Ginecologista é condenado a pagar indenização à vítima por abuso sexual

Por SARAH VIEIRA em 10/11/2023 às 16:28

Crédito: Freepik
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O ginecologista Marcelo Moura Guedes, indiciado por abuso sexual em 2021, foi condenado a pagar R$ 25 mil à vítima como indenização por danos morais. A sentença foi definida pela juíza Lívia Maria de Oliveira Costa, da 5ª Vara Cível do Foro da Comarca de Santos. A defesa da vítima, uma psicóloga de 40 anos, solicitou indenização por danos materiais também, porém a juíza não aceitou o pedido. Na época do crime, o Ministério Público arquivou o processo criminal por falta de provas suficientes.

O processo criminal pode ser reaberto, caso haja mais denúncias de outras mulheres. “Acreditamos que mais mulheres, assim como minha cliente, conseguirão apoio de amigos, família e multidisciplinar (advogada, psicóloga, psiquiatra, enfim) para ter coragem e força para denunciar qualquer violência contra a mulher”, afirma a advogada Carol Valentino.

O abuso aconteceu no consultório do médico, a vítima, que era sua paciente há 12 anos, foi à uma consulta de entrega de exames e surpreendeu-se quando o médico pediu por um exame de toque, sendo que havia feito recentemente. Apesar de não entender a necessidade da repetição, a vítima acatou o pedido e preparou-se para o exame. Durante o ato, a psicóloga sentiu que estava diferente, porém, como confiava no ginecologista, não deu atenção.

O susto se deu quando notou que a barba do acusado estava encostando na sua vagina. “Eu não tive reação, fiquei paralisada, a sensação que tive era de que estava fora da cena assistindo tudo aquilo”, disse a psicóloga quando relatou todo o acontecimento. Ao Santa Portal, a vítima afirmou que, durante os 12 anos de consulta médica, jamais teria acontecido algum momento de intimidade que pudesse levar o réu a entender algum interesse.

A defesa da vítima afirma que, apesar da vitória, todo o processo ainda é muito doloroso para a psicóloga. “Estamos falando da vida de uma mulher que foi violentada por alguém que era de sua confiança, aproveitando-se da facilidade como ginecologista, da posição de poder e da vulnerabilidade da mulher (principalmente física, no que tange a estar nua, em uma posição desconfortável no exame) para praticar esses crimes”, afirma a defesa da vítima.

Entenda o caso

Durante aquele ano, a vítima estava tendo problemas intestinais e, por confiar no médico, marcou uma consulta. O médico a receitou um remédio para repor testosterona, e ao questioná-lo a relação que isso teria com seu problema intestinal, o réu afirmou que aumentaria a musculatura pélvica, o que melhoraria a situação, além de aumentar sua libido. Além disso, indicou alguns exames tradicionais para serem feitos, assim como consultar uma proctologista.

Após a consulta com o médico indicado e resultados prontos dos exames, a vítima retornou ao consultório. Com o objetivo de apenas entregar os resultados laboratoriais, a psicóloga ficou surpresa quando o médico pediu que fosse feito outro exame de toque naquela consulta.

“Eu estava suja, tinha acabado de sair da academia, não fui preparada e falei isso à ele, a única coisa que ele me respondeu foi que este exame era de praxe”, confiante em seu médico, a vítima se arrumou, deitou na maca e foi quando o abuso começou.

No começo, assustada com a situação, a psicóloga não teve reação e só conseguiu sair quando pediu, por algumas vezes, que o abusador parasse e a deixasse sair.

“Quando pedi para sair, ele pegou nas minhas mãos, pediu desculpas e disse que eu não precisaria pagar mais nenhuma consulta e todo atestado que eu precisasse, ele faria. Antes de eu sair da sala, ainda perguntou se eu voltaria”, lembrou a vítima.

Quando saiu do consultório, se questionando como encararia as pessoas que estariam na sala de espera, deparou-se com o consultório vazio. Sua ficha caiu do que tinha acontecido, quando relatou o ocorrido à uma amiga próxima.

Outras vítimas

Após o relato da psicóloga, outras vítimas começaram a ter coragem de expor os abusos que também sofreram pelas mãos do ginecologista. Uma delas também conversou com o Santa Portal.

Empresária de um salão de beleza da cidade, a vítima já se consultava com o médico há cerca de seis anos. Coincidência ou não, a empresária também fazia tratamento com testosterona sob indicação do réu. Como também fazia tratamento com Roacutan, em uma determinada consulta, o médico solicitou um exame de toque para analisar as partes renais da mulher a fim de detectar algo.

Durante o exame, a vítima não se sentiu à vontade com o toque do médico. “Aquilo não parecia certo, o jeito que ele começou a tocar as minhas costas estava diferente”, afirmou a vítima. Por conta da confiança, a empresária acreditou que poderia estar imaginando aquilo e não deu atenção ao sentimento. Ao final, o médico solicitou os exames tradicionais ginecológicos e encerrou a consulta.

Naquele dia, a vítima já não queria mais retornar ao consultório, pois sentiu-se constrangida com toda a situação. Ao retornar de uma viagem com um pequeno desconforto vaginal, a empresária, que já estava com a consulta marcada, decidiu retornar ao médico e levou o resultado dos exames. Antes de encerrar a consulta, o ginecologista pediu que o exame de toque fosse feito, aquilo assustou a vítima pois havia feito uma ultrassom vaginal recentemente. Confiando no profissionalismo do médico, a empresária se preparou para o exame e deitou na maca.

Conforme relatado ao Santa Portal, a mesma sensação que teve na consulta anterior, retornou nesta consulta, o toque do médico estava diferente, não estava como das outras vezes e aquilo a estranhou. O alerta acendeu quando o médico perguntou sobre o Roacutan e pediu novamente para sentir sua parte renal. O toque aconteceu da mesma forma e naquele momento, a vítima entendeu que estava sendo abusada. Porém, sem conseguir dizer nada, levantou-se da maca e saiu da sala sem dizer nada ao médico.

Ao sair do consultório, a empresária relatou o fato a uma cliente do seu estabelecimento que pertence à mesma profissão. Sem nomear o médico, ao final do relato, a profissional afirmou que a conduta do réu não tinha sido adequada ou comum para uma consulta ginecológica e que a vítima tinha sido abusada.

Com vergonha, a empresária não quis denunciar ou falar sobre o caso, mas ao ler o relato da outra vítima, sentiu-se segura para procurar por justiça. A vítima registrou um Boletim de Ocorrência Online e relatou o fato à equipe do Santa Portal.

Defesa do ginecologista

Os advogados de defesa criminal do ginecologista afirmam que o réu é inocente e que a vítima que o denunciou insinuava-se para ele durante a consulta.

“A defesa técnica do Dr. Marcelo Moura Guedes afirma que a Polícia Civil investigou amplamente os fatos e, após seu relatório final, a pedido do Ministério Público, o inquérito policial foi arquivado. Portanto, a alegação supostamente criminosa não existiu”, relatou ao Santa Portal.

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