Jovem morre após vomitar sangue e não ser internada no litoral de SP; família alega negligência médica

Por Rodrigo Cirilo em 15/04/2025 às 10:00

Arquivo pessoal e Divulgação/Prefeitura de Peruíbe
Arquivo pessoal e Divulgação/Prefeitura de Peruíbe

Letícia Monteiro de Souza, de 19 anos, morreu após permanecer mais de uma semana com sintomas de dengue em Peruíbe. A família alega que a morte, ocorrida na madrugada da última quinta-feira (10), foi consequência de negligência médica. Segundo os familiares, Letícia deu entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da cidade com o quadro agravado, incluindo vômitos de sangue. No entanto, não foi internada e recebeu apenas dipirona e paracetamol como tratamento.

Ao Santa Portal, a irmã da jovem, Regilene Rodrigues, de 23 anos, contou que a primeira ida à UPA foi na quinta-feira (3), quando Letícia foi levada pela mãe. Na ocasião, a médica receitou uma injeção, pois a jovem apresentava dor de cabeça, febre e cansaço. Contudo, ela se recusou a tomar o medicamento, alegando que ainda não havia realizado nenhum exame e desconhecia o diagnóstico.

Nos dias seguintes, os sintomas se agravaram. Na madrugada de terça (8) para quarta-feira (9), Letícia começou a vomitar sangue, o que motivou a família a levá-la novamente à UPA. “O médico solicitou exames de sangue e urina. Quando os resultados saíram, ele confirmou que era dengue, com plaquetas baixas. Mas, como observou manchinhas no corpo dela, disse que era a fase final da doença e que não havia motivo para preocupação”, relatou Regilene.

A família questionou o médico, mostrando uma foto do primeiro vômito com sangue, a fim de reforçar a gravidade da situação e solicitar internação. “O médico disse que era normal, que ela devia ter alguma estria ou veia rompida por esforço ao vomitar. Em nenhum momento considerou interná-la”. De volta para casa, Letícia utilizou um inalador na tarde de quarta-feira, pois também apresentava falta de ar, além dos demais sintomas – dor de cabeça, febre, cansaço e sangramentos na urina e no vômito.

“Na quinta-feira, ela passou mal e disse à minha mãe que não ia aguentar. Foi levada novamente ao médico, vomitou sangue puro. Quando cheguei lá, recebi a notícia de que ela havia falecido”, contou Regilene. “Se tivessem internado ela desde a madrugada de terça para quarta, ela estaria viva. Isso dói muito. Só quero justiça pela minha irmã. Quantos outros casos parecidos devem ter sido abafados?”, desabafou.

Ela também comentou sobre a última orientação médica. “O último médico pediu para baixarmos um aplicativo, no qual devíamos colocar o peso e altura dela para calcular a quantidade de água, água de coco, isotônico, chás que ela deveria tomar. Minha tia chegou a baixar o aplicativo. Ele até fez um resumo de como funcionava. Mas, infelizmente, minha irmã perdeu a vida por negligência médica. Em nenhum momento quiseram interná-la. A gente insistiu, implorou, e nada foi feito”.

Prefeitura afasta médico, mas nega dengue

Em nota, a Prefeitura de Peruíbe informou que, conforme o Serviço Municipal de Vigilância Epidemiológica, até o momento não há confirmação de que o óbito tenha sido causado por dengue, já que não há exame confirmatório. No entanto, o médico responsável pelo último atendimento foi afastado preventivamente dos plantões até a conclusão da apuração.

Regilene contesta a versão. “Em nenhum momento eles tentaram descobrir a causa daquela febre alta. Agora dizem que ela fez dois tipos de teste de dengue e que não deu positivo, mas todos os sintomas, os médicos e exames apontavam para dengue. E só receitaram dipirona e paracetamol”.

A Secretaria Municipal de Saúde informou ainda que a administração está monitorando o caso com rigor e instaurou procedimento administrativo para apurar os fatos. A prefeitura aguarda o laudo do Serviço de Verificação de Óbito (SVO), além dos resultados dos exames laboratoriais para pesquisa de arboviroses, realizados com a amostra da paciente, enviada ao Instituto Adolfo Lutz.

“Minha irmã precisou perder a vida para que começassem a tomar providências. E agora, quem sofre somos nós. Não quero lamentações, porque isso não vai trazer minha irmã de volta”, finalizou. De acordo com Regilene, Letícia não tinha problemas crônicos de saúde e trabalhava como comerciante. O sonho da jovem era ingressar em uma faculdade.

loading...

Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.