Desestatização do Porto será atraente para investidor, diz CEO da SPA
Por Noelle Neves em 25/08/2021 às 14:15
A Santos Port Authority (SPA), estatal que administra o Porto de Santos, realizou nesta quarta-feira (25), o SPA Day 2021, um evento inédito para divulgar os resultados do segundo trimestre e perspectivas da Companhia, em linha com a estratégia de governança, transparência e boas práticas na divulgação dos resultados financeiros da empresa. No entanto, o grande destaque foram as atualizações quanto a desestatização do porto.
A previsão é que o leilão ocorra no segundo semestre de 2022. O modelo será encaminhado à Secretaria Nacional de Portos e Transportes Aquaviários até o fim de agosto.
“O modelo está sendo pautado para ser bastante atraente para o investidor. Temos a necessidade de altos investimentos, que serão remunerados adequadamente. O Brasil, atualmente, tem diversos projetos de infraestrutura muito interessantes. O capital privado está em busca disso. Quando se vê um projeto sério, com perspectiva de demanda e engajamento de grupos empresariais, há interesse”, explicou o CEO, Fernando Biral.
De acordo com Biral, entre as vantagens da desestatização estão a “perenidade da gestão profissional, assegurar investimentos necessários, qualidade dos serviços, agilidade e velocidade, atração de novos players e flexibilidade para negociação de contratos”.
“O funcionário privado terá maior agilidade para realizar os investimentos. Poderá desenvolver projetos greenfield (os incipientes, ainda no papel) de uma forma mais eficaz do que o gestor público. Então a desestatização oferece maior potencial de geração de valor a sociedade”, fundamentou Biral.
Como exemplo, o CEO mencionou os arrendamentos. “O processo leva, muitas vezes, dois anos. Um ano de planejamento com diversas etapas, depois toda a burocracia do leilão. Com o setor privado, acontece de maneira mais rápida e é possível ficar livre de amarras. O que significa que o crescimento será mais rápido.
Resultados financeiros
O SPA Day 2021 permitiu discutir com o mercado financeiro e portuário todos os projetos de expansão, que trarão mais desenvolvimento e competitividade para o País.
“Reforça nosso compromisso com integridade, transparência e serviu para comunicar os resultados obtidos nos três anos de gestão profissional, quanto também nossos planos futuros para a expansão do Porto”, disse Biral.
A SPA encerrou o segundo trimestre com lucro líquido de R$ 98,9 milhões, recorde trimestral histórico. O lucro mais que dobrou em relação ao mesmo período de 2020 e cresceu 126,6%. O bom resultado foi mais uma vez impulsionado pelo aumento da receita e queda de custos e despesas, combinação que se tornou marca registrada da SPA desde que a atual gestão assumiu, em 2019, pautada pelo foco em eficiência, austeridade e racionalização de recursos públicos.
Biral destacou que o resultado foi fruto de uma gestão profissional, redução de custos, renegociação dos contratos, revisão dos preços praticados nos contratos de arrendamento.
“Encontramos uma dinâmica de crescimento de receita sustentável, muito baseada pela força do agronegócio, investimentos que os terminais têm feito e eficiência dos serviços prestado. Procuramos implementar as melhores práticas do setor privado nas regras do público”, completou o diretor financeiro Marcus Mingoni.
A receita líquida cresceu 13,3% e atingiu R$ 295,8 milhões, favorecida pela forte movimentação de cargas, que continuou a bater seguidos recordes e registrou crescimento de 5,3%, fechando o trimestre em 41 milhões de toneladas.
Além da continuidade no bom desempenho das exportações, o segundo trimestre foi marcado pela consolidação na recuperação das importações, notadamente dos contêineres, onde são transportadas as cargas de maior valor agregado. No segundo trimestre, o avanço foi de 19,1% na comparação com igual período do ano passado, atingindo o recorde trimestral de 1,2 milhão TEU (medida padrão de um contêiner de 20 pés).
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), ajustado por eventos extraordinários, registrou incremento de 40,4%, alcançando R$ 181,6 milhões. A margem Ebitda ajustada foi de 61,4%, avanço de 11,8 pontos percentuais na comparação com o mesmo trimestre de 2020.
Os ganhos nos resultados operacionais contribuíram para que a SPA encerrasse o segundo trimestre com uma posição de caixa líquido (caixa e aplicações menos endividamento bruto) superior a R$ 447 milhões, significativo avanço em relação à posição de caixa líquido de R$ 29,7 milhões verificada no segundo trimestre de 2020.
De acordo com o diretor financeiro, até o ano passado, apesar da Companhia ter lucrado nos dois últimos anos, não foi possível pagar dividendos porque havia prejuízo de R$ 1,13 bilhão acumulado de gestões passadas.
“Conseguimos um movimento de redução de capital social, para então reportar lucro para a União. Nossa expectativa é gerar, mais uma vez, um lucro recorde esse ano e poder distribuir os dividendos”.
O diretor de Operações da SPA, Marcelo Ribeiro, destacou que os resultados operacionais mostram que o porto tem a infraestrutura necessária para gerar lucro. “O grande desafio agora é manter. É importante revisitar os processos buscando a melhoria das produtividades, aprimoramento de processo e investimentos contínuos”.
Dragagem no canal do Porto de Santos
A dragagem no canal do Porto de Santos foi retomada em 2020. Portanto, o resultado já reflete os custos com o processo.
“Hoje, os números mostram a saúde financeira da Companhia, sustentabilidade dos nossos resultados e reforça o caixa para que possamos fazer projetos de expansão, que envolvem grandes somas. Essa é a importância de ter uma gestão austera”, explicou Biral.
O diretor de Infraestrutura, Afrânio Moreira, declarou que outros investimentos devem ser feitos para que os navios sejam melhor recebidos.
“Iniciamos os estudos para a dragagem de aprofundamento, um pouco mais complexa, pois necessita do alargamento do canal. Com isso, também temos que pensar nos impactos ambientais. A desestatização ajudará nas negociações. Não temos previsão ainda, está tudo em uma fase inicial”.
Leilões e oportunidades de negócio no Porto de Santos
A receita da autoridade portuária é composta de arrendamentos, tarifas e leilões. “As outorgas voltaram a ser de responsabilidade do porto. Isso resulta num desafogamento na estrutura de custos. Dependendo dos valores dos leilões é possível até mesmo uma redução de custos”, disse o diretor de Desenvolvimento e Negócios, Bruno Stupello.
Em quatro anos (2019-2022), serão realizados 11 leilões com investimentos estimados em R$ 5,8 bilhões, o maior número da história. Considerando os arrendamentos vigentes, investimentos atingem R$ 8,3 bilhões.
Na ocasião, o diretor aproveitou para falar sobre a expansão da poligonal do Porto de Santos. Segundo ele, qualquer expansão de área portuária precisa ser realizada em conjunto com o Ministério da Infraestrutura, Ministério da Economia e a Secretaria de Patrimônio da União.
“Todos esses agentes estão conversando e já chegaram a um alinhamento sobre a inclusão dessa nova área. Dentro de alguns meses, a poligonal deve ser alterada e dentro do processo de desestatização, o espaço passará a ser considerado uma área portuária, com a expansão de 6 km²”, fundamentou.
Stupello esclareceu que a expansão tem alguns passos, incluindo identificar a propriedade de cada um dos terrenos. A SPU está finalizando a documentação para encaminhar ao Ministério da Infraestrutura, onde ocorrerá o processo de protocolar na Secretaria de Portos, Executiva e aprovação do Ministério. “Está próximo de acontecer. Todas as arestas foram amparadas”, contou.
Em relação a FIPS (Fundos de Investimento em Participações), o diretor de Desenvolvimento e Negócios informou que houve uma audiência pública para discutir o modelo de investimentos e exploração, no início do ano. Recentemente, segundo ele, foi concluída a avaliação de consultas públicas e as últimas medidas do edital estão em processo de finalização. O chamamento deve ocorrer no ano que vem.