26/11/2021

Polícia Civil turbina estatística e anuncia captura de quem já está preso

Por Santa Portal em 26/11/2021 às 16:37

Luciano Ferreira Morais, Allessandro Miranda da Silva, Felipe Dantas da Silva e Márcio Pereira da Silva têm algo em comum. Embora já estivessem muito bem encarcerados, figuram nas estatísticas da Polícia Civil como “capturados” na mais recente operação realizada na região pelo 6º Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter-6).

Denominadas com o pomposo nome de “atuação de campo de polícia judiciária (ACPJ)”, tais operações são realizadas mensalmente pelo Deinter-6, cuja área abrange Santos e mais 23 cidades da Baixada Santista, do Litoral Sul e do Vale do Ribeira, na faixa compreendida entre Bertioga e Barra do Turvo, na divisa com o Paraná.

A mais recente ACPJ aconteceu nesta semana, durante 24 horas, como de costume. Na tarde de quinta-feira (25), em entrevista coletiva no Palácio da Polícia, onde fica a sede do Deinter-6, foi anunciado o balanço da operação. A divulgação oficial destacou a realização de 137 prisões decorrentes do cumprimento de mandados criminais.

Levantamento exclusivo do Santa Portal detectou que quatro supostas capturas, pelo menos, inflaram as estatísticas como se fossem fermento nos números divulgados à população por meio dos veículos de imprensa. Questionado quantas outras pessoas se acham em situação idêntica às apontadas na apuração, o Deinter-6 não respondeu.

Inflação numérica

Luciano foi autuado em flagrante sob a acusação de furto em data anterior à operação. Após audiência de custódia, ele teve decretada a preventiva e uma equipe de policiais se deslocou ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de São Vicente para cumprir o mandado de prisão, contabilizando a captura no balanço da operação.

A mesma situação se aplica a Allessandro e Márcio, acusados de furto qualificado, e a Felipe, apontado como autor de tentativa de furto simples. Os três também estão recolhidos no CDP de São Vicente e serviram para engrossar o rol de capturados na operação da Polícia Civil, apesar de já estarem presos.

O Santa Portal perguntou à assessoria de comunicação do Deinter-6 se entre os 137 presos por mandado criminal, conforme o balanço, há outros que já estavam encarcerados, além dos quatro citados pela matéria. Também foi questionado se o sistema de tabulação de dados será alterado para não passar falsa ideia de números.

Justificativa estatal

As duas indagações formuladas não foram respondidas, mas a diretoria do Deinter-6 encaminhou nota na qual explica que “alguns dados estatísticos usados como material de divulgação acabam sendo agrupados para facilitar a divulgação pela mídia. O termo ‘captura’ é atribuído ao efetivo cumprimento de um mandado de prisão”.

O comunicado afirma que “não importa se a pessoa já está encarcerada ou não. Aqui vale o fato de que uma ordem judicial de prisão foi cumprida”. Conforme a nota, as operações policiais servem para reprimir as práticas criminais e “aumentar a sensação de segurança da população”, contribuindo para reduzir os índices de criminalidade na região.

‘Falsa eficiência’

Presidente do Sinpolsan, Renato Martins, alerta para operações do Deinter-6 (Divulgação)

Segundo o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Santos e Região (Sinpolsan), Renato Martins, a entidade alerta há muito tempo que as operações do Deinter-6 são “um trabalho superficial, com claro objetivo de apresentar uma polícia em atividade, criando uma falsa sensação de eficiência, apenas com a produção de estatísticas”.

Martins ainda fala em “manipulação de números” e rotula as operações de “gincanas”. Ele revela que o cômputo de usuários de drogas como presos demonstra a preocupação apenas com números. “Grande parte dos usuários, antes mesmo da divulgação do balanço da operação, voltam ao local de sua detenção, aguardando a próxima operação”.

Sobre a duplicidade de capturas nos balanços, o sindicalista a chama de “procedimento indecoroso”. “O Sinpolsan repudia manipulações de dados estatísticos e interpretações equivocadas, pois entende que a distorção da realidade põe em risco a credibilidade da Polícia Civil, há tempos menosprezada pelo Governo de São Paulo”, conclui. (EVF)

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