Em tempos de covid, engenheiro desenvolve aferidor de temperatura mais econômico

A motivação para criar o projeto veio do dia a dia na empresa em que trabalha. Estabeleceu-se a necessidade de aferir a temperatura por conta do coronavírus e como trabalha em um Terminal Alfandegado, as regulamentações são seguidas a risco.
“De imediato, foram contratados profissionais para fazer isso e usavam leitores manuais (pistolinha), o que gera custo alto para a empresa. Lá funciona 24 horas e passam mais de 2 mil pessoas por dia. Demorava e não estava sendo prático. Comecei a pesquisar equipamentos que fizessem esse trabalho, mas só tinha no exterior e não nos atenderia”, lembrou.
A saída foi buscar uma solução disponível no Brasil. No entanto, não foi possível seguir por estar fora do orçamento. Afinal, custava mais de R$ 5 mil a locação mensal por máquina. Então Jorge pensou consigo: por que não construir?
Com os conhecimentos técnicos adquiridos no curso, principalmente na disciplina de Engenharia Biomédica, ministrada pela professora Tatiane, e com auxílio do coordenador Luís Fernando Pompeo Ferrara, propôs o projeto.
O aparelho funciona com ajuda de um sensor de proximidade. Quando a pessoa chega, começa a fazer a medição. Aceita até 37,5 º e depois considera febre. Quando está acima, emite um bip e acende uma luz vermelha. É discreto para não expor, afinal a temperatura pode estar elevada por estar no sol ou exercícios físicos. Após alguns minutos, é feita a medicação novamente.
A ideia era desenvolver um sistema nacional de aferir temperatura, inclusivo, barato e integrado com o controle de acesso. Na prática, para que a pessoa acessasse o espaço, precisaria passar pelo ponto de verificação. “Em universidades, por exemplo, pode ser integrado com a catraca. Passaria a ser obrigatória a medição. Se a temperatura estiver adequada, o aluno pode entrar. Caso esteja febril, não”, explicou Jorge.
Na prática
O desenvolvimento ocorreu no meio de uma pandemia que vitimou mais 200 mil pessoas, incluindo o pai de Jorge. O luto foi sofrido, mas o fato foi usado como incentivo para a conclusão do verficador de temperatura corporal, visto que pode ajudar a alertar sobre a doença.
“Já tinha uma noção do que ia utilizar. Precisei mudar algumas coisas no meio do caminho, porque as peças não deram certo na prática. Precisei importar o sensor de temperatura e isso atrasou um pouco”, relatou.
O equipamento começou a ser desenvolvido em março e foi concluído oficialmente neste mês. O custo total foi de R$ 300, visto que algumas peças foram feitas pelo próprio Jorge.
O engenheiro conciliou o período delicado pela perda do pai, a mãe diagnosticada com coronavírus, além do trabalho e casamento, durante a construção do dispositivo. E nos momentos difíceis, contou com duas ajudas especiais: do coordenador e da esposa.
“Foi bem bacana ver o empenho dele no projeto. Essa preocupação de estar fazendo algo para ajudar no momento delicado que estamos passando é muito especial. Foi um prazer vê-lo desenvolvendo e testando. A cada funcionalidade, tive o prazer em fazer considerações”, contou a esposa Hingrid do Nascimento Araújo Rodrigues.
Para o coordenador, o perfil do ex-aluno foi determinante para o sucesso. “Desde o primeiro ano, Jorge se destacou em projetos acadêmicos. Então foi muito fácil de tocar na pandemia. Fizemos chamadas de vídeo e pude dar minhas contribuições”, disse Luís Fernando.
Comercialização
O Verificador Automatizado de Temperatura Corporal foi criado para baratear o custo e facilitar o dia a dia. Sendo assim, não será comercializado.
Todas as instruções para construção estão disponíveis para o público. Basta entrar em contato com o InovFabLab para saber mais informações.
A prática de não-comercialização, geralmente, é aplicada em projetos que envolvem a saúde e a acessibilidade. De acordo com o Coordenador da Unisanta, Luís Fernando, a maioria das criações envolve as demandas atuais, então pede para que seja de domínio público, com fácil execução e menor custo possível.
FOTO: Noelle Neves
InovFabLab
A avaliação do equipamento foi feita pelo professor da Unisanta e responsável pelo InovFabLab, Sérgio Schina. “O professor Luís Fernando me convidou. Avaliei o trabalho como excelente e pedi para deixar testando. Está aqui até hoje”, disse em entrevista ao #Santaportal .
Schina contou que realizou a comparação com a “pistolinha” e o resultado foi o mesmo, mas com muitas facilidades, como: agilidade, inclusão e menor custo. “Fiquei contente pela instalação. Contribuiu para utilização da comunidade acadêmica”.
O InovFabLab é um laboratório de fabricação digital da Universidade Santa Cecília, com foco na troca de conhecimento. Através do site de gerenciamento do laboratório, é possível visualizar todos os projetos já criados e ainda colocar o próprio projetos para exposição.
Perfil inovador
Jorge é inovador e tecnológico na vida. Está sempre arrumando algo para automatizar. Pelo menos, é isso que contou a esposa Hingrid.
E esse perfil foi refletido na faculdade. Afinal, participou ativamente e com destaque em, pelo menos, quatro projetos. Alguns tiveram mais reconhecimento, como o gerenciador de abastecimento de água adaptado para funcionar em industrias e medição de funcionalidade de pilha. “Alguns projetos, não consegui achar falhas”, fortaleceu Luís Fernando.
E a repercussão positiva ajudou na vida profissional. Apesar de ser mais reservado, as divulgações e congressos que participou chegaram na empresa que trabalha e recebeu elogios.