Derrite lamenta morte de mãe de 6 filhos em Santos e fala em reforçar treinamento da PM

Por Túlio Kruse/Folha Press e Santa Portal em 05/04/2024 às 21:00

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O secretário de Segurança do Estado de São Paulo, Guilherme Derrite, lamentou nesta sexta-feira (5) a morte de Edneia Fernandes Silva, de 32 anos, mãe de seis filhos que morreu em Santos, em uma ação policial da Operação Verão.

Foi a primeira vez que o secretário comentou publicamente a morte de Edneia, que aconteceu no último dia 27, em Santos. Ela foi uma das últimas vítimas da Operação Verão da PM, que deixou 56 mortos e foi encerrada na segunda (1º).

Na terça (2), o secretário afirmou que não sabia que o saldo oficial de mortes da operação tinha chegado a esse total. Nesta sexta, ele voltou a afirmar que a operação cumpriu seus objetivos de “asfixiar financeiramente o crime organizado” e não fez reparos ao alto índice de letalidade.

O Governo de SP não atribui a morte de Edneia à PM – apesar de testemunhas afirmarem que o único tiro teria partido dos policiais – e diz que ainda é necessário investigar o caso para ter certeza sobre a autoria do crime.

“Se o crime organizado não estivesse instalado da maneira como se instalou no litoral, eu tenho certeza que isso não teria acontecido. Mas de qualquer forma é lamentável, e a gente fica triste, deixo registrado nossos sentimentos”, disse Derrite.

O secretário também comentou a conduta de PMs que agrediram um jovem com golpes de cassetete e um cadeirante, com chutes, durante uma abordagem em Piracicaba, no interior paulista. Ele disse que os policiais descumpriram os protocolos operacionais da própria Polícia Militar durante a ação, mas também afirmou que seu afastamento das ruas não é um “castigo”, e sim uma fase de reforço do treinamento.

“Foi um erro, eles cometeram um erro. Aquilo não é o procedimento correto, mas a gente tem de entender o contexto geral”, afirmou o secretário. “[Os PMs envolvidos] estão afastados temporariamente das atividades operacionais? Sim. Mas para quê, como castigo? Não. Eles estão passando por 15 dias de treinamento intensivo sobre procedimentos operacionais, para que eles não mais cometam falha procedimental.”

As declarações de Derrite, que é cotado para a disputa de uma vaga ao Senado em 2026, representam uma mudança em relação a discursos recentes. Na terça (2), ele lembrou das mortes de três policiais no litoral e afirmou que “essa é a vida real, não o mundo utópico de ‘olha, teve número xis de mortes'”.

Ele disse que o caso de Piracicaba deve motivar uma rodada de treinamento de policiais militares no interior do estado. Essa rodada de treinamento para reforçar as regras de abordagem a suspeitos e de legislação.

“Vamos pegar policiais das tropas de elite, do Gate, da Rota, do Choque, e esses policias vão até as regiões metropolitanas do interior, começando por Piracicaba – e não é coincidência, é justamente para aproveitar esse fato em que houve uma falha procedimental do policial -, levá-los [ao interior] e vamos treinar a abordagem policial, vamos fazer um nivelamento de legislação policial para todos”, afirmou o secretário.

Integrantes de alguns desses batalhões especializados, como Rota e Choque, estão envolvidos justamente nos casos em que há denúncia de assassinato de pessoas desarmadas e tortura nas operações Escudo e Verão, na Baixada Santista, desde o ano passado. Dois PMs da Rota tornaram-se réus, sob acusação de terem tentado manipular as gravações de câmeras corporais e forjar provas.

Sobre esses casos, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) tem dito que “todas as ocorrências dessa natureza são rigorosamente investigadas pelas polícias Civil e Militar, com a supervisão das respectivas corregedorias e o acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário”.

Derrite foi questionado sobre uma declaração do ouvidor das polícias, Cláudio Aparecido da Silva, que enxerga uma situação de descontrole das tropas, mas não comentou diretamente a afirmação.

“Eu confio no treinamento e conheço”, ele respondeu. “Nossa formação é muito sólida, é a polícia militar do Brasil que tem a maior grade curricular de direitos humanos para sua formação.”

Gabinete em Santos

A terceira fase da ação, iniciada em 7 de fevereiro, foi deflagrada depois da morte de dois PMs que atuavam na Operação Verão. O soldado Samuel Wesley Cosmo, da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), foi atingido por um tiro no rosto durante uma operação no bairro Bom Retiro, e o cabo José Silveira Santos, do 2° Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), morreu ao ser baleado em uma ação no Jardim São Manoel, ambos em Santos.

Na época, a Secretaria da Segurança Pública transferiu temporariamente o gabinete da pasta para Santos, na sede do Comando de Policiamento do Interior (CPI-6). As ações estratégicas de enfrentamento ao crime organizado ganharam reforço no planejamento para capturar fugitivos da Justiça e coibir o tráfico de drogas, atacando a cadeia logística usada pelas organizações criminosas para transportar entorpecentes para países da Europa, Ásia e África.

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