14/12/2020

A população e a segunda onda

Por Maurício Juvenal/ Colaborador em 14/12/2020 às 09:49

CORONAVÍRUS E FIM DE ANO – E cá estamos nós, no finalzinho do ano, envolvidos com os números. Eles foram a base de nossa atuação ao longo de 2020, e estiveram mais presentes do que nunca na vida de todos, por conta da Covid-19, uma pandemia que pegou a todos de surpresa e que, por sua dimensão, não ficou restrita ao campo da saúde. Tudo nela virou uma equação: matemática, econômica, política e, óbvio, também social.

Desde fevereiro, quando o primeiro caso foi registrado, e justamente no estado de São Paulo, exatas 179.765 pessoas foram à óbito no país, das quais 43.661 em São Paulo e 2.555 na Baixada Santista. Os óbitos totais no Brasil correspondem, triste e assustadoramente, à soma da população de Itanhaém (103.102) e Peruíbe (69.001). Fossem todas as mortes concentradas ali, seria como se ambas as cidades sumissem do mapa.

Para fechar o ano, a Badra Comunicação não se furtou ao desafio de entender, e mais uma vez no território, como andam a cabeça e o coração dos moradores das nove cidades da Região Metropolitana da Baixada Santista, quando o assunto é a doença. De novo, nosso foco foi compreender razão e sentimento transformados em comportamento.

Num levantamento estatístico inédito, a empresa ouviu, ao longo dessa semana (de 7 a 11 de dezembro), 6.200 moradores das noves cidades que compõem a região. A amostra para os municípios com até 200 mil moradores, casos de Peruíbe, Itanhaém, Mongaguá, Bertioga e Cubatão, foi de 600 entrevistas. Já em Praia Grande, São Vicente, Santos e Guarujá foram ouvidos 800 moradores.

O resultado é no mínimo instigante. Depois de dez meses convivendo diariamente com o fator Covid-19, nada menos do que 37,9% dos ouvidos afirmam não concordar com a intensificação das medidas de restrição à circulação de pessoas e ao funcionamento do comércio impostas pelo governo do estado, na fase amarela do chamado Plano São Paulo. Para eles, cada um tem o direito de decidir livremente como agir frente à pandemia. Absurdo? Nem tanto.

A verdade é que todos nós, de certo modo, estamos exauridos pelo excesso de intervenção do estado em nossas vidas. Pior, quando o entendimento da opinião pública até clamava pela presença do estado, o que se viu foram respostas e decisões evasivas e divergentes. E quando ninguém parece saber direito o que fazer ou como decidir, decido eu mesmo.

O mais danoso é que, depois de quatro ou cinco décadas de um discurso de valorização do mercado como melhor regulador da vida social, quando o estado é chamado à responsabilidade, no sentido de salvar e proteger a vida das pessoas, ele se mostra incompetente ao bancar uma equação fatal entre vida e economia, como se alguém tivesse realmente dúvida do que é mais importante: a vida! (Até porque, sem ela, nem existe a economia…).

E nem mesmo o noviciado e ou ineditismo do tema justificam o viés totalmente político que foi emprestado a ele, do início ao fim, da circulação ou não de pessoas à vacinação ou não de pessoas. Então para quê o estado? São muitas as leituras do levantamento realizado pela Badra. Mesmo entre aqueles que concordam com a adoção de medidas mais restritivas, 58,2% do total de entrevistados, só 34,5% afirmam que vão cumpri-las à risca. Os outros 23,7% até concordam, mas não vão seguir as determinações, pois têm que continuar com as suas atividades.

Está dado o recado. Nesse momento, qualquer decisão oficial ou plano estratégico que não contemple o pensamento-sentimento da população está fadado ao fracasso, à baixa adesão. E não porque as pessoas não são capazes ou não querem permanecer em suas casas, mas porque ninguém está pronto para isso, porque alternativas assertivas e eficazes não foram dispostas pelo estado.

Menos mal, mirrados 3,3% dos entrevistados entendem que ?a situação não é tão grave quanto se anuncia?, isto é, a imensa maioria tem consciência da gravidade que a Covid-19 representa. Tem consciência, mas está saindo de casa. O levantamento foi direto ao ponto e perguntou: com qual frequência você tem saído de casa? Cerca de 55% dos entrevistados informaram sair praticamente todos os dias, e, em alguns casos, mais de uma vez por dia. Na outra ponta, 34% afirmaram não sair ou sair raramente, só quando de fato é essencial. Os poucos mais de 10% restantes representam os que saem dia sim, dia não, e os que dizem sair em média uma vez por semana.

Revelador mesmo é o cruzamento que mostra que quase 100% dos que entendem que cada um tem o direito de decidir como quer agir frente à pandemia estão no grupo dos que saem de casa praticamente todos os dias. Eles estão certos ou errados? Agem com ou sem cuidado com a vida coletiva? São espectadores ou protagonistas do que está acontecendo à sua própria volta? São povo ou são público, se olharmos pela secular provocação do jornalista e escritor Lima Barreto?

Talvez sejam essas as perguntas que ficarão sem resposta, mas que, com toda certeza, permitem um debate saudável, em meio à doença, sobre o papel e a responsabilidade de cada um nas crises coletivas, na certeza de que cada um é responsável não só por aquilo que faz, mas também naquilo que se omite.

Coronavírus continua sendo o termo mais pesquisado do ano na plataforma google. E seguramente o retrato produzido pela pesquisa Badra na Região Metropolitana da Baixada Santista não é muito diferente do encontrado no restante do estado, no Brasil e no mundo. Tudo parece muito incerto, até nas certezas que ninguém tem.

E você, vai tomar a vacina? Está aí um bom tema para a próxima pesquisa.

A íntegra da pesquisa pode ser conferida neste link .

Nesse ano tão difícil de 2020, a Badra realizou 87 levantamentos estatísticos de dados e ouviu mais de 117 mil pessoas, em 23 diferentes municípios, contribuindo assim para ampliar o conhecimento em assuntos diversos da vida do povo paulista.

Apesar de todo o cenário imposto pela pandemia, uma pequena empresa nascida em Mongaguá, litoral sul de São Paulo, contribuiu diretamente para que 93 pessoas tivessem trabalho e renda ao longo de 2020. A esses trabalhadores que fizeram parte das nossas realizações e ao público que aceitou responder nossas pesquisas, bem como aos nossos parceiros sempre dispostos a divulgar nosso trabalho, nosso reconhecimento e, principalmente, a esperança de um afetuoso abraço ?ao vivo? para celebrar novos espaços e conquistas em 2021.

(*) Maurício Juvenal é jornalista, especialista em dados e diretor executivo da Badra Comunicação.

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