Mais de 230 mil pessoas visitam a Vila Belmiro para dar adeus a Pelé

Por Fábio Pescarini, Luciano Trindade e Klaus Richmond/Folhapress em 03/01/2023 às 10:17

Eduardo Knapp/Folhapress
Eduardo Knapp/Folhapress

Mais de 230 mil pessoas compareceram ao velório de Pelé, até a manhã desta terça-feira (3), no estádio da Vila Belmiro, em Santos. A informação é do clube praiano.

O Rei do futebol morreu no último dia 29, e o velório terminará às 10h desta terça. Após cortejo, o corpo será enterrado em cerimônia fechada no cemitério Memorial Necrópole Ecumênica.

Famílias inteiras aproveitaram a noite agradável em Santos, com 21ºC as 23h desta segunda para se despedir de Pelé. Neste horário, a fila tinha 2,3 km e cerca de 3 horas de espera, mais que o dobro da hora do almoço. A extensão foi medida pela reportagem.

A família do casal Fabrício e Giovana Reobol, que foi com os filhos Lucca, 14, e Sofia, 10, levou três horas para conseguir passar ao lado do corpo do Rei do futebol no gramado da Vila.

Eles iniciaram a caminhada na rua Carvalho de Mendonça, entre os canais 1 e 2, passando pela avenida Senador Pinheiro Machado, ruas Álvares Cabral, Pedro 1º, Guaianases, avenida Bernardino de Campos e rua Tiradentes, até chegar ao zigue-zague de quatro voltas em frente ao estádio.

“Somos torcedores e sócios do clube, estamos sempre no estádio”, afirmou o pai, que aos 47 anos nunca viu Pelé jogar, mas sabe da importância do ex-jogador para o clube e para a cidade de Santos, na qual são moradores.

Ao contrário da fila em sol escaldante durante o dia, com temperatura de 30ºC e pessoas de várias partes do Brasil e do mundo, a maioria à noite era de moradores da cidade. É o caso da família de Anderson Oliveira, 38, que chegou ao fim da fila na rua Carvalho de Mendonça às 22h50, sabendo que só voltariam para casa durante a madrugada.

“É pelo amor pelo Santos e pelo Pelé”, afirmou Oliveira, que fazia parte de um grupo de seis pessoas, entre elas duas meninas, de 10 e 16 anos.

Ao mesmo tempo que a fila tomava conta da calçada no Canal 1, uma multidão fazia o sentido oposto pelo asfalto entre os carros atrás do fim da fila.

O trânsito na movimentada Bernardino de Campos teve de ser interrompido por causa da grande circulação de pessoas. Na aglomeração havia muitos integrantes de torcida organizada com cantos de guerra, inclusive, contra o argentino Maradona, morto em 2020.

À tarde o público foi estimado em 27 mil pessoas. Mas policiais militares ouvidos informalmente pela reportagem na noite desta segunda calculam que mais de 50 mil passaram pela Vila Belmiro desde às 10h, quando o velório começou.

Entre famosos que aproveitaram o fim da noite e início da madrugada de terça (3) para se despedir de Pelé, estavam o cantor Supla, torcedor santista, e Marquinhos, guitarrista e vocalista da banda Charlie Brown Jr, que nasceu em Santos.

Após o encerramento do velório nesta terça (3), haverá um cortejo fúnebre, que sairá pelas ruas do município e pelo canal 6, onde mora a mãe de Pelé, dona Celeste.

Depois, seguirá para o cemitério vertical Memorial Necrópole Ecumênica, com previsão de chegada às 12h. O sepultamento deve ocorrer às 14h, reservado apenas para familiares.

Como estava a fila para o velório mais cedo nesta segunda (2)

O motorista Itacil Ferreira de Sales percorreu de carro pouco mais de oito horas de Lavras, no interior de Minas Gerais, para acompanhar o velório de Pelé, nesta segunda (2). Foram pouco mais de 445km percorridos.

“Ele jogou lá uma vez, sabe? Precisava vê-lo de novo, não dava para não vir. Foi uma partida de masters no ano 2000, pouca gente sabe”, disse.

Itacil era o último fã presente na fila para acompanhar o velório de Pelé quando foi procurado pela reportagem, por volta das 17h30. Ele estava posicionado na Avenida Pinheiro Machado, 551, bem em frente a uma escola de educação infantil no local.

Passados alguns segundos, outras três famílias chegaram atrás. Um minuto depois, já era considerável o número de pessoas assumindo os últimos lugares da fila para entrada do velório.

O tempo de espera para os que concluíram a missão de prestar uma última homenagem ao Rei do futebol ultrapassou três horas. Enquanto alguns desistiam, outros permaneciam na fila.

“E com cerveja passa rápido, viu”, brincou um dos presentes.

“Vou viajar de madrugada e tentarei voltar depois. Não fui na despedida dele do Santos, em 1974, e chorei depois. Agora também não sei se poderei”, relatou o engenheiro Ricardo Alonso Martello, 58.

A mesma opção seguida pela comerciante Marcela Martins, 48: “olhei a fila e não tem a menor condição. Vou tentar voltar de manhã”, afirmou.

Logo nas primeiras horas, fãs se aglomeravam em mais de um quilômetro de fila e, pelo menos, uma hora de espera para chegar a porta do estádio.

Na Vila Belmiro, ao passarem pelos portões 2 e 3, o percurso é estimado em menos de dez minutos. Fãs passam andam em fila indiana, sobre um tablado e monitorados por seguranças. Eles ficam distantes alguns metros da tenda onde está posicionado o caixão com o corpo do Rei do futebol, só acessado pela família e por convidados.

A reportagem demorou quase 20 minutos para percorrer do início ao fim da fila, seguindo o trajeto por diversas ruas locais. O velório ocorre desde às 10h (horário de Brasília) e permanecerá de forma ininterrupta durante a madrugada desta terça-feira (3).

“Fiquei exatos 40 minutos na fila com o meu filho, mas tinha um compromisso… tentei”, relatou o Nario Ornellas, 38, técnico ambiental.

“Vou voltar depois ainda com ele. Depois, ainda voltarei sozinho na madrugada para prestigiar o Rei. É a última vez, então vale”, completou.

O motoboy Lucas de Oliveira dos Santos, 33, aproveitou a folga desta segunda (2), colocou o filho Davi, 8, na garupa e saiu de Itanhaém, na Baixada Santista, para acompanhar o velório do ídolo Pelé, no estádio da Vila Belmiro, em Santos.

Fãs vão à vila se despedir de Pelé

Eles entraram na fila as 11h e a 1 km da entrada no gramado, percurso marcado pela reportagem às 13h50. Uma hora depois, não haviam percorrido todo o caminho até chegar no gramado da Vila, onde o corpo do Rei é velado desde as 10h. As pessoas têm segundos para olhar o caixão, pois a fila quilométrica não pode parar.

Pai e filho percorreram parte das ruas Dom Pedro 1º e Guararapes, a avenida Bernardino de Campos e a Tiradentes até entrar, enfim, nos quatro zigue-zagues em frente a Vila Belmiro. A reportagem fez o trajeto, caminhando sem parar, por 11 minutos.

“Mas vale a pena”, afirma o motoboy.

Lucas e Davi levaram 1h45 para ver Pelé. No estádio ficaram dois minutos, entre a entrada e a saída, nada que tenha abalado o pai. “Ele [o filho] vai lembrar disso sempre”, disse Lucas.

O sentimento é o mesmo de Davison Souza Santos, 50, que, com dois filhos e um sobrinho adolescentes e o irmão, Dercilio, encarou duas horas no sol, com temperatura de 29ºC e quase nenhuma sombra pelo caminho

Moradores em São Mateus, na zona leste de São Paulo, os cinco concordam que valeu a pena, tanto que os garotos “roubaram” tufos de grama para levar como recordação.

O também paulistano Luiz Carlos Rugue, que diz ter perdido as contas das vezes que viu Pelé jogar, se preparava para ir ao fim da fila de novo depois de duas horas de caminhada para ver o rosto do Rei, única parte exposta, e a dez metros de distância.

“É pouco por tudo que ele fez por nós”, disse.

Fila começou pequena já na madrugada

A fila cresceu muito durante a manhã. Por volta da 1h, o corredor cercado por grades, por onde passariam os torcedores, tinha cerca de dez pessoas. Entre elas estava o pintor Emílio Carmo, 58, morador na Casa Verde, zona norte de São Paulo.

Ainda criança, assistiu ao um jogo do Santos no antigo estádio Palestra Itália, na Pompéia, zona oeste. E nunca mais deixou de ser santista. “O Santos empatou em 1 a 1 com o Palmeiras, com gols de Pelé e Ademir da Guia, olha que privilégio eu tive”, afirmou o torcedor que chegou na fila por volta das 11h de domingo.

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