Travessia Santos-Guarujá será a primeira a ter túnel imerso no país
Por Alex Sabino/ Folha Press em 03/03/2025 às 06:00
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Em um vídeo repetido várias vezes na quinta-feira (27) para autoridades e convidados da cerimônia de lançamento do edital da travessia que ligará Santos a Guarujá, o governo federal divulgava que a obra será a primeira a ter um túnel imerso no Brasil. Não é submerso, técnicos da APS (Autoridade Portuária de Santos) faziam questão de ressaltar.
A tecnologia foi observada em uma viagem de integrantes da APS ao porto de Shenzen, na China.
Ao contrário do que seria um túnel submerso, a estrutura não será construída diretamente no canal do porto de Santos.
“Serão seis módulos pré-fabricados e aplicados em solo rígido, com rampas de acesso em Santos e Guarujá, com três pistas em cada sentido”, afirma o engenheiro Eduardo Lustoza, presidente da comissão multidisciplinar do túnel Santos-Guarujá e pesquisador do Nepomt (Núcleo de Estudos Portuários e Marítimos).
O edital para a obra foi lançado em cerimônia com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Do custo de R$ 5,96 bilhões para a obra, R$ 1 bilhão será pago pela empresa vencedora do leilão. Os demais R$ 4,96 bilhões serão divididos pelos governos federal e paulista.
A vencedora deve ser anunciada em 1º de agosto. Deverá vencer quem propor maior investimento e menor valor de contraprestação (o valor a ser pago anualmente pelo Governo de São Paulo à concessionária).
Segundo engenheiros da APS, o projeto não está fechado porque a empresa que vencer a concorrência para realizar a obra terá liberdade para propor modificações que tornem o processo mais eficiente, rápido e de menor custo. Mas qualquer alteração terá de ser analisada e validada pela Autoridade Portuária e por técnicos do governo estadual.
Na visão de pessoas ouvidas pela reportagem, a maior margem para mudanças está nas vias de acesso ao túnel, tanto em Santos quanto em Vicente de Carvalho, distrito no Guarujá. É também a questão mais polêmica do projeto por causa de desapropriações propostas a moradores do bairro do Macuco.
Para a APS, não há como modificar a essência do projeto, os 870 metros de percurso a 21 metros abaixo do nível do mar. Isso poderia acontecer apenas em pontos específicos que podem melhorar a tecnologia empregada.
Um dos primeiros passos da obra será fazer a dragagem do trecho do canal onde estará o túnel para chegar à profundidade proposta no edital.
Os modelos de pré-moldados serão construídos em um dique seco a ser montado no Guarujá. Quando estiverem prontos, eles receberão balões para que, quando o dique se encher de água, a estrutura flutue. Servirá para testá-la e prepará-la para levar ao canal.
Assim que isso acontecer e e eles forem colocados no local exato, a estrutura será puxada por embarcações para a posição exata no canal. Os balões serão esvaziados de maneira lenta, e as vedações, retiradas para que os módulos se encham de água e comecem a descer, aos poucos. Também pode ser usado o auxílio de cabos de aço.
Essa parte é vista pelos técnicos como algo que pode ser modificado porque o vencedor da licitação pode propor formas mais convenientes de realizar a tarefa.
Quando as peças estiverem no fundo do canal, serão unidas, formando o túnel, que ainda será batizado. A ideia é que a obra comece em 2026 e esteja concluída em 2028. A concessão à iniciativa privada vai durar 30 anos.
“Existem vários túneis como esse no mundo, mas nenhum no Brasil. Será o primeiro. Mas depois desse túnel, outros serão construídos com essa mesma tecnologia”, afirma Áureo Figueiredo, engenheiro também especialista em porto e diretor da Faculdade de Engenharia da Unisanta (Universidade Santa Cecília), em Santos.
“Abrir túneis é uma técnica dominada. O que essa tem de diferente é que será preparada no leito marinho. Os elementos serão construídos fora, em um estaleiro, e rebocados até o local. Vai exigir muito controle de topografia porque serão imersos, serão tiradas as vedações, vão se encher de água e descer”, completa.
É uma decisão que encerra também um debate que se arrasta há décadas na engenharia: se o melhor caminho seria construir uma ponte ou um túnel. A conclusão foi que esta última seria de mais rápida finalização. Por causa da passagem de navios, a ponte demandaria um percurso de 7 km. O túnel terá 1,5 km.