Tanatopraxia, procedimento utilizado no corpo de Pelé, permite conservar feições naturais

Por Samuel Fernandes/Folha Press em 03/01/2023 às 06:00

Ettore Chiereguini/Agif/Folhapress
Ettore Chiereguini/Agif/Folhapress

Morto na última quarta (29) por falência de múltiplos órgãos em razão de um câncer de cólon, Pelé só teve seu velório nesta segunda (2). Para conservar o corpo do Rei por todos esses dias e fazer uma cerimônia com o caixão aberto, o método utilizado foi a tanatopraxia.

“É uma técnica que consiste na reparação e na conservação do corpo humano após a morte”, resume Nelson Pereira Neto, diretor estratégico do serviço funerário do Grupo Bom Pastor. O serviço fez uma parceria com o Memorial Necrópole Ecumênica, onde o corpo do craque será sepultado.

O procedimento não é uma novidade. A Rainha Elizabeth 2º, morta em outubro, teve a mesma técnica aplicada em seu corpo, assim como o papa Bento 16, que faleceu no último dia de 2022.

Neto conta que a tanatopraxia foi criada entre 1861 e 1865, durante a Guerra de Secessão que ocorreu nos EUA. O objetivo era transportar corpos de soldados mortos durante o conflito que ocorreu entre o Norte e o Sul do país. Com o tempo, o procedimento passou por aprimoramentos e se espalhou pelo mundo – no Brasil, data de 1993.

O método é pouco invasivo. Ele consiste na injeção de um líquido a base de formaldeído por meio de uma veia. “Esse líquido é um conservante da matéria orgânica”, explica Neto.

Um equipamento, que pode ser comparado a uma máquina de hemodiálise, é utilizado para que o líquido circule por todo o corpo. Depois disso, outro aparelho é adotado para fazer a aspiração de uma porção do líquido e também de uma parte do sangue -as frações que sobram continuam no corpo.

Com essa técnica, é possível retardar a decomposição da pessoa. O objetivo é que o indivíduo fique com uma expressão próxima ao sono.

A finalidade do procedimento também é que o difere do embalsamento. Neto explica que ambos têm conceitos parecidos, mas a tanatopraxia não exige a retirada de todos os órgãos da pessoa morta, algo que ocorre no embalsamento.

“O processo em si é de retardar o tempo de decomposição do corpo e não transformar em múmias”, diz.

Para chegar a um resultado parecido de como era com a pessoa viva, é preciso considerar fatores antes da intervenção. Peso, causa da morte e tempo em que se deseja que o corpo fique com uma feição comum são essenciais para chegar a um resultado positivo.

Por exemplo, indivíduos que morrem por causas violentas podem ter órgãos retirados para perícia. Em situações assim, a intervenção demora mais tempo, mesmo que ainda seja plenamente aplicável. “Todos os cadáveres podem passar pela tanatopraxia”, explica Neto, apontando que casos raros podem apresentar reações químicas às substâncias utilizadas no procedimento.

Outros casos são quando é preciso transportar o corpo para outros países. Nessas circunstâncias, uma quantidade maior do líquido conservante é injetada, já que o corpo precisa manter por um tempo mais longo as feições naturais.

“Foi um momento muito marcante”

Neto foi um dos profissionais que fez a tanatopraxia no próprio Pelé. Ele conta que, quando a informação da morte foi confirmada, uma equipe foi ao Hospital Albert Einstein, onde o Rei morreu. Eles realizaram o procedimento no corpo do craque e, depois disso, ele foi coberto com lençóis, acomodado numa cama e colocado em uma sala climatizada até ser transportado nesta segunda (2).

Além disso, o craque também passou pela necromaquiagem, técnica de maquiagem de cadáveres para trazer uma aparência ainda mais próxima de quando estava vivo. “É a última vez que amigos e parentes verão o ente querido, então é muito importante que, no último evento social da vida, se feche um ciclo com uma boa lembrança”, diz Neto.

Para ele, colaborar com a última aparição do Pelé foi muito gratificante, descrita como “um momento muito marcante” e “uma missão de cuidar de um Rei”. “Aquilo me trouxe uma honra. Poder servir ao Rei”, completa.

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