Mães cientistas lutam por saúde mental e igualdade no meio acadêmico
Por Beatriz Pires em 12/12/2024 às 11:00
Muito se fala sobre o quão linda é a maternidade, mas a saúde mental das mães é uma questão que muitas vezes fica à margem do debate. Segundo um estudo da Universidade Federal Fluminense (UFF), mães cientistas são mais vulneráveis a desenvolver depressão, especialmente quando as cobranças entre a vida acadêmica e a maternidade entram em conflito. Na Baixada Santista, a situação não é diferente. Mulheres enfrentam a pressão de serem bem-sucedidas em suas carreiras e, ao mesmo tempo, oferecer atenção integral aos seus filhos.
A professora doutora Priscila Fernanda Gonçalves Cardoso, cofundadora do coletivo Materna Ciência, conhece bem essa realidade. Coordenadora do curso de Serviço Social na Unifesp em Santos há um ano, mãe solo de Maria, de 7 anos, e com uma rede de apoio limitada, Priscila foi afastada por síndrome de burnout. Sua história reflete dados preocupantes: mulheres mães, acima dos 40 anos, apresentam maior prevalência de depressão e burnout no meio acadêmico.
“No início da pandemia, uma publicação de uma revista estrangeira destacou a queda no envio de manuscritos por mulheres, enquanto o número de submissões feitas por homens aumentava. Isso nos chamou atenção e começamos a estudar o tema, mesmo diante das múltiplas tarefas de sermos mães e cientistas”, relata Priscila.
Em 2017, o grupo Parent in Science realizou uma pesquisa nacional que revelou que cerca de 80% das mulheres acreditam que a maternidade teve um impacto negativo em suas carreiras acadêmicas. Priscila argumenta que a busca incessante por produtividade e a meritocracia acabam criando um abismo ainda maior entre homens e mulheres.
“Dividir o tempo entre trabalho e casa é um fator que afasta as mulheres da equidade no ambiente acadêmico e doméstico”, afirma.
A pandemia foi um divisor de águas, intensificando o esgotamento das mulheres acadêmicas. Buscando soluções, o grupo Materna Ciência apresentou um documento à reitoria da Unifesp, sugerindo políticas para apoiar mães cientistas. Uma das conquistas foi a aprovação pela Câmara de Pós-Graduação e Pesquisa da ampliação, por até três meses, do prazo para conclusão de teses de estudantes de mestrado e doutorado que tirassem licença-maternidade.
“Essa desigualdade é evidente. Enquanto 20% dos pais acadêmicos têm maior propensão à depressão, esse número sobe para 42% entre as mães, mais que o dobro. Para mulheres negras ou mães de crianças com deficiência, o impacto é ainda maior”, destaca Priscila.
A falta de acolhimento e compreensão sobre a jornada da mulher mãe no período da maternidade agrava essa situação. Pesquisas mostram que, nos primeiros anos de maternidade, há uma queda significativa na produtividade acadêmica, muitas vezes levando ao desligamento de cursos de pós-graduação ou à recusa de bolsas. No competitivo universo acadêmico, esses fatores contribuem para o desenvolvimento de transtornos mentais, perpetuando a desigualdade de gênero.