Jovem supera condição rara e brilha nas orquestras com violino adaptado
Por Alanis Ribeiro em 07/08/2023 às 06:00
Desacreditado pela medicina após ser diagnosticado com a Sinostose Radioulnar Bilateral, o jovem Arthur Tavares, de 13 anos, superou todos os preconceitos e se tornou participante do projeto Cubatão Sinfonia, além da Orquestra Camerata Santista, com seu violino e violoncelo adaptados.
Com cerca de quatro anos, seus pais, Marcelo de Jesus (46) e Thais Clemência Tavares (45), notaram uma diferença nas suas mãos e braços, e imediatamente levaram a um profissional especializado, onde Arthur foi diagnosticado com a Sinostose Radioulnar bilateral, que é uma malformação rara do desenvolvimento ósseo caracterizada. Diante disso, o pequeno Arthur foi informado que passaria por grandes limitações.
Como forma de prevenção para assegurar e prevenir futuras complicações, os pais consultaram outros ortopedistas com o objetivo de buscar uma segunda opinião. No entanto, durante esse período optaram por colocar Arthur para fazer fisioterapia, onde acreditavam que isso melhoraria sua condição. Posteriormente, descobriram que não surtiria efeito.
Por fim, consultaram a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Santos (Apae) que informou que uma cirurgia não surtiria resultado positivo.
Mesmo com essa realidade que o acompanhará por toda sua vida, aos oito anos, Arthur desenvolveu o amor pela música, onde iniciou um curso de musicalização.
A imersão no violino foi imediata, mas por conta de sua situação foi desacreditado mais uma vez, por não ter rotação necessária nos punhos para empunhar o violino.
Os pais relembram terem sidos chamados para conversar, e uma professora disse que ele nunca poderia tocar violino profissionalmente. Após dias angustiantes, Arthur revelou aos pais: “Meu sonho é ser violinista”.
A partir desse momento, Arthur permaneceu enfrentando dificuldades para manusear o instrumento, até que um professor adaptou todo o violino, incluindo a inversão das cordas, para que ele pudesse seguir seu grande sonho.
“Desde quando ele começou a tocar, aos 8 anos, já nos proporcionou muitas emoções e isso nos motiva a incentivá-lo a nunca desistir”, declara o pai.
No período pandêmico, sua evolução musical permaneceu sendo constante, mas somente com o retorno das aulas presenciais neste ano, ficou ainda mais nítido o seu talento e dedicação pela música. Dessa forma provou que poderia traçar seu próprio futuro.
Como fruto de seus esforços, conquistou grandes espaços como solista em lugares de prestígio, como o Teatro Municipal de Santos, Concha Acústica de Santos, Teatro Rosinha Mastrângelo,Teatro do Kaos Cubatão, entre outros.
“Em cada passo que dou, me sinto cada vez mais honrado por ver minha família chorar de emoção e alegria quando toco, mesmo tendo as dificuldades do dia a dia, pois sei que é uma vitória de todos nós”, disse o músico.
Apesar da sua evolução, o jovem Arthur foi direcionado para buscar a evolução em outro instrumento, o violoncelo, pois futuramente encontraria uma grande dificuldade para prosseguir como violinista profissional, por conta da sua limitação de movimentos.
“Nós da família sentimos um misto de emoções, tendo altos e baixos, mas principalmente o sentimento de amor incondicional. Nossa torcida é fervorosa, comemoramos cada evolução, porque sabemos que cada passo que ele dá na música é com grande dificuldade”, acrescenta o pai.
Ainda que permanecesse encontrando alguns obstáculos pelo caminho, grandes pessoas também eram colocadas em seu caminho.
“Você vai continuar tocando violino para sempre, mas precisa ser música popular, e para tocar profissionalmente em orquestras, você terá que evoluir para o violoncelo. Eu sei que dentro de algum tempo, você tocará pelas orquestras do mundo”, declarou o maestro-adjunto da Orquestra Cubatão Sinfonia, Rômulo Moreira, de 31 anos.
Com o apoio da família e de seus professores, o jovem Arthur continua conquistando grandes vitórias. Atualmente, ele faz parte do projeto Cubatão Sinfonia e da Orquestra Camerata Santista, onde continua superando os limites impostos.
“Creio que esse problema que tenho nos meus braços é um propósito de Deus na minha vida, porque se não tivesse essa condição, eu seria só mais um violinista e violoncelista no mundo. A música significa paixão, mesmo com essa dificuldade, eu não desisto. Sei que tenho pessoas que me amam me ajudando”, finaliza o jovem músico.
Afinal, você sabe o que é Sinostose Radioulnar Proximal Congênita?
A Sinostose Radioulnar Proximal Congênita é uma doença rara que consiste em uma ligação anormal entre os ossos do antebraço rádio e ulna, ou seja, é uma má formação no desenvolvimento ósseo.
Não há cura e causa restrição de movimento do antebraço, em particular na rotação (pronação e supinação), embora geralmente não seja doloroso, a menos que cause subluxação da cabeça do rádio.
A má formação pode ser descoberta antes dos cinco anos de idade, dependendo do caso podendo seguir com fisioterapia se não houver comprometimento funcional.