Mãe cadeirante assiste apresentação da filha em corredor de escola na Praia Grande

Por Havolene Valinhos/Folhapress em 25/08/2024 às 06:00

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

A dona de casa Amábile Moniz, 40 anos, é cadeirante e denuncia a falta de acessibilidade na escola da única filha, Gabriella, de 4. Ela diz que a menina começou a estudar no início deste ano na Escola Municipal Idílio Perticaratti, no bairro Vila Antártica, na Praia Grande.

Moniz não tem carro, mas é a responsável por levar a filha para a escola diariamente. Embora ela encontre barreiras no trajeto de quatro quarteirões, que faz com sua cadeira de rodas motorizada, e nas rampas da escola quando deixa a menina, se sentiu ainda mais excluída quando não pode entrar na sala de aula de Gabriella para assistir a homenagem do Dia das Mães. Motivo: sua cadeira não passava na porta. “Ela precisou ficar virando para mim, praticamente de costas para as outras pessoas.”

Amábile conta que nasceu com mielomeningocele, uma malformação da coluna vertebral e da medula espinhal que ocorre nos estágios iniciais da gestação. Ela sempre usou muletas, mas há cinco anos, com o agravamento da doença, começou a usar cadeira de rodas.

Ela afirma que, apesar de sentir excluída, para evitar constrangimento à garota e estragar o próprio dia, não reclamou com a escola naquele momento. Porém, após um mês, no dia 6 de junho, esteve novamente na escola para a reunião de pais e mais uma vez não teve como participar com os outros pais.

“Fiquei no corredor, na porta e quase não conseguia ouvir o que a professora falava. Então em um dado momento ela se aproximou um pouquinho mais e disse aos pais que estavam ensinando aos alunos sobre inclusão. Após a reunião perguntei à professora qual tipo de inclusão estavam passando às crianças, deixando uma mãe do lado de fora. Estavam ensinando que uma pessoa com deficiência não precisa estar no mesmo ambiente dos demais.”

Neste dia a mãe diz que reclamou à direção sobre a falta de acessibilidade e inclusão. “A diretora simplesmente olhou para a minha cara e falou: ‘Pensei que a senhora era muito bem resolvida quanto à sua deficiência’. Respondi que a questão não era a minha deficiência, mas a falta de inclusão da escola e que deveriam ter feito a reunião pelo menos do lado de fora para que eu fosse incluída.”

Amábile conta que a direção a informou que o próximo evento seria em outro espaço. No Dia dos Pais ela acompanhou o esposo e a homenagem foi feita em um local aberto, mas na segunda parte chamaram os pais para uma sala e ela não pode participar mais uma vez.

“Meu marido ficou muito chateado, não queria entrar na sala, porém mais uma vez eu não quis causar qualquer trauma para minha filha, pois ela ainda não entende a situação. Fiquei do lado de fora. Disseram que era apenas uma confraternização, de comes e bebes. Ainda me serviram no corredor. Questionei: então não poderia socializar com os outros pais e familiares, sendo que a legislação me garante a socialização?”

A dona de casa afirma ainda que não está reclamando apenas por seu direito, mas para que providências sejam tomadas tanto na estrutura física dos prédios municipais e estaduais quanto na formação dos profissionais com relação aos direitos das pessoas com deficiência.

A Prefeitura de Praia Grande, por meio da Seduc (Secretaria de Educação), informa em nota que tem conhecimento dos fatos, e vem adotando as providências necessárias.

Entre as medidas, a Pasta afirma que está o acolhimento da sugestão realizada pela munícipe e mãe de aluno da unidade escolar, com a realização de atividades em outros espaços da escola para adaptar as suas necessidades.

“Em duas ocasiões, a equipe gestora da escola realizou o evento no pátio para assim garantir a participação da mesma. Ressaltamos ainda o cuidado e preocupação da Pasta Municipal em garantir o acesso a todos, uma vez que, atualmente, a rede municipal de ensino conta com quase 3 mil alunos com deficiência matriculados nas 78 escolas. Diante disso, as unidades são adaptadas com acessibilidade para atender os educandos e o público em geral, e, caso haja necessidade, os gestores realizam as adaptações espaciais.”

Amábile reitera que os eventos não foram realizados totalmente no pátio. Ao que o órgão municipal não respondeu até a publicação desta reportagem.

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