Goleiro de Praia Grande é convocado para a seleção brasileira de futebol de amputados

O amor pelo futebol foi o combustível que Vagner Francisco de Assis usou para superar todas as adversidades para vencer no esporte. O praia-grandense, que nasceu sem a mão direta devido a uma malformação congênita, escolheu a posição de goleiro para desfrutar do mundo da bola e ‘agarrou’ com firmeza todas as oportunidades que apareceram. Aos 42 anos, o multicampeão foi convocado mais uma vez pela seleção brasileira de futebol de amputados. Defender o Brasil trouxe um fôlego de menino para o experiente atleta e fez renascer um antigo sonho: vestir a ‘amarelinha’ em uma Copa do Mundo.     

“Essa convocação é como se fosse a minha primeira. Eu amo o que faço, o futebol é minha vida. Mesmo com todas as dificuldades eu nunca desisti. Acredito muito na dedicação, honestidade e no trabalho duro. Agora, é agarrar mais essa oportunidade, representar o Brasil da melhor forma possível e deixar minha esposa e mãe orgulhosas”, declarou o goleiro praia-grandense.

Esta convocação da seleção brasileira tem como objetivo principal a disputa do Sulamericano da modalidade, que será realizado na cidade de Maldonado, no Uruguai, no mês de setembro deste ano. Os jogadores e a comissão técnica passarão por uma etapa de preparação e treinamentos em julho, após a disputa da Copa do Brasil. Os trabalhos com todo o elenco deverão ser realizados no Centro Paralímpico Brasileiro, moderna instalação do Comitê Paralímpico (CPB), que fica sediada na capital paulista.

Esta é a quinta convocação de Vagner. A primeira ocorreu em 2009 e está entre as mais especiais. Na oportunidade, o atleta foi campeão pelo Brasil da Copa América e eleito o melhor goleiro da competição. Pela seleção brasileira, o arqueiro ainda tem o título da Copa das Confederações no currículo e a disputa também do Mundial de 2010.

“Sou muito feliz pela história que construí, mas era para ter tido mais convocações. Por um problema de saúde, pedi dispensa da Copa América, que foi disputada no México, em 2015. Acabei não sendo convocado para o Mundial de 2022, na Turquia. Joguei por uns anos em uma equipe de um projeto que não disputava campeonatos oficiais, isso também fez a diferença. Mesmo assim, esperava pela convocação e foi um dos piores momentos da minha carreira. Com muito trabalho e dedicação, dei a volta por cima”, disse o goleiro.

Ano de ouro

A nova convocação para defender a meta do Brasil não ocorreu por acaso. O ano de 2023 foi o mais vitorioso da carreira de Vagner com quatro títulos conquistados defendo o Instituto R9/Corinthians, da cidade de Mogi Das Cruzes: campeão Paulista, da Taça Brasil, da Taça Cidade de Caieiras e da Taça São Vicente.

De todas essas recentes conquistas, o título Paulista de 2023 tem um lugar especial no coração do goleiro. Na semifinal da competição, contra Ourinhos, na casa do adversário, brilhou na disputa por pênaltis defendendo as cobranças dos rivais. Desta forma, garantiu sua equipe na final.

“A torcida do Corinthians é incrível. Eles não param de cantar um segundo e isso nos deixa ainda mais motivados durante todo o jogo. Foi especial comemorar a classificação para a decisão e depois o título Paulista ao lado da Fiel Torcida”, recordou.

Sonhos realizados

Apesar de exaltar a torcida do Corinthians, Vagner é são paulino ‘roxo’. É daqueles torcedores que tem diversas camisas e itens do clube do coração. E o futebol para amputados foi o responsável por realizar dois de seus principais sonhos. O primeiro foi defender as cores do tricolor do Morumbi. Durante as temporadas de 2019 a 2021, jogou pelo São Paulo e sentiu na pele a alegria de ser o goleiro da equipe que sempre amou. Conhecer o ídolo Rogério Ceni se transformou na cereja do bolo desta fase na carreira.

“Este é um daqueles dias que estão vivos na minha mente. O Rogério Ceni sempre foi uma referência para mim. Conquistou tudo que podia no mundo do futebol e sempre se dedicou ao máximo nos treinamentos e nas partidas, assim como o Cássio, atual goleiro do Corinthians. Conhecê-lo foi algo inesquecível. Ainda ganhei um par de luvas dele. Usei a mão esquerda na Copa do Mundo. Como não iria usar a luva direita por conta da minha deficiência, pedi para ele autografar e guardo até hoje”, contou.

Futuro

Vagner tem formação em Administração e Ciências Contábeis. Há 15 anos integra o quadro dos servidores municipais da Prefeitura de Praia Grande. Foi no solo praia-grandense que a paixão pelo futebol de amputados desabrochou. O Município contava com uma equipe. Em 2006, defendendo as cores da Cidade, garantiu o prêmio individual de melhor goleiro da Copa do Brasil.

Sobre o futuro, Vagner tem objetivos bem definidos e traçados. Entre eles, além do sonho de jogar a Copa do Mundo de 2026, quer também desenvolver e retomar um projeto de futebol para amputados em Praia Grande. O goleiro deixa claro que esse momento será atuando fora das quatro linhas, como gestor.

“Este tipo de projeto lida com a inclusão social e utiliza o esporte como importante ferramenta para isso. Tenho muito orgulho de ter defendido Praia Grande. A minha ideia é desenvolver esta iniciativa e, de alguma forma, colaborar para mudança e melhora na qualidade de vida dessas pessoas e suas famílias”, adiantou Vagner.