28/02/2025

Orçamento controlado por mulheres sob Lula despenca com demissão de Nísia

Por Mariana Brasil e Mateus Vargas/Folhapress em 28/02/2025 às 17:07

Reprodução/CanalGov
Reprodução/CanalGov

Com a demissão de Nísia Trindade do Ministério da Saúde, as pastas do governo Lula (PT) chefiadas por mulheres agora passam a concentrar apenas 10% do orçamento do governo federal.

De um total de R$ 194 bilhões previstos para custeio e investimentos do governo federal em 2025, cerca de R$ 19,4 bilhões estão sob administração destes ministérios.

A cifra controlada pelas ministras alcançaria ao menos R$ 75,9 bilhões (39,1%), caso Nísia seguisse à frente da Saúde. A conta considerou os recursos discricionários indicados a todo os órgãos do Poder Executivo na PLOA (Projeto de Lei Orçamentária) deste ano.

O cálculo não inclui a previsão de despesas obrigatórias, que são destinadas principalmente para salários e aposentadorias. Também não soma as emendas parlamentares, pois o Congresso ainda não aprovou o valor que deverá ser distribuído.

O Ministério da Saúde tradicionalmente possui um dos maiores orçamentos da Esplanada, sendo responsável por algumas das principais políticas públicas do Estado brasileiro.

Não à toa, é sempre cobiçado pelos partidos que integram a base governista. Nísia vinha sendo alvo de ataques do centrão, de olho na pasta, praticamente desde o primeiro ano de governo.

Cargos femininos

Em 2024, por exemplo, cerca de R$ 24,8 bilhões em emendas parlamentares foram destinadas para a Saúde, de um total de R$ 44,9 bilhões empenhados por indicações de deputados e senadores durante o ano.

Lula demitiu, até o momento, três mulheres, após dar a largada em seu terceiro mandato, em janeiro de 2023, igualando o número recorde de ministras de Dilma Rousseff (11). Todas as demitidas foram substituídas por homens.

Saíram Ana Moser, do Ministério do Esporte; Daniela Carneiro, conhecida como Daniela do Waguinho, do Turismo; e agora, Nísia Trindade, da Saúde.

A pasta do Esporte passou para André Fufuca (PP), a do Turismo, para Celso Sabino (União Brasil), e a da Saúde, para Alexandre Padilha -que até o momento chefiava a SRI (Secretaria de Relações Institucionais).
Apenas uma das substituições feitas pelo presidente até o momento adicionou uma mulher à equipe, com Macaé Evaristo substituindo Silvio Almeida no Ministério dos Direitos Humanos.

Ele saiu sob denúncias de importunação sexual a mulheres, entre elas, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.

Nesta sexta, a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), foi confirmada por Lula para a vaga deixada por Padilha.

A SRI não tem orçamento próprio. O ministério utiliza recursos previstos para a Presidência da República.

Em 2024, foram empenhados cerca de R$ 3,7 milhões para ações do ministério que será comandado por Gleisi, principalmente para pagamentos de diárias e passagens.

Posicionamento do Planalto

De acordo com o Planalto, as pastas chefiadas pelas ministras são estratégicas para o desenvolvimento de políticas públicas em áreas cruciais para o país e que essa articulação amplia os recursos disponíveis para a execução de diversas iniciativas, “excedendo os orçamentos originalmente alocados nessas pastas.”

“As mulheres continuam sendo valorizadas e desempenhando papéis de destaque nesta gestão. A ministra Nísia Trindade, à frente do Ministério da Saúde por mais de dois anos, comandou uma das pastas com os maiores orçamentos da Esplanada e foi responsável pela reestruturação e ampliação do SUS, que havia sido sucateado na gestão anterior”, diz nota enviada à reportagem.

Mulheres no governo

Por enquanto, o governo conta com 10 mulheres, em meio às 38 pastas existentes.

São elas: Esther Dweck (Gestão), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Cida Gonçalves (Mulheres), Margareth Menezes (Cultura), Anielle Franco (Igualdade Racial), Gleisi Hoffmann (articulação política), Simone Tebet (Planejamento), Marina Silva (Meio Ambiente), Macaé Evaristo (Direitos Humanos) e Sonia Guajajara (Povos Indígenas).

A demissão de Nísia na terça-feira (25) deu um início oficial à reforma ministerial que já esperada internamente, que o próprio mandatário afirmou que dará sequência após o Carnaval. Na manhã desta quinta-feira (27), o presidente disse ter demitido a socióloga por querer “mais agressividade”.

A ministra já vinha atravessando um processo de fritura.

Do mesmo modo, no início do ano passado, por exemplo, Lula cobrou duramente Nísia durante reunião ministerial e pediu que ela falasse “grosso”, em uma fala que muitos enxergaram como machista. A ministra se emocionou e depois foi amparada pela primeira-dama Janja.

Lula depois fez um gesto para Nísia, afirmando que ela falava “manso” e “com a alma”.

Veja as 9 mudanças de lula até o momento

  • Justiça: Flávio Dino (nomeado para o STF) por Ricardo Lewandowski
  • Saúde: Nísia Trindade substituída por Alexandre Padilha
  • Articulação política: Alexandre Padilha substituído por Gleisi Hoffmann
  • Portos e Aeroportos: Márcio França (foi para o Ministério do Empreendedorismo e Microempresa) substituído por Silvio Costa Filho
  • Direitos Humanos: Silvio Almeida por Macaé Evaristo
  • Esportes: Ana Moser por André Fufuca
  • Secretaria de Comunicação Social: Paulo Pimenta por Sidônio Palmeira
  • Gabinete de Segurança Institucional: general da reserva Marco Edson Gonçalves Dias por Marcos Antonio Amaro
  • Turismo: Daniela Carneiro por Celso Sabino

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