Mulher denuncia maternidade após bebê nascer sem vida em Santos

Por Marcela Ferreira em 11/07/2022 às 17:54

(Foto: Arquivo Pessoal)
(Foto: Arquivo Pessoal)

A jovem Adriana Suely de Paulo Navarrete, de 23 anos, sofre até hoje com a dor do luto após sua bebê, Liz Maria, nascer morta. Ela denuncia a maternidade onde buscou atendimento, em Santos, por negligência, após uma experiência traumática na unidade. Segundo ela, todos os exames desde que ela deu entrada no hospital estavam ótimos, indicando que ela e a bebê estavam saudáveis. Mesmo assim, a criança nasceu sem vida.

Adriana diz ainda que foi convencida o tempo todo pela equipe médica a tentar ter um parto normal, apesar de seu desejo ser uma cesárea, desde o início, inclusive conforme constava no plano de parto. Após muita demora para a realização da cirurgia, e tentativas de indução do parto, a vontade da mãe foi feita, mas não a tempo de salvar a vida da criança.

Ela deu entrada no dia 14 de junho no hospital, grávida de uma menina. No dia 18 de junho, teve alta e pôde enterrar sua bebê, junto da família. Ao Santa Portal, ela relatou que ainda sofre com o trauma vivido.

Mulher denuncia maternidade após bebê nascer sem vida em Santos
(Foto: Arquivo Pessoal)

Ao chegar no complexo hospitalar, Adriana desejava ter sua filha naquele mesmo dia, e tinha em mãos uma carta de sua médica com as recomendações. “Fui com uma cartinha da minha obstetra alegando que eu tinha que entrar em trabalho de parto porque estava fazendo 40 semanas e alguns dias. Tive uma gravidez saudável, só no último mês tive alguns picos de pressão. Era uma gravidez de alto risco por eu ter problema na tireóide, mas eu fiz tudo direitinho e fui até elogiada pelas médicas”. 

Porém, a equipe médica e de enfermagem a convenceu de que iriam tentar induzir o parto com uso de medicamentos, para que ela tentasse um parto normal, alegando que não havia indicação para cesárea, visto que a mãe e bebê estavam saudáveis, de acordo com os exames.

“Falaram que iriam fazer a indução com o misoprostrol e iam me examinando conforme as coisas fossem acontecendo. Eu confiei muito neles. Demorou bastante para eu subir para o quarto e eles colocaram o primeiro comprimido, eu estava preparada para sentir a dor, e passou uma hora, duas, três, passou a noite, a madrugada, o dia inteiro e nada. Eu fiquei dois dias sem sentir nada, eles colocaram cinco comprimidos. E no decorrer sempre diziam que estava tudo bem com a bebê, e que demorava mesmo”, relata Adriana.

Antes de colocarem o sexto comprimido, o exame CTG mostrou que os batimentos cardíados da bebê estavam mais fracos. A mãe relata que a médica balançou a barriga dela, e que gradualmente, os batimentos foram ficando mais fortes. A médica então suspendeu o uso do “miso”, mas uma enfermeira apareceu mais tarde dizendo que outra médica a orientou a aplicar o remédio novamente. A partir daí, Adriana conta que passou a sentir dores extremamente fortes.

Mulher denuncia maternidade após bebê nascer sem vida em Santos
(Foto: Arquivo Pessoal)

Ela diz que o tempo todo a equipe tentava convencer de que o parto normal seria mais benéfico para ela, e a equipe seguia medindo a dilatação, que demorou a aumentar, além de checar os batimentos cardíacos da bebê. Quando os remédios finalmente começaram a fazer efeito, a dor que a gestante sentiu era insuportável, e ela passou a implorar pela cesárea, até conseguir que sua vontade fosse atendida.

Ao fazer um exame de toque, o médico disse que a bebê havia defecado dentro da barriga. “Ele disse que era normal, falou ‘olha você já está de três centímetros, só que a bebêzinha fez um cocozinho’. Eu olhei pra minha mãe e ela perguntou se era perigoso ela aspirar ou comer, mas responderam que era normal, que o intestino dela estava funcionando e ela está pronta para nascer”.

O tempo todo a equipe que realizava os exames a tranquilizava sobre a situação da bebê, que já a deixava preocupada, porque durante todo o dia, não sentia a bebê se mexer, como fazia de costume.

Após a cesárea, a bebê nasceu morta. “Foi uma coisa muito fora do contexto, muito fora do normal. Alguma coisa aconteceu e vai ter que ser explicado. Não foi uma fatalidade, não foi um problema de saúde, tanto que quando eu percebi que ela não tinha sobrevivido, eu perguntei várias vezes dentro da sala de cirurgia ‘ela não respirou? Ela não está respirando?’ E o médico não me deu a notícia de que ela não tinha sobrevivido, esperaram o chefe deles para me dar a notícia de quem minha neném tinha morrido. O neonatologista me explicou o que ele fez, que ele tentou, mas não deu certo, foram quarenta minutos de massagem cardíaca, mas ela não chegou nem a dar nem sinal”, diz Adriana.

A família registrou um boletim de ocorrência sobre a morte da bebê, e agora busca ajuda judicial para entrar com uma ação contra o hospital.

O que diz o hospital

Em nota, o Complexo Hospitalar dos Estivadores explicou que realizou todos os procedimentos necessários. Leia na íntegra:

O Complexo Hospitalar dos Estivadores evidenciou que todos os recursos assistenciais necessários para o atendimento da paciente em questão foram empregados. 

O processo de preparo e indução ao trabalho de parto utilizado no hospital segue o que é preconizado pelo Ministério da Saúde e pela Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 

No Complexo Hospitalar dos Estivadores, mulheres que desejam a via de parto cesariana têm sua vontade respeitada, desde que sejam resguardadas dos riscos clínicos e cirúrgicos envolvidos nesta escolha. 

O evento de óbito é catastrófico para todos. Lamentamos profundamente pela perda desta família e continuaremos acolhendo e dando total apoio aos envolvidos”.

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