Suspeito no caso Ruy Ferraz foi punido na cadeia por planos de motim e morte de diretor
Por Tulio Kruse/Folha Press em 18/09/2025 às 20:00
Um dos suspeitos de participar do assassinato do ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes em Praia Grande, no litoral de São Paulo, na última segunda-feira (18), Felipe Avelino da Silva, 33, já foi punido enquanto estava preso, sob acusação de planejar um motim e a morte do diretor de uma penitenciária.
Ele e outros 27 presos acusados no caso negaram ter planejado qualquer tipo de ataque. A Justiça, o Ministério Público e o setor de sindicância da penitenciária, porém, entenderam que havia indícios suficientes para aplicar ao grupo uma falta disciplinar grave, com aumento do tempo de pena e suspensão de visitas, entre outras punições.
Avelino, também conhecido como MK ou Mascherano, foi citado nesta quinta-feira (18) durante entrevista coletiva pelo secretário estadual da Segurança Pública, Guilherme Derrite, como um dos procurados pela morte de Ruy.
As impressões digitais de Avelino foram encontradas no Jeep Renegade cinza abandonado a cerca de dois quilômetros do local do crime. No interior do carro foram encontrados carregadores de fuzil de calibre 556 e 7,62 mm, placas de outros automóveis – o que pode indicar troca constante de identificação – e um boné.
Questionada sobre a suspeita de que ele tenha participado do assassinato, a defesa de Avelino não respondeu até a publicação deste texto.
O motivo para a punição disciplinar contra ele foi um bilhete, encontrado com um preso na penitenciária de Irapuru (SP) no dia 26 de agosto de 2019. Ela relatava descontentamento dos presos com regras para visitas e dizia: “esta unidade tem que ir para o chão ou matar seu Vanderley diretor”. Era uma referência a Vanderlei Fernandes Fernandes da Silva, diretor de Segurança e Disciplina.
A carta relatava, ainda, que pessoas ligadas a um dos detentos estaria monitorando o trajeto do diretor, com ajuda de colaboradores de fora do presídio. O bilhete traz assinaturas, a partir das quais o setor de inteligência identificou os 28 presos – entre eles, Avelino – acusados de planejar a rebelião.
Segundo os relatos de um diretor do presídio e de um agente de segurança, o bilhete corroborou informações que já circulavam entre os presos de que lideranças do PCC (Primeiro Comando da Capital) no presídio tentavam organizar um motim. Todos os acusados acabaram transferidos para outros presídios.
Avelino foi ouvido sobre o caso em agosto de 2020, quando estava preso em Mirandópolis (SP). Assim como os outros acusados, ele negou de forma veemente que tivesse participado de qualquer plano de motim ou de assassinato. Afirmou que nunca exerceu liderança na penitenciária de Irapuru, que não fazia parte de nenhuma organização criminosa e que nunca teve problemas de disciplina na unidade.
Ele declarou, ainda, que acreditava que estava sendo acusado injustamente por “ser um dos responsáveis da realização da faxina no pavilhão em que habitava”. O depoimento não explica por que a função da faxina poderia motivar a suposta perseguição contra ele.
“Ficou suficientemente comprovado o fato que caracteriza falta grave”, decidiu o juiz da 1ª Vara de Execuções Criminais de Araçatuba, ao analisar o caso em 2020. “Não há nos autos indícios de que tais agentes tivessem interesse em acusar gratuitamente e de maneira falsa o apenado”.
Avelino ficou seis anos preso, com duas acusações de roubo e duas de tráfico de drogas em São Bernardo do Campo, na Grande SP. Derrite afirmou que Mascherano exerce função de disciplina nome dado à liderança que dita regras dentro da organização.
Segundo um promotor de Justiça que conversou com a reportagem, a trajetória de Avelino no sistema penitenciário é um indicativo de sua vinculação ao PCC, já que todas as unidades pelas quais ele passou são destinadas a integrantes da facção.
Ele saiu do sistema penitenciário no ano passado. Arquivos do Tribunal de Justiça mostram que ele recebeu alvará de soltura no dia 5 de setembro de 2024 e que processos pelos quais ele foi condenado, em 2014 e 2019, foram extintos. As impressões digitais são o único elemento que conecta Avelino à morte de Ferraz Fontes.
O assassinato
O ex-delegado-geral de São Paulo foi assassinado em emboscada no fim da tarde de segunda-feira (15) em Praia Grande Segundo as investigações, o carro do policial civil aposentado foi atingido por 29 tiros de fuzil quando ele saía da prefeitura do balneário, onde trabalhava como secretário de Administração.
Imagens do ataque mostraram o momento em que ele tentou fugir e bateu em dois ônibus em uma avenida movimentada. Ao menos três homens encapuzados e com coletes a prova de balas desceram de um dos veículos usados no crime e o alvejaram. Ele morreu no local.
Os dois veículos usados por criminosos foram furtados em duas ocasiões distintas na capital, segundo informações da Polícia Civil paulista.