Café do Porto de Santos encara crise com tarifaço dos EUA 

Por Beatriz Pires em 21/08/2025 às 05:00

Divulgação/APS
Divulgação/APS

A tarifa de 50% sobre as importações brasileiras, imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicanos), passou a valer em agosto e já preocupa o setor cafeeiro. O café ficou de fora da lista de produtos isentos da nova taxação e sofre as consequências do embargo.

De acordo com a Autoridade Portuária de Santos (APS), no primeiro semestre de 2025 foram exportadas 1,14 milhão de toneladas de grãos de café, o que representa 1,3% do volume total movimentado pelo porto no período — 88,33 milhões de toneladas. Apesar da participação relativamente pequena em volume, o café é o produto mais lucrativo para o terminal.

O economista Danilo Ioselli explica que, sem uma solução imediata, as cargas passam por reformulação nos preços, e contratos que determinam o frete, como o FOB (Livre a Bordo) e o CIF (Custo, Seguro e Frete), estão embargados. “Essas cargas podem ser redirecionadas para países da União Europeia ou asiáticos”, afirma.

De acordo com Ioselli, o governo brasileiro tem priorizado medidas internas e a diversificação de mercados, mas essas ações são insuficientes para neutralizar o impacto, já que os EUA representam o maior mercado consumidor de café do mundo. “As decisões recentes têm sido guiadas, sobretudo, por viés ideológico, o que reduz o espaço para uma negociação pragmática com os EUA”, avalia.

Nesse cenário, pequenos produtores tendem a ser os mais prejudicados. A tendência, segundo o economista, é que compradores norte-americanos exijam descontos, e vendedores aceitem devido à dificuldade de realocar as cargas. “Além disso, a realocação exige novas regulamentações e adequações logísticas”, pontua.

O especialista também destaca que o setor de logística portuária deve ser fortemente afetado, incluindo terminais, operadores, armazéns alfandegados, transporte rodoviário, serviços de classificação, corretoras e financeiras. “O café é uma cultura perene e intensiva em capital, com solo, equipamentos e manejo específicos, difícil de migrar para outra atividade. Isso pode levar à queda de produção, desemprego na cadeia e perda de participação do Brasil no mercado global já no médio prazo”, alerta.

Entre as possíveis alternativas, Ioselli cita a pressão por uma saída diplomática e a industrialização para agregar valor ao produto, como torrefação, produção de solúveis e cápsulas, ou a abertura de novos mercados. No entanto, ele ressalta que essas medidas demandam tempo, investimento privado, homologações e construção de demanda — ou seja, são caminhos de médio e longo prazo, não soluções imediatas.

Em nota, a APS informou que o governo brasileiro, por meio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), tem buscado negociar com os EUA a flexibilização das tarifas e, paralelamente, procurado novos mercados para o café brasileiro.

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