Urbanismo, os desenhos durante as aulas não pararam. “Desculpa, professores!”, pedia Luiza, que em meados de 2008 já havia criado outros personagens e, para cada um deles, um pequeno histórico.

Mas foi somente a partir de 2012, quando percebeu que havia perdido o hábito de desenhar, que Luiza criou o site Tiraninha (www.tiraninha.com.br): “Foi a forma que encontrei de colocar disciplina”, conta. “A obrigação de manter o site atualizado me força a produzir mais para conseguir aumentar os acessos do site”.

A estratégia funcionou. Ana e o Sapo , uma das tirinhas que marcam presença às segundas, quartas e sextas no Tiraninha, virou livro em 2013 por meio do financiamento online. A premissa das tirinhas é bastante simples: “Como falar sozinha é deveras estranho, o Sapo apareceu para conversar comigo”, explica Ana Luiza.

Hoje, a quadrinista enfrenta mais uma vez o desafio de transformar suas tirinhas em livro, mas agora com a “família que todo mundo gostaria de fazer parte”. Trata-se de Carvalhos , que encarnam as situações cotidianas vividas por sua autora. “Eu sou uma pessoa meio respondona e, às vezes, a civilidade não permite que a gente diga certas coisas a certas pessoas e/ou em certas situações”, reconhece Ana Luiza.

“Eu acabo passando para as tirinhas as coisas que eu gostaria de poder dizer, mas que podem trazer consequências ruins na vida real. Felizmente, elas funcionam em um contexto cômico”, conclui a urbanista quadrinista.

Para lançar seu segundo livro, Ana Luiza optou novamente pelo crowdfunding – termo em inglês que pode ser traduzido livremente como “financiamento coletivo”. Com a ajuda da MBP, um selo editorial, a quadrinista lançou o projeto na internet pedindo aos leitores que contribuíssem financeiramente com seu livro em troca de alguns benefícios. A primeira fase foi um sucesso. Conseguiu arrecadar R$ 4 mil para a impressão básica. Na nova fase, ela espera o mesmo sucesso para concluir a obra, que será toda colorida.

Para financiar seu livro, Ana pede contribuições que variam de R$ 10 a R$ 350, sendo que para cada valor há uma recompensa especial. Com a contribuição mínima, o colaborador ganha os livros Carvalhos e Ana e O Sapo (ambos em formato digital), além do sorteio de uma tatuagem ou ilustração original; já para quem contribuir com o valor máximo ganha uma série de itens que incluem, entre outros mimos, o livro em PDF, uma cópia física autografada, um conjunto de porta copos e um isqueiro.

Diversidade

A vaquinha online utilizada por Ana Luiza não se limita ao financiamento de livros. Esta plataforma já é utilizada para lançar filmes, documentários, montar exposições de arte e fotografias e até mesmo realizar trabalhos de conclusão de curso – ou TCCs, como são chamados nas faculdades.

Planejamento

Vídeo Explicativo sobre o passo a passo da vaquinha online

A palavra chave para o sucesso dos projetos de financiamento coletivo é o planejamento. Muitos sites como o Kickante e o Catarse (catarse.me) exigem dos empreendedores virtuais planos financeiros e de marketing que mostrem como o valor arrecadado será investido e como o “produto” chegará ao apoiador.

O empreendedor deve pensar também no tipo de campanha que pretende fazer. Alguns sites oferecem duas fórmulas: “tudo ou nada” ou “flexível”. Na primeira modalidade, caso a meta não seja alcançada, as doações são devolvidas aos apoiadores. Já na segunda, caso a meta não seja batida, o empreendedor deverá pagar pela diferença do valor restante.

As recompensas são consideradas um dos itens mais importantes para os sites de vaquinha online. O Catarse, por exemplo, recomenda que os “presentinhos” oferecidos aos apoiadores sejam generosos e atrativos.

Outra questão apontada pelos sites é clareza do destino das doações. O site Kickante, que oferece um manual com vídeos explicativos sobre como lançar uma vaquinha online, é claro. “As pessoas gostam de saber que seus R$ 10, R$ 20 contam”.

Vale dizer que na maioria dos sites, os projetos são submetidos à análise para aprovação e, no caso de algumas plataformas como o Catarse e o Kickante, o empreendedor conta com apoio de consultores que ajudam a ajustar o projeto.

Com o projeto bem estruturado e campanha lançada, chega à fase de divulgação, crucial para que o projeto pretendido alcance a meta estipulada e seja concretizado.

‘Cara de Pau’

Milena Azevedo, sócia da MBP (facebook.com/mbpquadrinhos), de Natal (RN), selo editorial que apoia projetos editoriais como os Carvalhos, define a vaquinha-online como “cara de pau” já que o autor tem que “convencer as pessoas de que seu trabalho é interessante e que merece sair da gaveta ou espaço virtual e se materializar”, contou.

“Optei pelo crowdfunding porque fazer um livro desvinculado da editora tem um custo muito alto para se tirar do bolso”, explica Ana Luiza. “Desta vez, firmei parceria com a MBP, que vai me ajudar nas vendas e na questão burocrática de registro do livro”. Apesar da parceria, a “cara de pau” é toda da quadrinista. “A campanha está sob minha responsabilidade”, explicou.

Vantagens

Além de minimizar riscos e possíveis perdas financeiras caso o projeto não seja 100% financiado e minimizar o tempo de retorno do investimento, a vantagem da vaquinha online é indiscutível. “A falta de burocracia tanto para colocar a campanha no ar quanto no pós-campanha, ou seja, no momento do repasse do dinheiro angariado”, pondera Milena Azevedo.

Para muitos autores, artistas, músicos, companhias culturais, e ONGs, o crowdfunding tem sido a “vaquinha dos ovos de ouro” ao ajudar colocar em prática boas ideias.

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