Assédio em transportes públicos ainda preocupa mulheres na Baixada Santista
Por Beatriz Pires em 23/04/2025 às 11:00
Comentários inapropriados, toques sem consentimento e até contato físico forçado são queixas recorrentes entre moradoras da Baixada Santista que utilizam o transporte público. Mesmo com a possibilidade de solicitar paradas fora dos pontos convencionais, medida adotada por algumas empresas para aumentar a segurança das mulheres, muitas ainda sentem a ausência de ações mais efetivas por parte do poder público.
Segundo integrantes do Coletivo Feminista Classista Antirracista Maria Vai com as Outras, essa política é insuficiente. Elas defendem que o enfrentamento ao assédio precisa vir por meio de políticas públicas estruturadas e transversais, capazes de combater todas as formas de violência contra a mulher a médio e longo prazo.
“Como cidade, Santos não trata desse assunto com prioridade. Temos uma Câmara de Vereadores majoritariamente masculina, que se recusa a incluir a educação sexual no currículo escolar — um passo fundamental na luta pela consciência corporal”, afirma o coletivo.
Para Cidinha Santos, integrante do grupo, o sistema também contribui para o problema ao reduzir a frota de veículos e provocar superlotação, o que aumenta a vulnerabilidade das mulheres nos trajetos. Ela pontua que o transporte coletivo, “que deveria e pode ser público, é caro e privatizado. E a privatização dos serviços públicos piora ainda mais a nossa vida”.
A falta de acolhimento no momento da denúncia é outro obstáculo. De acordo com Dida Dias, também do coletivo, muitas vítimas desistem de registrar o boletim de ocorrência ao chegarem à Delegacia da Mulher (DDM), onde se sentem desencorajadas.
“Geralmente orientamos as mulheres a avisarem o motorista de imediato e, em seguida, registrarem o boletim. Em alguns casos, o próprio motorista leva a vítima à delegacia. Mas, além disso, é fundamental que elas tenham acesso a apoio psicológico e jurídico”, afirma Leila Kesseler, também do grupo. “É preciso cobrar da recém-inaugurada Casa da Mulher uma atuação efetiva na proteção e preservação dos direitos das mulheres”, completa.
O coletivo reforça que o assédio é fruto de uma construção social patriarcal, mas destaca que a nova geração de mulheres está mais consciente dos seus corpos e direitos.
“As mudanças têm vindo por nós, mulheres. Somos nós que estamos conquistando espaços e lutando para transformar essa realidade — passo a passo, seguimos avançando”, finalizam.
Posicionamento das empresas na Baixada Santista
As empresas de transporte público foram procuradas e se posicionaram sobre o tema. A BR Mobilidade afirma apostar na capacitação de seus profissionais, que são orientados a acolher a vítima e auxiliá-la a registrar a denúncia. A empresa também investe em campanhas publicitárias de conscientização.
Já a EMTU informa que o Governo do Estado de São Paulo disponibiliza diversos canais de denúncia, como o Fala SP e o São Paulo para Todas, voltados ao combate à violência contra a mulher.