Traumas desenvolvidos na infância podem impactar vida adulta, apontam especialistas
Por Maria Clara Pasqualeto em 05/04/2025 às 13:00

Um estudo com 4 mil jovens brasileiros, divulgado pelo Jornal da USP (Universidade de São Paulo), aponta que mais de 80% passaram, ao menos, por um evento traumático até os 18 anos, apresentando impactos na saúde mental que estão associados a mais de 30% dos transtornos psiquiátricos em adolescentes. Além disso, de acordo com uma pesquisa da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), uma das causas continua sendo a violência sexual no período da infância, com cerca de 410 a 650 milhões de crianças afetadas. Entenda os perigos dos traumas de infância na vida adulta abaixo.
O que é trauma?
“Trauma” é um termo cada vez mais utilizado, atualmente, para se referir a experiências dolorosas. A palavra, de origem grega, significa “ferida”. De acordo com a psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia da Unisanta, Gisela Vasconcellos Monteiro, as causas podem ser inúmeras.
“Um trauma é uma experiência arrasadora, intensa, profunda que afeta o corpo e a mente de uma pessoa e que repercute a longo prazo. Então, podem ser experiências de violência, maus tratos, desastres naturais -inundações, desabamentos-, situações como guerra, assaltos, violência urbana, sequestro, abuso sexual, negligência… toda e qualquer experiência que seja aguda, intensa e marcante”.
Impactos do trauma
Gisela explica que é como se as lembranças dolorosas que originam o trauma ficassem “guardadas” na cabeça das pessoas.
“Essas experiências ficam ‘inscritas’ no cérebro, no corpo e no psicológico de cada pessoa. Então, caso a experiência traumática seja vivenciada na infância, há uma série de pesquisas que mostram alterações cerebrais presentes, afetando a percepção da realidade”.
Do mesmo modo, a psicóloga menciona que as reações são variadas, e diferem de pessoa a pessoa. Contudo, a ansiedade é um dos sintomas mais comuns:
“Como exemplo, em uma experiência de ter sido espancada por um homem adulto, a criança pode desenvolver o medo de se relacionar com um adulto, e pode ficar ansiosa. O medo causa a tensão, e a tensão, sendo vivenciada sempre, cria uma situação crônica, como se fosse uma ansiedade. Pode afetar sono, padrão de alimentação, entre outros”.
Cuidados na infância
Gisela finaliza destacando que os cuidados e tratamentos são divididos em setores diferentes, e é necessário analisar as circunstâncias e adaptar-se de acordo com questões individuais.
“Para lidar com o trauma, hoje se entende como um tratamento de três âmbitos: o âmbito do cérebro-que envolve medicações, afetando a química e tornando a experiência menos intensa, logo, a pessoa fica mais capaz de suportar as atividades do dia a dia-, da psicoterapia -que envolve a palavra, ou seja, falar sobre a experiência emocional, dar um significado a ela, pensar sobre ela-, e o último é o do corpo -o corpo também funciona em um ‘modo de estresse’ e também é canal de expressão de sentimentos. Ou seja, é um tratamento que permite que o indivíduo se conecte ao próprio corpo, adequando suas próprias emoções”.
A especialista também menciona atividades que permitam expressar suas emoções, adequando-se aos gostos pessoais, como a dança. Além disso, o apoio de amigos e familiares torna-se fundamental.