08/12/2021

Suspeito de feminicídio usava nome falso e dizia ser bombeiro, diz filho

Por Marcela Ferreira em 08/12/2021 às 06:00

(Foto: Arquivo pessoal)
(Foto: Arquivo pessoal)

Principal suspeito de ter matado Sandra Ribeiro, em São Vicente, o ex-namorado da vítima usava um nome falso, e dizia ser bombeiro, e que estava afastado por um problema na coluna, segundo o filho de Sandra, Mychell Ribeiro.

Em entrevista ao Santa Portal, Mychell, que é advogado, conta que toda a família está abalada, já que o homem sempre demonstrou ser carinhoso e gentil. O filho deseja que a repercussão do caso seja cada vez maior, a fim de que identifiquem o suspeito o mais rápido possível, e que isso não volte a acontecer com outras mulheres.

A polícia expediu um mandado de prisão temporária contra o ex-namorado de Sandra, principal suspeito do crime, que está desaparecido. Segundo a polícia, a morte teria ocorrido no último fim de semana, mas o corpo só foi encontrado na segunda-feira (6), pelo filho mais novo da vítima, já em estado de decomposição. O sepultamento foi realizado nesta terça (7), sem velório, devido ao estado do corpo.

“A minha mãe foi muito ingênua colocando esse cidadão aqui em casa, o cara deu um nome que não era nem o nome dele, ficou um ano aqui com a gente, não era o que demonstrava na nossa frente, era um cara super dócil, super educado”, conta Mychell.

Em novembro de 2020, Sandra apresentou o namorado à família. “A minha mãe chegou com ele no aniversário da minha tia, apresentando para a família como namorado. Era um cara elegante, bonito, tatuado, e foi apresentado para a família e, no mesmo dia, ele dormiu lá em casa. A partir daí, ele nunca mais saiu”, explica.

Segundo Mychell, a mãe era viúva há cerca de cinco anos, e ainda estava frágil. “Ele falava que o nome dele era um, que ele era bombeiro e estava afastado por causa da coluna, sendo que ele nunca foi bombeiro, e aí foi ficando. Minha mãe se apaixonou, estava frágil porque perdemos o nosso pai há pouco tempo, mais ou menos cinco anos, e o cara foi ficando. Na minha frente e dos meus irmãos ele demonstrava sempre ser um cara cordial”.

Os filhos moravam na mesma casa, mas frequentemente o casal ficava sozinho, enquanto os filhos de Sandra trabalhavam. “Por diversas vezes eu cheguei do serviço em casa, ele estava sentado no sofá de cara fechada e minha mãe do outro lado jogando no celular, como quem não quer nada. Mas ele colocava como se a minha mãe fosse a chata, sendo que ele que era o psicopata, ciumento, e aí eles brigavam muito por causa disso. Mas a gente nunca viu nada agressivo, porque na nossa frente ele demonstrava ser um cara dócil”, diz.

O homem chegou a apresentar suas filhas de outro relacionamento para a família de Sandra, mas nunca entrou em detalhes sobre sua vida particular. “A gente chegou a conhecer duas filhas dele, mas nunca soube muita coisa, e ele sempre foi muito simpático. Mas infelizmente, acho que na quinta-feira, ele agrediu minha mãe, e ela não contou nada para mim e nem para os meus irmãos para poupar a vida dele, e acabou entregando a vida dela de bandeja”.

Família

O baque causado pela morte de Sandra deixou sequelas na família, que ainda se recuperava da morte do pai. “Meu irmão mais novo está desolado. O menino não para de chorar o tempo todo, até porque a gente nem superou a perda do meu pai. Meu pai também faleceu, em 2017, aos 56 anos, igual a minha mãe”, conta Mychell.

“Minha avó também está arrasada. Perdeu a filha mais velha dela, que era muito mais que uma filha. As duas eram unha e carne, amicíssimas, confidentes desde sempre, de ficar duas horas no telefone uma com a outra. E minha avó já tinha perdido um tio meu há 21 anos. A família está arrasada”, diz.

Outra vítima

Após a repercussão do caso, uma mulher procurou o irmão mais novo de Mychell, e relatou que também foi vítima do mesmo homem. “Uma vítima dele viu as reportagens e chamou meu irmão, disse que ele tentou fazer a mesma coisa com ela, mas ela conseguiu expulsar ele de casa”.

“Ele tentou matar ela afogada e tentou asfixiá-la, igual fez com a minha mãe, só que o pai dessa vítima e dois irmãos expulsaram ele de casa, e ainda assim ele a perseguia, então é o típico perfil de psicopata”, completa.

O filho ainda ressalta que a mãe já tinha dito que iria terminar com ele, botava para fora de casa, mas ele sempre pedia para voltar, e ela cedia. “Ele ficava chamando, fazendo drama, dizendo que só queria tomar um banho, comer alguma coisa, e aconteceu isso”.

O dia do crime

A família conseguiu ter acesso a filmagens de câmeras de segurança que mostram o momento em que o casal chega em casa. “Minha mãe está no carro, porque ele não dirigia, ele desce, abre o portão, e ela entra com o carro, e enquanto ela está estacionando, ele coloca a mão na cabeça, como se já tivesse feito alguma coisa, já tivesse batido nela, vira para um lado e para o outro, coloca a mão na cabeça meio preocupado e fecha o portão”.

“Uma hora depois, ele sai de casa, pega a bicicleta do meu irmão mais velho que estava lá com uma mochilinha que ele pegou, e deveria estar com umas três peças de roupa, pegou o celular dela e foi embora”. O filho ainda conta que o homem bloqueou as formas de contato do celular da mãe, e acredita que ele possa ter tentado acessar as contas bancárias dela, mas os cartões foram bloqueados.

Desejo por justiça

Nas redes sociais, Mychell publicou um vídeo em que pede para que mulheres tomem cuidado com novos relacionamentos com homens.

“Meninas, mulheres, mães, prestem atenção com quem vocês andam, eduquem suas filhas para não aturar nenhum grito. Eduquem suas filhas para não ter a segunda chance. Hoje aconteceu com a minha família, eu perdi a minha mãe. Então antes de ter amor a qualquer homem, tenham amor próprio. Esse é o recado que eu quero dar para vocês, para que não tenhamos outras Sandras Cristinas, não tenhamos outras Marias, Joanas, que possam vir a passar por isso”, disse.

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