Bancada bolsonarista de 2018 perdeu 2,8 milhões de votos e teve 60% dos candidatos derrotados

Por Lucas Marchesini, Ranier Bragon e João Gabriel / Folha Press em 14/10/2022 às 09:43

 Reprodução/TV Globo
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A onda bolsonarista que marcou as eleições de 2018 transformou o então nanico PSL na segunda maior bancada da Câmara, com 52 deputados federais eleitos e a promessa de mudança radical na forma de fazer política no Brasil. Quatro anos depois, esses 52 políticos tentaram um novo mandato, mas só 21 obtiveram sucesso.

De 2018 a 2022, o PSL perdeu Jair Bolsonaro –hoje no PL– e desapareceu como partido político ao se fundir com o DEM e virar o União Brasil. A bancada bolsonarista migrou em sua maioria para o PL de Valdemar Costa Neto, abandonando de vez qualquer promessa de mudança radical na política.

Quarenta e sete dos 52 deputados tentaram se reeleger, mas só 21 conseguiram. Outros quatro tentaram o Senado e um deles, Alexandre Frota (PSDB-SP), a Assembleia Legislativa de São Paulo, mas nenhum obteve sucesso.

A análise do desempenho atual dos 52 bolsonaristas do PSL de 2018 mostra que houve um derretimento de 2,8 milhões de votos no grupo dos que tentaram a reeleição –de 7,8 milhões para 4,3 milhões.

Quase todos foram menos votados do que há quatro anos, com a exceção de sete casos.

A lista dos candidatos que encolheram começa por Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, que foi o campeão nacional para a Câmara em 2018, com 1,8 milhão de votos.

Esse número caiu para 735 mil nas eleições deste ano, mesmo assim uma expressiva votação.

A campeã de derretimento foi a deputada Joice Hasselmann (SP), que se elegeu na onda bolsonarista de 2018 com 1.078.666 votos. Ela rompeu com o presidente e seu grupo durante o mandato, virou um dos principais alvos da ala ideológica do bolsonarismo e ficou de fora da Câmara ao obter, neste ano, 13.679 votos pelo PSDB –uma queda de 99%.

Vários deputados que mantiveram fidelidade a Bolsonaro também viram um esvaziamento expressivo dos seus votos.
Esses foram os casos, entre outros, do ex-ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio (MG), que tombou de 230 mil para 30 mil votos; Helio Bolsonaro (RJ), que caiu de 345 mil para 130 mil votos; e Major Fabiana (RJ), de 58 mil para 30 mil votos.

Os dois primeiros conseguiram se reeleger mesmo assim, graças à votação de outros candidatos do PL. Fabiana, não.
No caso de Marcelo Álvaro, ele conseguiu novo mandato de carona na expressiva votação do vereador de Belo Horizonte (MG) Nikolas Ferreira (PL), que teve quase 1,5 milhão de sufrágios e foi o parlamentar mais votado no país.

Marcelo Álvaro Antônio foi o primeiro ministro do Turismo de Bolsonaro e deixou o cargo após ser investigado por suspeita de comandar um esquema de candidaturas laranjas no PSL mineiro. A manobra servia para burlar a legislação eleitoral que define um percentual mínimo de recursos do fundo eleitoral para candidaturas femininas.

O deputado chegou a considerar uma candidatura ao Senado, mas foi preterido no campo bolsonarista pelo deputado estadual Cleitinho Azevedo (PSC), que foi eleito.

Há casos de parlamentares que, mesmo sem perder tantos votos, fracassaram na tentativa de se reeleger. Bibo Nunes (RS) registrou 91.664 votos em 2018 concorrendo pelo PSL, mas não conseguiu se reeleger agora pelo PL, mesmo com o apoio de 76.521 eleitores.

“Eu não me elegi pelo excesso de otimismo. Estava de salto alto, me considerando eleito”, diz ele. “As pessoas, certas de que eu estava eleito, não votaram para dar apoio a outro candidato. Muitas pessoas me pediram desculpas por isso”, afirma.

Para ele, o insucesso dos ex-membros do PSL se dá em razão de falta de foco na campanha. “A maioria dos não eleitos olhava sua própria árvore, sem se preocupar pela floresta. Os que estavam pela causa, na maioria, se elegeram.”

A queda de votos do PSL bolsonarista de 2018 só não foi maior graças a Carla Zambelli (SP) e Filipe Barros (PR) que, juntos, tiveram uma alta de mais de 1 milhão de votos na comparação entre 2018 e 2022.

“A direita amadureceu nos últimos quatro anos e houve maior união e compreensão do eleitor em diluir votos para conseguir o maior número de deputados. Pelas redes sociais, conseguimos criar uma relação de muito respeito com os eleitores nesse tempo, e de muito comprometimento também e percebemos que não bastava ser ‘de direita’ para ter a confiança. Tinha que ter um histórico de respeito e lealdade às pautas conservadoras e também ao Bolsonaro”, afirma Zambelli.

Segundo a deputada, que foi a segunda mais votada no estado de São Paulo, eleitores afirmaram a ela que votariam em outros candidatos por acreditar que os mais notabilizados já estavam eleitos.

“Percorri 83 cidades nos últimos meses e vez ou outra, ouvia: ‘gosto muito de você, do deputado ‘x’, mas vou votar em outro candidato porque sei que vocês já estão eleitos’. Acredito que por isso alguns deputados do PL tiveram menos votos em 2022.”

O PL de Bolsonaro teve 16,58% dos votos para a Câmara nas eleições deste ano, mas parte desses sufrágios foi para deputados oriundos do centrão. O PT, segundo partido mais votado, teve 11,3% dos votos para a Câmara.

Entre os cinco parlamentares mais votados em todo o Brasil, quatro são do PL e todos têm a sua carreira política claramente associada a Bolsonaro: Nikolas Ferreira, Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (SP), que recebeu 640 mil votos.

O único nome na lista que não é bolsonarista é o de Guilherme Boulos (PSOL-SP), que teve 1 milhão de votos.
Como mostra a lista dos deputados mais votados do país, a queda de rendimento do PSL de 2018 foi compensada com a eleição de novos bolsonaristas parlamentares, como Salles, Ferreira e o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello (RJ).

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