Golpe do Pix supera roubo de celulares e preocupa especialistas
Por Beatriz Pires em 09/09/2025 às 06:00
O último levantamento do Datafolha revela que cerca de 24 milhões de brasileiros já foram vítimas do “golpe do Pix” ou de boletos falsos. A pesquisa, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que esses crimes já superam os roubos de celulares e outros aparelhos.
O Pix tem sido o principal recurso utilizado pelos golpistas, que exploram a rapidez, a irreversibilidade e a disponibilidade do sistema para enganar as vítimas. O método mais comum é a engenharia social, na qual o criminoso se passa por um conhecido, funcionário de banco ou empresa e solicita uma transferência “urgente”, geralmente sob a justificativa de emergência ou oportunidade única.
Outras fraudes relatadas incluem clonagem de WhatsApp, falsas centrais de atendimento, páginas falsas e compras online fraudulentas, que representaram 17,7% dos casos. Foi o que aconteceu com Aysha Vasconcelos, de 20 anos, que descobriu ter sido enganada após comprar um par de sapatos em uma loja virtual pelo Instagram.
“Paguei via Pix e o produto nunca chegou. Eles não respondiam e-mails nem mensagens. Só então percebi que havia caído em um golpe”, conta a jovem.
Aysha tentou reaver o dinheiro com o banco, mas não teve sucesso. Ela reconhece que o erro foi não verificar os comentários da página ou buscar avaliações externas antes da compra — e desde então passou a ser mais cautelosa.
Boletos falsos também estão entre os principais golpes, geralmente enviados por e-mail ou aplicativos de mensagem.
Segundo Nathália Carmo, especialista em Segurança da Informação e sócia da IAM Brasil, na Baixada Santista há um padrão de vítimas: idosos são os mais afetados por golpes de engenharia social e falsas centrais, enquanto jovens e adultos digitais estão mais expostos a clonagem de WhatsApp, fraudes em compras virtuais e até em jogos.
A especialista destaca medidas de prevenção, como sempre confirmar dados de beneficiários e empresas, criar senhas para boletos digitais e aplicativos, limitar o valor de transferências via Pix, evitar conexões de wi-fi público e usar apenas os endereços oficiais de bancos.
“Um boleto verdadeiro mostra banco e beneficiário corretos, além de valor e data que batem com a cobrança. Já o falso costuma ter números inconsistentes, beneficiário desconhecido e geralmente chega por meios duvidosos, como e-mail ou WhatsApp. O ideal é sempre gerar o boleto no site ou app oficial”, alerta Nathália.
Apesar de avanços na legislação, a especialista ressalta que ainda faltam recursos para proteção digital no Brasil. Na Baixada Santista, por exemplo, não há uma delegacia especializada em crimes cibernéticos, o que dificulta as investigações. Outro desafio é que muitos golpes são aplicados de fora do país, o que reduz as chances de responsabilização. Além disso, as ferramentas oferecidas pelos bancos ainda não são suficientemente eficazes para garantir o ressarcimento imediato das vítimas.
Em caso de golpe, a orientação é agir rapidamente: entrar em contato com o banco e solicitar o bloqueio cautelar da transação, que pode segurar o dinheiro por até 72 horas, tempo em que é feita a investigação. Também é possível acionar o Mecanismo Especial de Devolução. Em seguida, deve-se registrar boletim de ocorrência e guardar todas as provas, como mensagens, e-mails e comprovantes. Se a transferência foi feita para uma conta de alguém conhecido que teve o celular ou perfil invadido, é importante avisar essa pessoa imediatamente.
Por fim, a recomendação é acompanhar a movimentação da conta bancária, trocar senhas e ativar a autenticação em duas etapas. Quanto mais rápida for a reação da vítima, maiores são as chances de recuperar o dinheiro e evitar novos prejuízos.