Mortes em cadeia ocorreram após detento “pescar” chave em grade
Por Santa Portal em 22/02/2023 às 11:00
A fuga, os tiros e as mortes registrados na cadeia anexa ao 5º DP de Santos (Bom Retiro), às 13 horas de terça-feira (21), ocorreram após um agente policial supostamente esquecer sobre uma grade externa um cadeado aberto com a chave de uma das trancas da unidade.
Essa informação foi prestada por um dos sete homens que estavam recolhidos na unidade e se recusou a participar da fuga. Segundo ele, o preso Dhieniston Batista, de 29 anos, utilizou pedaços de madeira amarrados entre si para “pescar” o cadeado e a chave.
Dhieniston estava solto no pátio porque exercia a função de “faxina”. Após ele resgatar o cadeado com a chave, ele abriu uma tranca da unidade, saiu do campo de visão do detento que prestou as informações e retornou logo em seguida com as chaves dos xadrezes, abrindo-os.
Dos sete detentos, Dhieniston e mais quatro saíram das celas. Eles se ocultaram atrás de uma parede e surpreenderam um investigador que se aproximou da “gaiola” para confirmar quantos presos havia na cadeia, pois precisava dessa informação para solicitar a quantidade exata de almoços.
Gaiola é um espaço de segurança, dotado de grades, que fica entre as galerias das celas e a área imediatamente antes da carceragem. Segundo o detento testemunha, o investigador foi imobilizado com um golpe “mata-leão” e agredido com golpes de barra de ferro.
Diogo Rosário Silva, de 24 anos, foi apontado como quem agarrou o investigador por trás pelo pescoço, enquanto Huberth Miguel de França, de 19, atingiu o policial na cabeça com a barra de ferro. Os demais presos também agrediram a vítima.
Após esse ataque, o grupo seguiu para a frente do prédio do 5º DP para fugir, mas encontrou a resistência do agente policial, que sacou a sua arma. Nesse momento, não houve a realização de disparos, mas logo em seguida surgiu o investigador agredido.
Diante da relutância dos presos em retornarem às celas e da insistência deles em avançarem sobre os policiais, o investigador atirou para proteger a si e o colega. Os detentos atingidos foram Dhieniston, Huberth, Marco Antônio Feriozzi dos Santos, de 28 anos, e Maycon de Paula Santos, de 23.
Marco Antônio e Huberth morreram, enquanto Dhieniston e Maycon foram socorridos e levados ao hospital. Durante o registro da ocorrência, o preso que “pescou” o cadeado com a chave (Dhieniston) recebeu alta, mas se manteve silêncio ao ser interrogado na Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Santos.
A delegada Maria Luísa dos Santos Neves autuou Dhieniston e Maycon pelo crime de evasão mediante violência contra a pessoa. Diogo conseguiu escapar e também será indiciada por esse delito.
Segundo a delegada, a conduta do investigador se enquadra na hipótese de legítima defesa própria e de terceiro. Em relação ao agente policial, ela registrou que a Corregedoria da Polícia Civil irá apurar eventual crime de facilitação culposa (não intencional) de fuga de preso.
Bastante machucado, o investigador permanece internado e ainda não pôde ser ouvido. O agente alegou não saber exatamente como os detentos saíram das celas, sendo surpreendido por eles no saguão da delegacia e os enfrentado para impedir a fuga.
A cadeia do 5º DP é uma carceragem de trânsito, na qual os presos ficam até serem transferidos para alguma unidade da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP). Dos sete detentos que ali estavam, seis são condenados/procurados e um é preso temporário. O distrito estava fechado para o público durante o episódio, porque ele funciona apenas nos dias úteis, das 8 às 20 horas. (EF)