“Sobreviventes de uma época bruta”, estivadores celebram o aniversário do Porto de Santos
Por Santa Portal em 02/02/2025 às 06:00

“Muitos homens morreram para chegar onde nós estamos hoje. Somos muito gratos aos mais velhos. Se estamos aqui é por conta da velha guarda que lutou muito e ensinou a gente”. É assim que o presidente do Sindicato dos Estivadores, Bruno José dos Santos, diz honrar o legado neste aniversário de 133 anos do Porto de Santos, celebrado neste domingo (2).
Os estivadores são os profissionais responsáveis pela movimentação de cargas dos navios para os pátios, armazéns ou para o modal de transporte terrestre. É a categoria símbolo do Porto, uma das mais importantes entre os trabalhadores portuários e que sempre se mostrou forte e unida, e assim, perpetua a atividade numa história cheia de desafios, conquistas, lutas e se preparando para o futuro.
“Os desafios são muitos. Quando entrei na estiva, eu vi muita amizade dentro da categoria, nos víamos todos os dias. Havia uma participação muito grande dos trabalhadores no sindicato, mas com a renovação das leis dos Portos e com a entrada do Ogmo, meio que afastou os trabalhadores. O ganho caiu muito, a composição reduziu, mas o pior de tudo é a falta de respeito com a categoria”, conta o presidente do sindicato.
Santos afirma que os estivadores são sobreviventes de uma época mais bruta e que não temem o futuro.
“Fala-se muito de tecnologia, mas ainda estamos no mecânico. Nós somos sobreviventes de uma época bruta, uma época mais braçal, de suor e sangue. De ‘botar’ a mão e o que vem de novo a gente não tem medo. Já estamos nos preparando. Conseguimos passar em qualquer curso que é dado para a gente. Movimentamos qualquer carga que chega ao Porto de Santos, qualquer aparelho novo que traga, só precisamos do manual”, afirma o sindicalista.
E falando em legado passado de geração para geração, a Estiva é uma das profissões onde essa história ganha mais força. Avós, pais e filhos se orgulham em manter a tradição de trabalhar no Porto de Santos. Um desses exemplos é o de Jorge e André Santana, que além de dividirem o cargo de estivador também dividem o mesmo apelido: Cação.
“Eu ganhei esse apelido de Cação porque era um bom nadador quando era pequeno”, relembra Jorge Santana. Filho de Estivador, Jorge já atua na Estiva há mais de 40 anos e com os frutos do seu trabalho alcançou várias conquistas, deu conforto à família e pavimentou o futuro dos filhos e netos. Hoje, ele ainda está na ativa e o maior sentimento que tem é o amor.
“Me adaptei com a Estiva e eu gosto muito, tanto é que estou até hoje. A Estiva se tornou uma família”, diz Cação.
E por falar em família, o outro Cação, André Luiz Santana, filho de Jorge, entrou na Estiva por conta do pai e hoje atua como o diretor do Sindicato dos Estivadores. Mas esse lado mais político só apareceu recentemente.
“Virei associado da Estiva em 2005, mas nunca me interessei por política sindical e nem por política em geral, porque tinha uma vida diferente. Só queria trabalhar, ganhar meu dinheiro e viajar com a minha família. Em 2012, a Estiva começou a passar por muitos problemas e vi a necessidade de começar a combater esses problemas. E a categoria enxergou em mim, uma espécie de liderança e abracei essa ideia”, conta André.
Assim como seu pai, André é apaixonado pela profissão e parece que o sentimento passou para mais uma geração. O diretor do Sindicato conta que seu filho passou recentemente no concurso público e diz que agora vai trabalhar ainda mais para a Estiva durar 200 anos, brinca André Luiz.
Embora Santos registre atividades portuárias desde o século 16, o dia 2 de fevereiro remonta à inauguração do porto organizado, em 1892.
A data marca a chegada do navio inglês Nasmyth, o primeiro a trafegar e atracar nos então 260 metros de cais. Hoje, o maior porto brasileiro soma 16 km de cais disponíveis para atracação ao longo dos 30 km de extensão do canal.