18/04/2014

'A doença não é o fim de tudo, é o recomeço', diz jovem que venceu o câncer

Por Elaine Brazão/Santaportal em 18/04/2014 às 08:15

Leonardo Moraes tem apenas 19 anos, mas seu currículo de superação surpreende. Lutador de taekwondo desde os oito anos, está há três como líder do ranking nacional e foi eleito recentemente o melhor atleta universitário de 2013. Mesmo com uma carreira invejável no esporte, sua maior vitória foi fora dos tatames.

Aos dois anos foi diagnosticado com um tumor no rim esquerdo. Logo começou com os tratamentos necessários, como a quimioterapia e a radioterapia, em um processo que durou até seus oito anos, quando foi liberado pelo departamento médico. “Foi um processo muito difícil não só para mim, mas principalmente para minha família, porque era muito pequeno e não entendia muitas coisas”, recorda.

Pouco depois, ainda aos oito anos, Moraes iniciava no taekwondo, esporte que se tornou sua grande paixão. “Tentei outras modalidades como judô, jiu-jítsu, karatê e boxe. E o taekwondo, não sei por quais circunstâncias, acho até que pela mobilidade, pela diversidade de chutes, de movimentos foi o escolhido”.

Logo no início da carreira de atleta, vieram os resultados. “Ganhei meu primeiro título na faixa branca, ainda bem iniciante, mas lutei uma categoria acima da minha, na faixa amarela.” Ali começou uma história vitoriosa que teve como ápice do sucesso o bicampeonato Paulista Junior, e da Copa São Paulo, além de tornar-se campeão Brasileiro e Universitário Júnior.

No ano passado, quando vivia seu auge na modalidade, veio a notícia de que o atleta teria um nódulo no lado esquerdo do pulmão. “Aí foi mais um período difícil, mais uma cirurgia”, conta.

Com todos esses acontecimentos, ele tira uma lição. “Existem pessoas que com a doença, com o câncer, com o tratamento, acaba se colocando para baixo, ficam se achando um coitado, um incapaz. Sempre coloquei as cirurgias, os tratamentos, a doença em si como ponto positivo. Então, por tudo que já passei na minha vida, o que vier pra mim agora é lucro, o pior já passou”, afirma.

Exemplo
Moraes virou palestrante no hospital onde se tratou, o A. C. Camargo, em São Paulo, onde conversa com crianças e jovens que passam pelo mesmo problema. Nos encontros anuais, o atleta conta sobre sua vida de esportista e sua relação com a doença. “A doença não é fim de tudo, pelo contrário, é o recomeço”, explica.

“Não é o fato da doença que vai fazer que ela seja menos capaz ou inferior as outras pessoas. Lógico que é um processo difícil, que leva tempo, mas eles têm que entender que depois que ele passa por esse período, a vida continua. Ele vai trabalhar, vai constituir a família, vai seguir em frente e vai realizar seus sonhos”, acrescenta.

Nessa troca de experiências, ele destaca a inspiração que se torna para aqueles jovens, que consequentemente, servem como um impulso para ir cada vez mais longe. “Têm crianças que dizem ‘quero ser igual a você, quero ganhar um medalha, quero ser atleta’. Então, isso é um incentivo muito grande e não tem dinheiro que pague”, diz.

No bate-papo ele tenta passar a eles sua vivência como atleta. “Uma das maiores experiências que podemos passar é a perseverança, porque nem sempre ganhamos uma competição de primeira. Às vezes temos que perder, ser testados para ver se é isso mesmo que queremos”.

O reconhecimento do esporte
“O Brasil é o país do futebol, isso já está introduzido e devemos respeitar. O investimento na modalidade é absurdo e ele tem que existir, porque somos pentacampeões mundiais mas temos outras modalidades com outros tantos talentos que precisam ser aproveitados”, desabafa.

Segundo Moraes o patrocínio só vem quando se obtém uma grande conquista, como um campeonato mundial ou uma medalha olímpica. “Você primeiro precisa ser ‘o cara’ (do esporte), para, aí sim, conseguir um apoio, fechar um contrato, quando o caminho deveria ser o inverso”, conta. “Para conquistar isso, precisa-se de uma sequência de campeonatos que valem pontos no ranking, mas o custo com passagens e hospedagens é muito grande”, afirma.

Futuro
Bem de saúde, o atleta pretende continuar lutando, representar o País no exterior e colecionar diversas medalhas e muitas experiências, além de conhecer o mundo por meio do esporte. Quando a carreira de esportista chegar ao fim, o estudante de Educação Física fará pós-graduação, mestrado e doutorado e será professor de taekwondo em uma academia que sonha em montar. “Quero viver desse esporte que amo e que sei fazer”, resume.

O lutador termina a entrevista com um agradecimento especial aos pais, aos quais sempre o apoiaram. “Se eu não tivesse incentivo deles, talvez não tivesse tanta vontade de vencer. Sempre que vou lutar penso nos meus pais e meu irmão, e isso me dá uma força maior para vencer”, conta.

E deixa um conselho aos que passam pelo mesmo problema. “Seja qual for seu problema passe por ele, lute contra essa dificuldade porque depois que você supera, verá que se tornou uma pessoa mais capaz, mais forte, principalmente psicologicamente. Procure não fugir disso, isso fará com que se torne um ser humano melhor”, finaliza.

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