Suspeito de ligação com PCC, policial civil Rogerinho é preso em Santos
Por Santa Portal em 23/12/2024 às 15:00
O policial civil Rogério de Almeida Felício, mais conhecido como Rogerinho, foi preso na manhã desta segunda-feira (23), em Santos.
Procurada pelo Santa Portal, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo informou, através da Delegacia Geral de Polícia, que após tratativas com a defesa de Rogerinho, que figurava como procurado na Operação Tacitus, da Polícia Federal, foi estabelecido um acordo para que ele se entregasse. O policial foi apresentado na sede do Deinter 6 e será conduzido até a sede da Corregedoria.
Rogerinho é apontado em investigação da Polícia Federal (PF) como integrante de uma quadrilha de policiais, que supostamente trabalhariam em conjunto com o PCC, na prática de ações criminosas.
A prisão temporária dele havia sido determinada, na última terça-feira (17), pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
Por meio de nota, a Polícia Civil “ressalta que é uma instituição legalista e não compactua com desvios de conduta. A força-tarefa criada para investigar o homicídio ocorrido no Aeroporto Internacional de Guarulhos segue em diligências para esclarecer o caso, e as corregedorias das polícias Civil e Militar colaboram com as apurações para que todos os agentes envolvidos sejam punidos conforme a lei”.
Entenda o caso
A dupla formada por Rogerinho, como é conhecido, e pelo investigador Eduardo Lopes Monteiro, preso na manhã desta terça-feira (17), teria movimentado R$ 25 milhões no período.
Segundo levantamento da Polícia Federal e do Ministério Público, Felício é sócio majoritário da Magnata Construtora e Incorporadora, empresa que administra uma série de condomínios na cidade. Entre os projetos, destacam-se seis empreendimentos batizados de “Condomínios Magnata”, com 37 unidades prontas e cinco em construção. As propriedades são avaliadas entre R$ 240 mil e R$ 420 mil cada. Além disso, a empresa mantém duas casas avaliadas em R$ 500 mil na mesma região.
O agente Felício, que fazia ocasionalmente a segurança do cantor Gusttavo Lima, recebe um salário líquido de R$ 7.337,17 como funcionário público, mas afirma que sua evolução patrimonial é fruto de negócios legítimos. Em nota, sua defesa destacou que as movimentações financeiras da construtora foram analisadas pelo Ministério Público em investigações anteriores, arquivadas em 2021 e 2023, e que não há incompatibilidades nos valores registrados.
Entretanto, as acusações contra o policial surgiram no contexto da delação premiada do empresário Antônio Vinícius Gritzbach, que o apontou como envolvido em esquemas de corrupção ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital). Apesar das alegações de legalidade dos negócios feitas pela defesa de Felício, a Operação Tacitus segue apurando possíveis irregularidades e ligações com o crime organizado. Gritzbach foi morto a tiros no dia 8 de novembro, no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Investigação de corrupção
Em acordo de delação premiada com o Ministério Público, Gritzbach apontou uma série de policiais supostamente envolvidos em esquemas de corrupção, entre eles Monteiro e Felício, além do delegado Fábio Baena, chefe de ambos durante a passagem deles pelo DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa).
Baena e sua equipe foram os responsáveis pela investigação do assassinato, em 2021, de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, chefe do PCC. Gritzbach era o principal suspeito de ser o mandante do crime. Os policiais teriam exigido dinheiro para livrá-lo das acusações, segundo a versão apresentada pelo delator.
A reportagem não identificou uma evolução patrimonial considerável do delegado Baena. Pelos registros em cartório no estado de São Paulo, os bens do delegado não chegam a R$ 1 milhão. Já os R$ 13 milhões de Felício representam 40 vezes o patrimônio de R$ 319 mil registrado em 2019.
Policial afirma que negócio é legal
A defesa de Felício, liderada pelo advogado José de Oliveira Júnior, afirma que, em 2017, foi aberta uma investigação contra o agente pelo Ministério Público, arquivada em 2021. Neste mesmo ano, outra investigação foi iniciada pela Promotoria, também arquivada em 2023.
“Vale dizer que Rogério, bem como a Construtora Magnata, tiveram suas movimentações financeiras analisadas desde o ano de 2011, sem qualquer incompatibilidade financeira”, diz trecho da nota.
A defesa também esclareceu que a movimentação de R$ 13 milhões nos últimos anos se deu por meio de permutas, incorporações e financiamentos bancários relacionados aos imóveis negociados pela construtora.
Ainda segundo a defesa, as acusações feitas por Gritzbach contra o agente são infundadas e visam descredibilizar o trabalho de Felício e sua equipe, que apontaram o empresário como mandante da morte de Santa Fausta. “Reiteramos que a evolução patrimonial do policial civil Rogério de Almeida Felício é totalmente compatível com suas atividades profissionais, estando devidamente documentada e em conformidade com a legislação vigente”, finaliza.
Investigador preso
O investigador Eduardo Lopes Monteiro, preso na operação Tacitus, movimentou cerca de R$ 12 milhões, conforme o levantamento, o que equivalem a a 15 vezes o patrimônio declarado em 2017. Como funcionário público, Monteiro recebe um salário bruto de R$ 11.985 (R$ 5.504,70 líquidos).
O investigador mora em uma casa de três pavimentos em um condomínio de Bragança Paulista, no interior do estado, uma propriedade estimada por corretores ouvidos pela reportagem em R$ 2 milhões.
Em outubro do ano passado, ele vendeu outro imóvel no mesmo condomínio, por R$ 4 milhões. A reportagem não publica o nome do condomínio para não colocar eventualmente em risco a família do policial, que ainda mora no local.
A reportagem considera em seu levantamento o valor da casa de Monteiro estimado por corretores, e não o valor registrado em cartório de R$ 439 mil, que ainda aparece como um lote sem construção.
Da mesma forma, a reportagem considera o valor de R$ 1,8 milhão para o prédio adquirido por ele na avenida Antônio Pires Pimentel, uma das principais de Bragança. Hoje funciona no local a concessionária de veículos Baronesa Motors, mas na escritura ele foi registrado como um terreno comprado por R$ 450 mil.
A Baronesa Mortors, que vinha comercializando veículos de luxo como Porsche até novembro, também estava em nome do investigador até março de 2023. Naquele mês, a empresa passou para sua mulher e para um sócio, Edmundo Alves Pereira Gaeta, ambos com 50% da companhia, estimada em R$ 500 mil.
Das 15 matrículas adquiridas ou comercializadas pelo investigador, duas delas estão em nome da empresa MD Construção e Incorporação, registrada em nome de Monteiro e da mulher dele, uma médica da cidade.
O investigador deixou a sociedade da MD em março do ano passado, deixando a empresa apenas para a mulher. O patrimônio dele ainda inclui carros e sala comercial.
A defesa
A defesa de Monteiro, liderada pelo advogado Daniel Bialski, diz que “paralelamente à elogiada carreira policial”, o investigador foi sócio da Baronesa Motors e da MD Construções LTDA. “Não exercendo qualquer cargo de administração. Hoje já não mais integra o quadro societário de ambas empresas”, diz.
Sobre os carros anunciados na loja, tratava-se de veículos deixados em consignação por terceiros, clientes. “Já em relação a MD Construções LTDA, o maior aporte para obtenção dos imóveis é fruto do ofício de sua esposa e de vendas pretéritas. Aliás, tudo está regular e devidamente declarado em seu imposto de renda”, afirma a defesa do investigador.
Operação Tacitus
A Polícia Federal e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) deflagraram, na manhã desta terça-feira (17), a Operação Tacitus, com o objetivo de desarticular organização criminosa voltada à lavagem de dinheiro e a crimes contra a administração pública (corrupção ativa e passiva).
Nesta terça, 130 policiais federais, com apoio da Corregedoria da Polícia Civil, deram cumprimento a oito mandados de prisão e 13 de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, Bragança, Igaratá e Ubatuba.
A investigação partiu de análise de provas que foram obtidas em diversas investigações policiais que envolveram movimentações financeiras, colaboração premiada e depoimentos. Tais elementos revelaram o modo complexo que os investigados se estruturaram para exigir propina e lavar dinheiro para suprir os interesses da organização criminosa.
Os investigados, de acordo com suas condutas, vão responder pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva e ocultação de capitais, cujas penas somadas podem alcançar 30 anos de reclusão.
A denominação da operação vem do termo em latim que significa silencioso ou não dito. É uma alusão à forma de atuar da organização criminosa.