Juiz decreta preventiva de acusado de matar mulher trans em hotel de Santos

Por Marcela Morone em 26/10/2024 às 06:00

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Autuado em flagrante sob a acusação de matar uma mulher trans em um hotel na Vila Mathias, em Santos, o engenheiro Antonio Lima dos Santos Neto, 45 anos, teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Luiz Francisco Tromboni durante audiência de custódia, sendo encaminhado ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de São Vicente.

Preliminarmente, o acusado foi enquadrado pela delegada Mariana Castro Lopes Pilotto, da Central de Polícia Judiciária (CPJ), no crime de homicídio simples, punível com reclusão de seis a 20 anos. No entanto, as investigações prosseguem e essa tipificação poderá ser alterada para outra mais severa ou mais branda.

Ainda não foi juntado aos autos o laudo do exame necroscópico, que determinará a causa da morte de Luane Costa da Silva, de 27 anos. Moradora em Santo Antônio de Jesus, no recôncavo baiano, a vítima era conhecida por Morena Teimosinha e viajou a passeio a Santos acompanhada do seu companheiro, segundo informou esse homem à polícia.

Independentemente de a capitulação jurídica dos fatos ser mantida ou alterada, Trombini considerou que a autuação em flagrante se revestiu de legalidade, não sendo o caso de relaxamento da prisão. Em sua decisão, ele também avaliou ser insuficiente, neste momento, a fixação de medidas cautelas diversas do encarceramento.

“A gravidade da infração e suas circunstâncias peculiares, capaz de incutir temor e de revelar desprezo pelos valores imprescindíveis para a paz social, recomendam a prisão como garantia da ordem pública contra novas investidas”, anotou o juiz. Para ele, a preventiva também é imprescindível para evitar eventual intimidação de testemunhas.

Cronologia do crime

O crime ocorreu na noite de terça-feira (22) no quarto nº 10 do Hotel Danúbio, situado na Rua Rangel Pestana, 86. O engenheiro chegou ao local de carro por volta das 20 horas e se dirigiu a pé à recepção, onde pagou R$ 60,00 pelo período de uma hora. Em seguida, caminhou até a escada, onde Luane o aguardava, e ambos rumaram para a suíte.

Cerca de 15 minutos depois, a recepcionista ouviu barulho de gritos por aproximadamente três minutos, mas não se importou, porque alegou ser comum escutar gritaria no hotel. Por volta das 20h30, Antônio apareceu bastante suado na recepção para entregar a chave do quarto e foi embora com o carro.

A funcionária imaginou que a acompanhante do homem estivesse junto com ele no carro. O crime só foi descoberto momento depois, quando uma camareira entrou na suíte e se deparou a com vítima desacordada no chão entre a cama e uma janela. Às 20h50, Antonio retornou ao Danúbio para buscar o seu celular, que havia deixado na suíte.

Nesse momento, o segurança do hotel já conversava com a mulher do engenheiro por meio do telefone esquecido, o que o deixou assustado. Ao ser indagado sobre o que havia feito com Luane, o acusado fugiu correndo, sendo alcançado e detido na Rua 13 de Maio. Policiais militares foram acionados e conduziram Antonio à CPJ.

Programa e extorsão

Antonio contou em seu interrogatório na delegacia que passava de carro pela Avenida Senador Feijó e se deparou com a vítima, que lhe propôs um programa por R$ 100,00, que teria sido pago de forma adiantada por meio de Pix. Contudo, já no quarto, ele constatou que Luane era trans e não quis mais manter relação sexual.

Conforme a versão do engenheiro, Luane se sentiu humilhada com a recusa e exigiu mais um Pix de R$ 100,00, caso contrário ela faria um escândalo e acionaria a polícia. Antonio relatou que ficou constrangido e receoso, porque é casado e pastor de igreja. Ao tentar sair da suíte e ser impedido pela vítima, travou com ela uma luta corporal.

Ainda segundo o engenheiro, Luane reteve a chave do quarto e investiu contra ele com uma maquinha de choque. Após cair sobre a vítima e perceber que ela não reagia mais, Antonio conseguiu sair do quarto. Ele levou a máquina de choque, que afirmou ter jogado na rua. Casado há 24 anos, o acusado disse ter três filhos, de 11, 20 e 30 anos.

Viagem a passeio

A identidade da vítima, inicialmente, era desconhecida. Porém, posteriormente, um homem compareceu ao 2º DP de Santos, forneceu o documento de Luane e afirmou ser o companheiro dela há três anos e oito meses. Segundo ele, o casal viajou a passeio a Santos, hospedando-se em um apartamento por meio de uma plataforma de locação.

Conforme o relato do companheiro, Luane saiu do imóvel no início da noite de terça-feira para dar uma volta, sem informar o destino, e ele não a questionou, porque essa era a rotina do casal. O homem disse que a vítima realizava programas, mas parou com essa atividade quando passaram a morar juntos.

O companheiro de Luane declarou desconhecer os motivos de a vítima ter se encontrado com um homem em um hotel, porque o casal não mantinha um relacionamento aberto. Por fim, falou que a companheira não era usuária de entorpecentes e nem se envolvia em atividades ilegais. (EF)

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