Apoiadora do PT é agredida com fuzil e xingada por policial militar em São Vicente

Por Marcela Morone em 01/11/2022 às 16:00

Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal

A comerciante Hélida Duarte, de São Vicente, foi agredida por policiais militares na madrugada de segunda-feira (31), após deixar a comemoração de eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Praça da Independência, no Gonzaga, em Santos. De acordo com Hélida, ela foi agredida com um fuzil e mantida dentro do camburão da Polícia Militar por mais de três horas.

Hélida, que estava acompanhada de uma senhora idosa, voltava da comemoração dos eleitores de Lula por volta das 2h35 quando foi abordada por policiais, na Avenida Presidente Wilson, por estar com o licenciamento do carro vencido. A comerciante estava paramentada com adesivos do candidato e usava uma bandeira do Partido dos Trabalhadores amarrada na cintura. Segundo a comerciante, as agressões começaram quando um dos policiais viu os ornamentos.

“O Policial Militar apontou o fuzil pra minha cabeça e falou ‘sua petista vagabunda, de m*rda, vocês têm que morrer, só não atiro pra estourar seus miolos aqui porque a gente tá em plena [avenida] Presidente Wilson (sic)'”, relata. O agente pressionou o fuzil na barriga da comerciante e deu uma coronhada em sua cabeça.

Um outro agente, então, “jogou” a comerciante dentro do camburão, veículo onde foi conduzida até o 1º DP de São Vicente. Quando chegaram, um dos policiais arrancou o celular da mão de Hélida (veja no vídeo mais abaixo) e a comerciante conta que ficou incomunicável e sem acesso a advogados até às 6 horas.

Momento em que o policial arranca o celular da mão de Hélida

Além disso, Hélida foi obrigada a fazer as necessidades dentro da viatura, pois os policiais militares não permitiram que ela fosse ao banheiro. A comerciante foi mantida dentro do veículo até as 3h.

“Pedi pra vários policiais. Eu escutava tipo ‘a senhora tem problema de bexiga? Por que você não pode aguentar? Aguenta mais um pouquinho’ e não deixaram. Aí passou o policial que me agrediu e falou assim ‘petista tem que mijar e tem que ficar sentada em cima do próprio mijo. Aproveita que você tá sentada em cima da bandeira do PT e mija (sic)'”, relata Hélida.

O advogado que representa a comerciante, Rui Elizeu, conta que a versão do boletim de ocorrência, que só foi lavrado às 9h20, não condiz com a realidade. De acordo com Elizeu, a versão emitida pela polícia consta que Hélida foi mantida dentro do camburão em via pública pois o acesso da viatura ao prédio não foi permitido. “Isso não acontece. Isso é totalmente fora da normalidade. Posso dizer que isso é uma mentira. Ainda que a delegacia estivesse lotada de gente, o que não era o caso, ainda que tivesse qualquer outro motivo, o normal é a Polícia Militar chegar e apresentar as partes à autoridade policial”, explica.

Além disso, segundo Elizeu, a vítima não teve acesso ao boletim de ocorrência e a idosa que a acompanhava não foi colocada como testemunha no documento.

O advogado também aponta que o confinamento de Hélida na viatura por mais de três horas configura crime de tortura. “A principal bronca dos policiais militares é o fato de que ela estava vindo de uma comemoração de um candidato do PT e estar paramentada com broches do PT. Uma mulher sem nenhuma possibilidade de se defender contra policiais armados. Apontaram, a cutucaram de uma forma violenta com o fuzil”, explica.

Hélida realizou um exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal de Praia Grande (IML) nesta segunda-feira (31), que atestou as lesões corporais do lado esquerdo do corpo da comerciante, da cabeça até a canela.

“Nós estamos entrando com uma representação criminal no Ministério Público colocando essa notícia de fato perante ao promotor criminal de São Vicente, pedindo as providências criminais cabíveis pelo crime de tortura e abuso de autoridade”, diz Rui Elizeu.

O que diz a Secretaria de Segurança Pública

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) diz que Hélida foi detida por desacato e desobediência, por não ter obedecido a uma ordem de parada de policiais militares e fugido.

De acordo com a Secretaria, Hélida teria se recusado a fazer o teste do etilômetro e xingado os militares. A nota ainda diz que foram encontradas bebidas alcóolicas no carro.

O caso foi registrado como desobediência, lesão corporal, desacato e injúria pela Delegacia de São Vicente. A Polícia Civil investiga os fatos e a PM acompanha.

O Santa Portal entrou em contato com a Polícia Militar, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

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