Infectologistas defendem cancelamento de temporada de navios de cruzeiro no Brasil

Por Noelle Neves em 03/01/2022 às 12:57

Divulgação
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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reforçou a urgência da imediata interrupção da temporada de navios de cruzeiro no Brasil, no último domingo (2), após passageiros serem diagnosticados positivamente para covid-19. A decisão é vista com bons olhos por infectologistas, que acreditam que a liberação foi precipitada, especialmente por conta das infecções pela variante Ômicron.

Conforme Elisabeth Dotti, apesar do cancelamento ser algo triste de se falar, essa parece a melhor opção até a estabilização de casos. “Os cruzeiros começaram logo que descobrimos sobre a Ômicron. Se tivéssemos esperado passar as festas de fim de ano e Carnaval, seria tudo diferente, porque teríamos tido tempo para observar o comportamento da variante e assim, programar uma temporada com mais segurança”, opinou.

A infectologista lembra que a Ômicron é mais transmissível, portanto, no momento epidemiológico atual, a resolução foi impensada. “Com a pandemia, a economia toda parou. O turismo foi muito afetado. Lógico que entendo que foi uma tentativa de reaquecer a economia, mas com isso vimos algo que lutam para entender: aglomerar só gera doença”.

Para ela, em algum momento, o protocolo foi quebrado, o que pode considerar normal, já que se tratam de seres humanos. “Se estavam todos vacinados, com PCR negativo feito 48 horas antes do embarque… Em algum momento, alguma coisa aconteceu. De repente, um jacaré pintou no meio da sua sala? Você levou o jacaré para sua sala. Pode parecer algo brusco de se pensar, porque foram casos leves e com todos vacinados, mas há sempre um ponto fora da curva. Quem será o sorteado? É triste, mas é a solução”, disse.

O também infectologista Marcos Caseiros acredita que a situação era previsível e por isso, partilha da opinião de Elisabeth. “Você colocar centenas de pessoas em um ambiente confinado, em um momento em que o mundo enfrenta a Ômicron. É praticamente inevitável a ocorrência de surtos, ou seja, esse aumento de casos em uma área restrita. Me parece adequada essa determinação sugerindo a suspensão dos cruzeiros”, pontou.

Para ele, não há sentido na realização de cruzeiros, ainda mais quando Europa e Estados Unidos registram alto número de casos. “Independente da vacinação, o grau de vulnerabilidade é alto, porque o vírus é muito mutável. A Ômicron mostra como tudo está se disseminando de maneira espantosa. Praticamente, mais de 200 países já detectaram a presença da variante. Dentro desse ponto de posto, não há sentido imaginar esse tipo de aglomeração, mesmo com testagem”, concluiu.

Recomendação da Anvisa sobre a temporada de cruzeiro

Em que pese os esforços da Agência nos últimos dias para controlar a situação sanitária das embarcações, as ações são gravemente impactadas por falhas no cumprimento dos protocolos pactuados para início da temporada.

Em razão do grave risco à saúde da população, a Anvisa já recomendou ao Ministério da Saúde, desde o dia 31/12, que revisitasse a posição sobre a temporada de navios de cruzeiro disposta na Portaria GM/MS nº 2.928, de 2021, até que seja reavaliado o cenário sanitário e epidemiológico.   

Conforme alertado às autoridades signatárias da Portaria Interministerial CC-PR/MJSP/MS/MINFRA 658, de 2021, a Agência segue aguardando a rápida e urgente manifestação do Ministério da Saúde, sob pena de graves episódios sanitários com risco à saúde pública.”, diz comunicado da Anvisa publicado neste domingo.

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