26/05/2021

Policial que sofreu assédio de tenente-coronel é forçada a pedir exoneração

Por #Santaportal em 26/05/2021 às 11:22

ASSÉDIO – A policial militar Jéssica Paulo do Nascimento, que denunciou assédio sexual e ameaças de morte por parte de seu superior  no Comando do Batalhão da Zona Sul da Capital, foi forçada a pedir exoneração nesta quarta-feira (26).  

O advogado de Jéssica, Sidney Henrique, contou que pediu ao corregedor da Polícia Militar que representasse pela prisão preventiva do tenente-coronel. Assim que o documento foi mandado, uma viatura parou na frente da casa da agora ex-soldado e recolheu o armamento dela. Segundo ele, os policiais foram embora e não pegaram nenhum recibo. Após Jéssica contatar o advogado, os PMs retornaram para que ela assinasse o documento.

Um dos policiais que compareceram à casa de Jéssica é um sargento que, segundo ela, foi responsável por pressionar seu exoneramento.

Assim que a então policial fez a denúncia de assédio na corregedoria, foi transferida para o litoral, onde mora. Não se sentindo bem psicologicamente, perguntou ao sargento se teria direito a férias, o que lhe foi negado pois, segundo o superior, no sistema não constava esse direito a ela. No entanto, segundo o advogado, Jéssica afirmava que não tinha mais condições de permanecer na Polícia, ao que o sargento respondeu que só daria férias caso ela pedisse a exoneração primeiro.

Ao final das férias de 20 dias, Jéssica foi a um médico da PM, a quem relatou que não tinha condições psicológicas. Em áudio gravado, ele diz: “Eu tenho a segurança de que você não é doida. Eu sei que você é uma pessoa normal, que está passando por um momento difícil na sua vida. Não é um problema médico, é um problema administrativo. No máximo psicológico, isso você resove no Caps. Meu parecer tem que ser técnico”, e em seguida, afirma que o comandante é quem deveria, a princípio, autorizar o afastamento. No áudio, ele até se oferece para mandar uma mensagem para o comandante a respeito do assunto. “Nisso, ela conseguiu entender que era um complô”, conta o advogado.

Henrique diz ainda que das medidas protetivas que pediu em favor de Jéssica (como um mandado de segurança), as únicas concedidas foram o afastamento do tenente-coronel e a transferência de sua cliente para o litoral. O inquérito segue em segredo de Justiça, e aguarda julgamento.

No documento da exoneração, o comportamento de Jéssica, com cinco anos de corporação, conta como “ótimo”. A ex-PM não responde a nenhum processo na esfera Civil ou Militar. O advogado chegou a peticionar para que Jéssica saísse da companhia pois já havia percebido a perseguição. Foi feito o pedido ao comando da companhia, o Batalhão e o CPI-6 (que comanda todo o Litoral Sul). No entanto, o pedido foi indeferido.

“Eles iriam me prejudicar para que eu ficasse com mau comportamento”, diz Jéssica. Para ela, o tenente-coronel está sendo protegido pelos colegas de corporação. “É uma injustiça, a gente estuda… saí da minha cidade, no Rio de Janeiro, pra ter uma profissão, uma carreira pública… pra agora perder esse sonho.”

Relembre o caso

As investidas do tenente-coronel começaram em 2018, quando ele havia acabado de assumir o Comando do Batalhão da Zona Sul da Capital. Logo no começo, o superior chamou a soldado para sair, e à recusa dela, por ambos serem casados, as perseguições começaram. Jéssica relatou sofrer sabotagens no trabalho.

Ela então pediu uma licença da companhia, quando ficou dois anos sem remuneração. Foi quando Jéssica foi morar em Praia Grande, e tentou uma transferência para a Baixada. 

Em 25 de março, ela voltou a ser assediada de maneira agressiva, por meio de ligação. Quando iria encontrar o tenente-coronel para falar a respeito de sua transferência, ele disse que iriam para um motel. Ao negar, ele começou a ameaçá-la de estupro e morte, e ela decidiu fazer a denúncia. 

O superior foi afastado após abertura de um processo disciplinar. Ele está sendo processado na Justiça militar e também na comum.

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