Médica veterinária negra de Santos é imortalizada na Academia Paulista
Por Rodrigo Cirilo em 25/07/2023 às 06:00
Para celebrar o Dia da Mulher Negra (25 de julho), o Santa Portal conversou com a santista Agar Pérez, médica veterinária e pesquisadora científica dona da 31ª cadeira de novos membros da Academia Paulista de Medicina Veterinária (Apamvet). A cerimônia de posse aconteceu no dia 7 de julho, na Universidade de São Paulo (USP).
Aposentada desde 2019, Agar dedicou 43 anos de sua vida ao Instituto da Pesca, sendo 24 em São Paulo e outros 19 em Santos. Atuando como pesquisadora científica, a santista colaborou no diagnóstico das doenças que surgiam nas pisciculturas, que é a produção de peixes em ambientes controla-dos.
“A maior contribuição foi trabalhar junto aos piscicultores mostrando a eles a importância de se trabalhar com boas práticas na Piscicultura, ou seja, aplicando o manejo sanitário, indispensável para qualquer criação”.
Apesar de ter se tornado referência acadêmica na área da Aquicultura, ciência que estuda técnicas de cultivo de organismos aquáticos, esse não era o foco do início de sua carreira.
“Não conhecia a carreira de pesquisador científico. Quando saí da faculdade, entrei no Instituto da Pesca como médica veterinária. Sendo servidora pública, surgiu a oportunidade de concurso para a carreira de pesquisador, algo inédito para mim”.
Agar já ministrou aulas em universidades e atualmente é presidente da Comissão Técnica de Aquicultura, onde tem como atribuição o estudo e apreciação de temas relacionados ao agronegócio.
“A comissão levanta a discussão, junto ao Conselho de Medicina Veterinária, sobre a necessidade de habilitar os estudantes de Medicina Veterinária em noções de aquicultura, anatomia e fisiologia, patologia, diagnóstico laboratorial, epidemiologia e inspeção de pescado, para que estes possam exercitar a defesa sanitária em peixes de criação”.
Por conta de seu contínuo trabalho em prol da Medicina Veterinária, Agar tomou posse na 31ª cadeira de novos membros da Apamvet. Lisonjeada, a santista revela que a indicação foi inesperada.
“Sensação de dever cumprido, honra e gratidão pelo reconhecimento do meu trabalho, que sempre procurei fazer da melhor forma possível, seguindo os preceitos da ética profissional. Nunca pensei que eu pudesse ocupar um lugar de destaque, porque o que fiz foi trabalhar na defesa e no engrandecimento da Medicina Veterinária”.
Preconceito
Uma das poucas mulheres negras na Medicina Veterinária, Agar sofreu discriminação, porém de forma discreta. Refletindo sobre o passado de sua vida acadêmica e profissional, a santista explica que esse preconceito é sintoma do racismo estrutural presente no Brasil desde o descobrimento.
“Conheci um número reduzido de mulheres negras na minha área durante a vida profissional, talvez pela falta de acesso a uma educação de qualidade e oportunidades profissionais. Sempre aconteceram episódios de discriminação, mas sempre de forma velada, devido à sutileza como ocorriam. Por isso, eu não os defina como racismo e misoginia”.
Exemplo de superação a barreiras impostas pelo preconceito, a pesquisadora científica motiva outras mulheres negras que sonham em ter uma carreira bem-sucedida na área.
“Ter foco, estudar, ser perseverante, não desistir diante às adversidades, acreditar no seu potencial, honrar a ética profissional, ser solidário e multiplicar o conhecimento técnico-científico a todos que estão ao seu redor”.