Santos FC, o clube que aprendeu a fazer amizade com os raios
Por Santa Portal em 14/04/2025 às 10:00

Em um 14 de abril como este, mas lá em 1912, os esportistas Francisco Raymundo Marques, Mário Ferraz de Campos e Argemiro de Souza Júnior se reuniram na antiga sede do Clube Concórdia, na então Rua do Rosário, número 18. Hoje, o endereço mudou de nome, mas a essência ficou: ali nascia o Santos Foot-Ball Club, um clube fundado para praticar um futebol que ainda dava os primeiros passos no Brasil.
Logo no ano seguinte, o Santos – então azul e branco, com detalhes dourados – já dava seus primeiros passos rumo à história, conquistando o Campeonato Santista de 1913 e repetindo o feito em 1915, mesmo sob o apelido de União Futebol Clube, uma exigência burocrática da época.
Contudo, foi em 1927 que o clube realmente começou a escrever poesia com a bola nos pés. Um ataque lendário, batizado de ‘Ataque dos 100 gols’, registrou uma média de 6,25 gols por jogo no Campeonato Paulista – um recorde que o tempo respeita até hoje. Omar, Camarão, Feitiço, Araken Patuska e Evangelista formaram a linha de frente que deixou, e ainda deixa, o torcedor acostumado com o futebol ofensivo, enraizado no famoso DNA Santista.
Em 1935 veio o primeiro título paulista, conquistado longe da Vila, na Capital. Depois, nos anos 1950, as vitórias voltaram a aparecer – e com elas, um certo garoto de Três Corações que mudaria para sempre a história do esporte. Pelé, ainda jovem, já era Rei. E com ele vieram as taças: seis Campeonatos Brasileiros, duas Libertadores, dois Mundiais, entre outras conquistas.
Em 1958, o Rei, ao lado de Zito – o eterno capitão – e Pepe – o Canhão da Vila – liderou a Seleção ao seu primeiro título mundial. Definitivamente, o Santos não era mais só um clube, era a imagem do futebol brasileiro para o mundo. O Peixe ultrapassou as quatro linhas de um campo de futebol: parou uma guerra na Nigéria em 1969, encantando os continentes e mostrando que, da cidade pequena do litoral paulista, podia sair um gigante.
No entanto, nem só de vitórias se vive uma paixão. Vieram as secas, como entre o Paulistão de 1984 e o Brasileirão de 2002. Foram quase duas décadas formando torcedores resilientes. Os ridicularizados ‘Meninos da Fila’ comemoraram, com a voz embargada, o chute do lateral-esquerdo Léo – de perna direita – que estufou as redes do goleiro Doni e pôs fim à seca. Recentemente, o tombo mais doído: o rebaixamento em 2023, manchando uma história até então imaculada.
Após viver o momento mais amargo de sua doce história, o Santos chega ao seu 113º aniversário em reconstrução, é verdade, mas como um símbolo de resistência. Porque o torcedor santista não vive preso ao passado – ele se alimenta dele para seguir em frente. O Santos é o clube que nunca teve tudo à disposição, que enfrentou gigantes com a força da base, que cresceu em meio a marés contrárias, que nasceu de três sonhadores e virou o time de milhões.
É difícil explicar o amor por esse manto branco. E talvez nem seja preciso. Porque quem vive o Santos sabe: durante as tempestades, o Clube aprendeu a fazer amizade com os raios. E foram muitos vitoriosos – de Araken a Neymar, que, em janeiro, voltou à Vila Belmiro para exemplificar que, mesmo em meio às adversidades, nascer, viver e no Santos morrer nunca deixará de ser um orgulho. Porém, infelizmente, nem todos podem ter.