25/10/2021

'A História da Minha Esposa' chega à Mostra de SP

Por Folha Press em 25/10/2021 às 12:27

A História da Minha Esposa, da húngara Ildikó Enyedi, que também está na Mostra de Cinema de São Paulo, é uma dos quatro filmes com diretoras mulheres que deu mais destaque ao ponto de vista masculino entre o que competiram no Festival de Cannes deste ano.

Baseado no romance de mesmo nome de seu compatriota Milán Füst, o longa acompanha as desventuras do casamento do capitão de navio Jakob Störr, interpretado pelo holandês Gijs Naber, com Lizzy, papel da francesa Léa Seydoux.

Pragmático e cartesiano, Jakob encontra um conhecido durante uma licença em terra e cede ao desafio de se casar com a primeira mulher que encontrasse.

É Lizzy que ele vê no salão de chá em que está. A promessa é cumprida e o empurra para uma relação incerta e desconcertante.

Ao privilegiar o ponto de vista masculino, seu objetivo era permitir ao espectador se perder junto com o personagem, disse a diretora em julho numa entrevista em Cannes. Mas o contraste dessa escolha com a valorização crescente da representação feminina deu ao filme uma recepção pouco entusiasmada no festival. A opção por uma adaptação literária tradicional também não ajudou.

“Foi como entrar numa festa descolada com um vestido comum. Em vez de perguntarem sobre a escolha, os outros convivas simplesmente a consideraram inadequada”, disse a diretora, atribuindo a reação a “um mal-entendido”.
Füst, que era judeu, escreveu o livro durante a Segunda Guerra Mundial em Budapeste, quando sua própria vida estava em perigo, conta a diretora.

“Sua essência não é a história de amor. É como viver nossa vida tão frágil, em que há riscos e podemos nos machucar. O que suas mais de 400 páginas dizem é que tentar ter controle de tudo é um erro”.

Segundo Enyedi, o que ela tentou mostrar “da forma mais sutil possível” é a descoberta pelo capitão de que suas habilidades tão masculinas são inúteis para resolver os problemas que a mulher lhe traz.

“Vejo isso como uma despedida muito gentil e terna do patriarcado. Estou tentando entender tantos homens como Jakob, que só receberam esse conjunto de habilidades”.

A câmera fixa, que se demora em elementos simples –madeira, cordas, aço, correntes–, faz referência justamente à rigidez do capitão, quebrada pela complexidade da luz.

Embora o ponto de vista de Lizzy nunca apareça, é ela quem conduz as mudanças, afirma a diretora. “É como um mestre zen, que não ensina, mas faz aprender. É por causa dela que no final Jakob pode ganhar flexibilidade em sua vida”.

A diretora contou que não tinha certeza sobre a adequação de Seydoux ao papel, por a considerar muito exuberante e cheia de energia. Aceitou encontrar a atriz a pedido de seu produtor francês e viu nela a vulnerabilidade necessária para viver Lizzy. “Léa conseguiu dar profundidade a um papel que nunca está no centro da narrativa”.

“A História de Minha Esposa” é o primeiro filme rodado em inglês pela húngara, que tem 66 anos e ganhou fama em 2017, ao receber o Urso de Ouro em Berlim por Corpo e Alma, também indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

É seu nono longa-metragem desde que estreou, em 1989, com My Twentieth Century, vencedor em Cannes da Câmera de Ouro de melhor primeiro filme.

loading...

Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.