Presidente do partido de Bolsonaro visita TSE e diz que não há sala secreta

Por Mateus Vargas/Folha Press em 28/09/2022 às 16:00

Pedro Ladeira/Folhapress
Pedro Ladeira/Folhapress

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse nesta quarta-feira (28) que o setor de totalização de votos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não é uma sala secreta, ao contrário do que afirmou diversas vezes o presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Não tem mais [sala secreta]. Agora é aberta”, disse Valdemar ao visitar o setor. O espaço, porém, já era aberto aos partidos e fiscais das eleições em pleitos anteriores.

Além do presidente do PL, acompanharam a visita representantes do PT, PDT, PTB, e o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. Também estiveram no espaço membros de entidades de observação das eleições.

Após a visita, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, disse que a sala não é “secreta” nem “escura”, repetindo termos usados por Bolsonaro.

O setor de totalização é um dos alvos de teorias da conspiração de Bolsonaro.

No espaço trabalham 20 funcionários do tribunal que desenvolvem e monitoram os sistemas que recebem os dados de boletins de urna para a totalização dos votos. Ao contrário do que também afirma Bolsonaro, esses servidores não interferem no resultado do pleito.

Na última quinta (22), o mandatário disse que as Forças Armadas pretendem “colocar técnicos” dentro da “sala-cofre” do TSE. “Uma sala que ninguém sabe o que acontece lá dentro”, declarou o presidente.

Para reagir às falas do chefe do Executivo, Moraes convidou no sábado (24) candidatos a presidente para visitarem o local.

A totalização é feita sem a interferência dos funcionários, por um computador que fica em outro local, no centro de processamento de dados da corte. Esta sala fica restrita a poucos servidores que fazem a manutenção do equipamento.

Terminada a votação, são gerados boletins de urna com os resultados de cada seção eleitoral. Cópias desses documentos são coladas nas portas dos locais de votação e entregues para fiscais de partidos e à Justiça Eleitoral.

É comum que partidos façam uma checagem paralela dos resultados dos boletins de urna que são colados nas portas das seções eleitorais com os dados que chegam ao TSE. Neste ano, o tribunal vai divulgar os boletins em tempo real após o fim da votação.

Como mostrou a Folha de S. Paulo, as Forças Armadas planejam checar as informações de 385 boletins de urna.

O próprio TSE convidou os militares para fiscalizar todas as etapas dos pleitos, mas os questionamentos apresentados pelo Ministério da Defesa têm servido de combustível para as insinuações golpistas de Bolsonaro.

O TCU também deve fazer o mesmo tipo de checagem, mas em duas etapas. A primeira, com 540 boletins, ficará pronta no dia das eleições. Outra, mais ampla, com dados de cerca de 4,1 mil equipamentos deve levar mais tempo.

Na última quinta (22), Bolsonaro disse que as Forças Armadas pretendem “colocar técnicos” dentro da “sala-cofre” do TSE. “Uma sala que ninguém sabe o que acontece lá dentro”, declarou o presidente.

Bolsonaro já havia chamado o setor de totalização do TSE como “sala-cofre” ou “sala secreta” em outras ocasiões, com o objetivo de atacar o sistema eleitoral.

“As Forças Armadas foram convidadas [pelo TSE] e eu sou o chefe supremo das Forças Armadas. Então nós aceitamos e vamos participar da primeira à última fase, do código-fonte à sala secreta”, disse ele em fevereiro.

Em abril, quando promoveu evento no Palácio do Planalto para atacar o STF (Supremo Tribunal Federal) e o TSE, o presidente também levantou a falsa teoria de que a apuração é secreta.

“Quando encerra eleições e os dados chegam pela internet, tem um cabo que alimenta a ‘sala secreta do TSE’. Dá para acreditar nisso? Sala secreta, onde meia dúzia de técnicos diz ‘quem ganhou foi esse'”, disse Bolsonaro.

As entidades que fiscalizam as eleições têm reforçado que não há indícios de fraude na totalização dos votos.

Em relatório elaborado sobre o pleito de 2020, a OEA (Organização dos Estados Americanos) descreveu que acompanhou dentro do TSE a totalização.

“Apesar do atraso [na divulgação do resultado naquele pleito] , a missão observou que em nenhum momento o processo de transmissão dos boletins de urna e totalização dos resultados foi interrompido ou prejudicado”, escreveu a OEA.

Uma auditoria contratada pelo PSDB sobre as eleições de 2014 avaliou outros 8.207 boletins. “Não foram encontradas divergências entre os BU [boletins de urna] impressos obtidos e os respectivos valores registrados na base de dados do TSE”, afirma o relatório do partido.

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