Países consideram oferecer US$ 200 bi para acordo de biodiversidade
Por Ana Carolina Amaral/Folhapress em 17/12/2022 às 09:45
Países desenvolvidos estão prontos para oferecer US$ 200 bilhões (cerca de R$ 1 trilhão) para financiar o novo marco global da biodiversidade, em negociação até o próximo dia 19 na COP15 da ONU. O anúncio pode ser feito neste final de semana, após a publicação do novo rascunho do acordo.
“Esse não é um número que saiu da nossa cabeça, como foi com os US$ 100 bilhões [prometidos] em Copenhague, mas sai do relatório Paulson: são os US$ 900 bilhões, menos os subsídios que nós queremos trabalhar coletivamente para redirecionar”, afirmou o ministro do Meio Ambiente do Canadá, Steven Guilbeault, durante uma reunião informal do grupo de países doadores à qual a reportagem teve acesso.
O encontro, fora da agenda oficial da COP15, reuniu na noite desta sexta-feira (16) representantes do bloco desenvolvido -entre os quais União Europeia, Austrália, Reino Unido e Japão. Os Estados Unidos não fazem parte da Convenção da Diversidade Biológica da ONU e não participam da COP.
Ainda há divergências entre os países sobre o momento do anúncio e também sobre a margem de negociação que deve ser calculada.
Alguns defenderam um anúncio menos robusto, outros preferem ver a proposta que sairá da presidência da COP15 e aguardar as reações, na expectativa de que os países se contentem com uma proposta financeira menos ambiciosa, poupando o anúncio dos US$ 200 bilhões.
Um dos representantes à mesa lembrou que o bloco rico é uma minoria: nós aqui somos 15, eles são 200, disse. O receio comunicado na fala é de que os países continuem a mostrar descontentamento diante da maior cartada do bloco rico, o que tornaria a situação irremediável. Por isso, alguns defenderam a alternativa de esperar até domingo para levar uma solução à mesa.
Para outros países, no entanto, a espera pode desperdiçar o tempo de negociação de outros itens do acordo. Uma negociadora do bloco enfatizou na reunião que gostaria de ver esse impasse resolvido de forma mais breve, deixando espaço para negociar outros itens.
Na madrugada da última quarta-feira (14), todos os países em desenvolvimento representados em uma sala de negociação sobre financiamento se levantaram e saíram, puxados pelo Brasil, em protesto contra a falta de compromisso dos países ricos com o financiamento do acordo de biodiversidade.
Durante a reunião, um dos representantes dos doadores afirmou que o Brasil, particularmente, tem uma postura chantagista com o bloco rico. O negociador também reclamou da possibilidade de anunciarem compromissos financeiros sem receber, como retribuição, metas mais ambiciosas.
“Conversei com todos os países, e todos, incluindo o Brasil, concordam com a meta 30X30”, respondeu Guilbeault. A meta 30X30 é o ponto mais popular do novo marco global. Ela estabelece que o mundo deve garantir a conservação de pelo menos um terço da biodiversidade até 2030.
Nas reuniões preparatórias para a COP, o Brasil questionava a meta global e sugeria que ela fosse implementada nacionalmente -de modo a obrigar cada país a conservar 30% dos seus territórios. A estratégia evitaria que boa parte da conta sobrasse para o território brasileiro, o mais biodiverso do mundo, que concentra de 15% a 20% da biodiversidade global. No entanto, o país passou a defender um texto mais genérico, sem citar a implementação global ou nacional.
Outro fantasma que ronda os países doadores é o da falta de credibilidade. Em 2009, durante a COP15 do Clima da ONU, em Copenhague, o bloco também buscou resolver o impasse das negociações climáticas com a promessa de financiamento de US$ 100 bilhões até 2020, mas o valor não foi alcançado até hoje.
De lá para cá, os países ricos têm dito que o objetivo deve ser alcançado com recursos de todas as fontes, incluindo fundos públicos e privados, de empresas e instituições filantrópicas.
Na reunião desta sexta, um dos negociadores sugeriu que o bloco faça um anúncio claro sobre qual parcela dos US$ 200 bilhões deverá ser bancada pelos Estados que estão anunciando o compromisso e, por outro lado, qual quantia eles esperam levantar de fundos privados para completar o valor prometido. A fala não repercutiu na sala.