Norte e Nordeste seguem como regiões mais violentas do Brasil, apesar de leve redução nacional
Por Yuri Eiras/Folhapress em 18/06/2024 às 10:41
O Norte e o Nordeste do Brasil lideram a lista de capitais com maiores taxas de homicídios registrados e estimados por 100 mil habitantes, segundo o Atlas da Violência 2024. Os estados da região também índices de mortes violentas acima da média nacional.
O relatório foi publicado nesta terça-feira (18) pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
No Brasil, foram registrados 46.409 homicídios em 2022 -o último da gestão Jair Bolsonaro (PL)-, ou 21,7 homicídios para cada 100 mil habitantes, mesma taxa de 2019. O ano de 2022 teve leva queda de 3,6% na comparação com 2021, quando a relação foi de 22,5 mortes registradas por 100 mil habitantes.
Salvador é a capital brasileira com a maior taxa de homicídios estimados por 100 mil habitantes (66,4), seguida por Macapá (55,8), Manaus (55,7), Porto Velho (47,6) e Fortaleza (45,3).
Completam a lista das 12 maiores Recife (44,7), Aracaju (41,8), Maceió (41,5), Teresina (40,4), Boa Vista (39,2), Natal (36,9) e Palmas (32,0). Porto Alegre é a capital fora do Norte e Nordeste com a maior taxa de homicídios estimados (29,9).
O Atlas da Violência, feito com dados de 2022, diferenciou homicídios registrados e estimados. Os registrados são aqueles cujos dados foram retirados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde.
Já os estimados somam homicídios registrados e ocultos -assassinatos, agressões, suicídios e acidentes que entram no sistema do Ministério da Saúde como causa indeterminada.
Para eliminar dados de suicídios, agressões e acidentes e filtrar apenas os possíveis homicídios, pesquisadores usaram ferramentas de aprendizado de máquina que levaram em consideração situações e características das vítimas.
A cidade do Rio de Janeiro teve taxa de homicídio em 21,3; Belo Horizonte 17,6; e São Paulo 15,4. Florianópolis teve a menor taxa de homicídios por habitantes (8,9) entre as capitais.
Os dados, contudo, podem sofrer distorção, a depender de como são lançados no sistema do governo federal. Segundo o Atlas da Violência, a cidade de São Paulo registrou apenas 344 dos 1.762 homicídios corretamente, e foi a única capital com mais homicídios ocultos do que registrados.
Norte e Nordeste possuem trajetórias semelhantes na taxa de homicídios, segundo o Atlas. Houve disparada no número de mortes a partir de 2014, com um pico de quase 50 mortes por cada 100 mil habitantes em 2017. De 2018 a 2022 houve queda, à exceção do Nordeste, que sofreu um repique de crescimento de 2019 para 2020. Em 2022, Norte e Nordeste alcançaram a mesma taxa de homicídios por 100 habitantes (34,7).
No Nordeste, a Bahia é o estado com maior taxa de homicídios (46,8). No estado, praticamente todos os municípios litorâneos possuem taxas acima de 47 homicídios por 100 mil habitantes.
Salvador (66,4) e Feira de Santana (66,0) foram as cidades com mais mortes por habitantes no recorte entre os municípios grandes, com população de mais de 500 mil pessoas. Em Salvador, o relatório identificou 1.568 homicídios registrados e 37 ocultos.
Nos municípios médios, com população entre 100 mil e 500 mil, a maior taxa também foi de um município baiano: Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo. Em 2022, o município teve 97 homicídios estimados para uma população de 103.055 residentes, uma taxa de de 94,1.
No ranking nacional das cidades médias, Santo Antônio de Jesus é seguida por Jequié (91,9), Simões Filho (81,2), Camaçari (76,6) e Lauro de Freitas (51,1), todas na Bahia.
No Norte, o estado com maior taxa de homicídios estimados foi o Amazonas (43,5). A região, aponta o relatório, é a área de atuação de ao menos dez organizações criminosas, especialmente nas áreas de fronteira. As facções brasileiras criadas no Sudeste, como o paulista PCC (Primeiro Comando da Capital) e o fluminense CV (Comando Vermelho), expandiram-se para a região na última década e ganham força, segundo pesquisadores.
O documento identifica dois movimentos no Amazonas. O primeiro é o alto índice de mortes em cidades próximas de Manaus, como Iranduba e Coari. O outro é a violência em municípios fronteiriços, como Tabatinga, na tríplice fronteira entre o Brasil, Colômbia e Peru.
A análise do relatório é de que o rio Solimões é estratégico na rota do tráfico de drogas por escoar a droga produzida no Peru e na Bolívia. Por conta disso, a região vive disputa entre facções pelo controle da área.
A infraestrutura da capital Manaus, com porto e aeroporto, torna a capital e os municípios do entorno alvos de conflitos. O estado também sofre com disputas por grilagem de terra, exploração de madeira e minérios e invasão de terras indígenas.