Chinesa investe R$ 2,84 bi e abre em março novo terminal em Santos
Por Nelson de Sá/Folhapress em 05/03/2025 às 11:10

A gigante chinesa de comércio agrícola Cofco inicia a operação, no final de março, do que descreve como o maior porto dentro do porto de Santos. O terminal consumiu R$ 1,64 bilhão em investimento direto e outro R$ 1,2 bilhão para a compra de 979 vagões e 23 locomotivas, segundo a empresa.
É parte de um programa estratégico chinês proposto há três décadas e iniciado oficialmente em 2007, para inversões em agricultura pelo mundo –Agriculture Going Global, em inglês. Foi precursor da Iniciativa Cinturão, hoje mais conhecida.
Quando o porto estiver concluído integralmente, até o final deste ano, a Cofco projeta operar 14 milhões de toneladas anuais, sobretudo soja, milho e açúcar. Para 2025, deve ficar em 8 milhões de toneladas, 5,5 milhões de soja e milho, 2,5 milhões de açúcar.
Será o maior terminal de exportação da Cofco International, que atua em 36 países, e “o maior porto em movimentação dinâmica de Santos”, segundo o CEO da empresa para o Brasil, Luiz Noto. Vai “concentrar as operações de todas as cargas da companhia”.
De acordo com o vice-presidente da Cofco International, Yunchao Wang, em entrevista no ano passado, é em Santos que se concentra sua atenção, não na alternativa recém-inaugurada do megaporto chinês de Chanqay, no Peru.
Questionado sobre os riscos geopolíticos recentes no Canal do Panamá, outra rota até a China, Noto respondeu que os navios do novo terminal santista vão passar pelo Cabo da Boa Esperança, na África.
O objetivo expresso do programa estratégico chinês, desde o princípio, é segurança alimentar, ou seja, garantir fontes estáveis de produtos agrícolas no exterior, dados os limites das terras aráveis na própria China.
Empresas encabeçadas pela Cofco investiram do Laos ao Uzbequistão e à Ucrânia, tanto em logística como em produção, pesquisa e desenvolvimento. No Brasil, registra Noto, a companhia vai de armazéns e indústria de esmagamento no Centro-Oeste a quatro usinas de açúcar no interior paulista.
Em Santos, a concessão do novo terminal de 98 mil metros quadrados foi obtida em licitação há três anos, para se estender por pelo menos um quarto de século. Outros investimentos projetados abrangem automatizar o transporte dentro do porto, inclusive trens, a exemplo do que acontece com os chineses e o peruano Chanqay.
Com o tempo, ele servirá a outras empresas do setor, não só à Cofco. De acordo com Noto, “o Brasil é fundamental nas operações globais da Cofco, um ‘hub’ agrícola essencial para o nosso negócio”.
Um estudo sobre segurança alimentar da Universidade Renmin, de Pequim, publicado em 2023, defendeu “encorajar” ainda mais a Cofco a participar diretamente do comércio de commodities agrícolas, inclusive mercado futuro –citando os efeitos negativos da Guerra na Ucrânia, com redução no fornecimento.
Instalada no Brasil desde fevereiro de 2014, quando comprou o controle da holandesa Nidera, a Cofco International cresceu através de aquisições e acordos com produtores locais e agora dois terços de seus 11 mil funcionários estão no país.
Até 2022, ela não aparecia na lista das mil maiores empresas brasileiras, do jornal Valor/Serasa/FGV. Em 2024, já era a 14ª.
Questionado sobre ações para subir ainda mais no ranking, Noto respondeu que “a busca por novos negócios está no DNA da companhia, sempre atenta às movimentações do mercado”, sem detalhar.
No país e pelo mundo, as maiores concorrentes da Cofco são as ‘traders’ americanas Cargill e Bunge. E a sua busca por diferenciação no mercado é ambiental, em linha com as prioridades de Pequim na última década.
Por exemplo, segundo o CEO no Brasil, o investimento anunciado agora em ativos ferroviários “possibilita o crescimento da Cofco de forma sustentável, reforçando o compromisso de investir no agronegócio brasileiro atrelado à estratégia de reduzir emissões”.
A abertura do novo terminal terá como primeiro embarque, para a China, 1,5 milhões de toneladas de soja certificada como livre de desmatamento.