Vídeos de ratos e pombos em Praia Grande reacendem debate sobre saúde pública
Por Beatriz Pires em 23/10/2025 às 15:00
As zoonoses urbanas têm se tornado uma preocupação crescente para a população de Praia Grande, no litoral de São Paulo, após registros de pombos e ratos em ambientes escolares e hospitalares. Em outubro, dois vídeos repercutiram nas redes sociais. O primeiro mostra a presença de ratos no Hospital Irmã Dulce, no último dia 7.
No mesmo dia, o perfil Praia Grande Mil Grau divulgou uma série de fotos que revelam a presença de pombos nas dependências da Escola Antônio Nunes Lopes da Silva. Alunos e responsáveis relataram a existência de fezes de pombos nas mesas e bebedouros.
As zoonoses urbanas são doenças transmitidas de animais para humanos. A mais conhecida delas é a leptospirose, comum no período de chuvas. O infectologista Ricardo Hayden explica que a doença é transmitida pela urina de ratos, que se mistura à água e contamina os humanos por meio do contato com feridas na pele.
A leptospirose pode afetar o organismo como um todo. Os principais riscos envolvem arritmia cardíaca — que pode levar à morte — e insuficiência renal, tratável se diagnosticada precocemente. Em casos de insuficiência renal, o tratamento inclui diálise ou o implante de rim artificial. Já para arritmias graves, é necessário que as UTIs estejam bem equipadas.
“Recentemente tivemos um caso de contaminação dupla por contato com água de enxurrada. Uma moça levou uma chuvarada de um carro em alta velocidade, e a água respingou em sua boca. Ela não conseguiu limpar na hora e, dias depois, apresentou sintomas clínicos, com diagnóstico confirmado de leptospirose e hepatite A”, relata o infectologista.
Outras zoonoses comuns na Baixada Santista incluem a raiva — transmitida por cães ou morcegos — e a doença da arranhadura do gato, causada por um fungo que pode infectar humanos.
Hayden orienta que, caso alguém precise entrar em locais alagados para resgatar pertences, é fundamental usar botas de cano alto e, após a exposição, lavar bem os pés, os vãos dos dedos e as unhas com água e sabão, especialmente se houver pequenos ferimentos.
“As prefeituras já possuem divisões de zoonoses, mas é necessário ampliá-las e treinar as equipes. É preciso capturar animais perdidos nas vias públicas, especialmente cachorros, e cuidar deles. Esses departamentos têm veterinários e profissionais preparados para isso. É possível executar essas ações, mas é preciso vontade técnica e política”, enfatiza Hayden.
Posicionamento da Prefeitura
Em nota, a Prefeitura de Praia Grande informou que o município conta com o Programa de Controle de Roedores, criado para reduzir a população de ratos por meio da sistematização e otimização das ações de controle. As atividades são direcionadas para áreas de maior risco, com o objetivo de diminuir as condições que favorecem a reprodução e permanência de roedores, reduzindo também a incidência de casos de leptospirose.
Entre as ações estão o controle químico de roedores, o bloqueio de bueiros e a desratização em diversos pontos da cidade. O município também realiza um trabalho de orientação e educação, incentivando a população a adotar práticas que evitem a proliferação dos animais — como eliminar fontes de alimento, água e abrigo.
No caso dos pombos, a Prefeitura reforça que alimentar as aves deve ser evitado, lembrando que ferir, matar ou capturar os animais é proibido por lei. A orientação é instalar telas ou pontas de arame em locais altos, para impedir o pouso, e usar luvas e máscara ao limpar fezes, umedecendo-as antes da remoção para evitar a inalação de partículas.
Sobre o registro de rato no hospital, a Secretaria de Saúde (Sesap) informou que o serviço de desratização é realizado regularmente no Hospital Irmã Dulce. O Departamento de Vigilância também vistoriou o local e não constatou irregularidades no processo de desratização.