Estudantes acusam alunos da Fatec de ameaças e injúria racial: 'Chamaram de negrinhas'
Por Rodrigo Martins em 04/04/2023 às 16:20
Duas alunas da Etec teriam sido ameaçadas e vítimas de injúria racial na última sexta-feira (31), após uma discussão com alunos da Fatec, no campus da faculdade localizado na Avenida Senador Feijó, na Vila Mathias, em Santos.
Segundo a estudante Eduarda Chaves, de 17 anos, as agressões verbais por parte dos estudantes da Fatec tiveram início assim que elas entraram no elevador. “Tudo aconteceu na sexta, às 9h40. A minha amiga e eu estávamos saindo da sala de aula para pegar o elevador, era horário de intervalo. Dentro disso, no elevador estavam alunos da Fatec. Como de costume, as pessoas obviamente com o jeitinho ‘malandro’ de levar a vida, não gostam que os alunos da Etec entrem no elevador junto com eles. Eles meio que fazem com o que o elevador fique cheio, mas na verdade não estava. Eles ocupam a frente para o fundo ficar vazio, mas tentando dar uma impressão de que está lotado. Mesmo assim a gente entrou, tinha espaço mais para o fundo”, disse a jovem, em entrevista exclusiva ao Santa Portal.
Eduarda contou que ela e a amiga tentaram ignorar as provocações da dupla, porém o tom das ofensas teria aumentado na sequência. “Um homem branco e a mulher branca começaram a xingar a gente. Eles nos xingaram de idiotas, imbecis, de sem noção. Disseram que a gente não tinha noção de espaço. A gente ficou no celular, tentando não dar atenção, para não piorar a situação. No entanto, quando a minha amiga estava mexendo no celular, a mulher chegou e falou no ouvido dela, em tom de ameaça: ‘Depois acontece o pior e você não sabe o porquê’”, revelou.
A hostilidade não parou por aí. Quando as adolescentes saíram do elevador, Eduarda foi empurrada e, neste momento, elas teriam sido ofendidas com termos racistas. “Na saída para o quinto andar, estávamos dando espaço para as demais pessoas passarem. Foi nesse momento que ele veio me empurrar, de propósito. Eu estava de salto e quase torci o tornozelo. Na sequência, ele foi na direção da minha amiga para empurrá-la, ainda bateu na mochila dela. Depois, eles proferiram ofensas bem típicas, chamaram a gente de ‘negrinhas’”, explicou.
Após o episódio, Eduarda e a segunda estudante chegaram a falar com o diretor da Fatec sobre o ocorrido, mas nenhuma medida teria sido tomada a respeito. “Ele não falou nada, simplesmente quis diminuir a situação. Em nenhum momento falou que eles iriam tomar providências. Só quis explicar que é uma situação de desrespeito, que não é coisa para tanto. Falou que estávamos tirando o tempo de uma reunião importante que ele tinha para resolver ‘aquilo’. Não fizeram nada. Falaram que iriam achar os indivíduos, mas até o momento nada e já estamos na terça. Ocorreu na sexta e nada de resolver essa questão”, desabafou.
A reportagem também entrou em contato com a outra aluna vítima neste episódio, mas não obteve um retorno até a publicação desta matéria.
No entanto, ela se manifestou nas redes sociais sobre o caso e criticou a atuação da diretoria da Fatec neste episódio. “Acho inadmissível um posicionamento imparcial sobre uma situação delicada como a que eu passei. O diretor da faculdade Fatec não quis nos ouvir ou entender a situação. Estamos tomando as medidas cabíveis para esses alunos racistas não passarem impunes”, escreveu em seu perfil no Instagram.
As duas estudantes, acompanhadas de suas respectivas mães, registraram um Boletim de Ocorrência por causa do episódio no 2º DP de Santos.
“A Fatec alega que não tem mais câmeras no prédio, a identificação ficou prejudicada. Não temos como identificar os agressores por câmeras. Ou as meninas ficam de sentinela, vendo quem entra e quem sai para reconhecer os agressores, ou vai ficar por isso mesmo. Fizemos BO no 2º DP e vamos fazer tudo o que for preciso. Vamos tomar todas as medidas cabíveis”, afirmou Eucilene Chaves, mãe de Eduarda.
O Santa Portal entrou em contato com a Fatec solicitando um posicionamento sobre o caso. “O Centro Paula Souza (CPS) informa que abriu procedimento de apuração preliminar sobre o caso, que envolve estudantes de duas unidades independentes que dividem o mesmo prédio. Caso seja comprovada a agressão, serão tomadas as providências pertinentes. As alunas que fizeram a denúncia foram ouvidas pela direção da Etec e da Fatec nesta segunda-feira”, diz um trecho da nota.
O Centro Paula Souza destaca ainda que ‘não compactua com nenhuma forma de discriminação, desrespeito e assédio’. “Por meio da Comissão Permanente de Orientação e Prevenção contra o Assédio Moral e Sexual (Copams), promove diversas ações, como capacitação de docentes, palestras e divulgação de informações visando a orientação e prevenção de atitudes contrárias aos direitos civis”, acrescenta o comunicado da entidade.
Por fim, o CPS informa que denúncias e agressões podem ser comunicadas por alunos, professores e toda comunidade acadêmica pelos canais oficiais da instituição: copams@cps.sp.gov.br e ouvidoria@cps.sp.gov.br.
Pena prevista para injúria racial
A injúria racial foi recentemente equiparada ao crime de racismo. Com essa alteração, o novo texto da lei prevê que quem cometer injúria racial pode ser condenado de dois a cinco anos de reclusão.